Retratos de um Real Madrid campeão espanhol e finalista europeu

Campeão espanhol e finalista europeu. O que mudou no Real Madrid da última temporada para agora? As mudanças feitas por Carlo Ancelotti impactaram o time que hoje vive seu melhor momento nos últimos quatro anos.

É fato que o tempo perdido no retorno de Zidane iria fazer falta agora e ainda pode fazer daqui para a frente, mas Ancelotti tratou de diminuir essas chances consideravelmente. O treinador soube dominar o vestiário sem deixar o campo se abalar. A confiança no seu time titular era óbvia e clara, erros de rotação existiram e até pode-se dizer que dominaram o time nas questões físicas na reta final da Champions League. Mas até aí muito mais acertos do que erros, ainda que pontuais – como a eliminação na Copa do Rei, derrota para o Barcelona no Bernabéu e os confrontos contra PSG (Paris) e Chelsea (Bernabéu).

Carletto trouxe de volta a competitividade do Real Madrid em pouquíssimo tempo. No começo da temporada já era visível a evolução do time como equipe e de cada um dos jogadores. O principal ponto dessa evolução foi a adição de Vinícius Jr. em altíssimo nível, o que facilitou a vida do clube na temporada – o brasileiro tem tudo para terminar com números espetaculares em participações em gols e em outras estatísticas dominantes dentro de campo.

Faltam quatro jogos de liga e a final da Champions League, mas Vinícius já tem 18 gols e 19 assistências na atual temporada. (Reprodução/EFE/Peter Powell)

Seu ponto forte foi de fato a tática, algo que o time sentia falta na última temporada. O jogo vertical favorece completamente o elenco, que conta com jogadores dominantes no meio-campo e duas peças essenciais tecnicamente no ataque – Karim Benzema e Vinícius. O jogo cadenciado era o principal erro de Zidane e aqui Ancelotti conseguiu entender e mudar os padrões ofensivos táticos da equipe. Tornou o Real Madrid mais letal e com um melhor posicionamento a partir da retomada da posse. A pressão ainda não é das melhores, mas um fator importante foi as ligações já manjadas da temporada, mas ainda muito difíceis de se defender – o lado esquerdo com forte influência de um Toni Kroos construtor, Camavinga todo-campista e Mendy com bom apoio saindo da lateral para o meio e abrir espaço para Vinícius – e o lado direito com Modric organizador ofensivo, Valverde box-to-box e Rodrygo como um ponta de ligação.

Dentro desse domínio pelos lados do campo, é interessante afirmar que Fede Valverde não era uma grande opção de Ancelotti no começo da temporada. O uruguaio reconquistou sua vaga aos poucos – era quase um 12º jogador com Zidane —, e esse com certeza é um dos fatos mais importantes para momentos decisivos nessa segunda metade. Sem ele, provavelmente o Real Madrid não poderia chegar tão confortável nessa reta final de La Liga e muito menos sobreviveria na Champions League.

Outro ponto importante, e que acaba envolvendo mais jogadores, é a dinâmica no meio-campo. A rotação foi com certeza bem interpretada, mas de alguma forma faltou mais firmeza e confiança nas peças do banco. Camavinga começou como foguete, gol na estreia e determinante nos poucos minutos que jogou, mas depois perdeu espaço. Ceballos retornou de lesão e começou a ganhar minutos nas partidas já decididas, a partir de março teve maior minutagem e conseguiu demonstrar que merece uma chance e uma proposta por um novo contrato.

(Reprodução/EFE)

O trio ‘CMK’ é de fato histórico e envolve três jogadores absurdamente influentes e decisivos dentro dos 90 minutos, mas o descanso é fundamental para todos entregarem fisicamente a intensidade necessária para o jogo competitivo atual. Modric e Kroos potencializam a equipe de todas as formas, mas têm jogadores no banco para suprir a falta dos dois. Já Casemiro é um caso complicado. O brasileiro não tem um substituto de fato, nenhum jogador do elenco é capaz de fazer um primeiro volante como ele. Camavinga conseguiu cumprir nos momentos que foi necessário, mas ficou limitado em pontos que é mais determinante a frente da linha do meio de campo. Essa questão deixa cada vez mais claro que é necessária uma reposição no verão que faça a mesma função que o brasileiro.

O sistema ofensivo do Real Madrid do começo de 2018 até a metade de 2021 era completamente influenciado por Karim Benzema. Hoje não mudou tanto, mas o francês tem um companheiro à altura e isso facilita muitas coisas. O desmarque, o posicionamento para receber em vantagem e a facilidade em gerar espaços e lançar Vinícius neles para o brasileiro conduzir até dar a assistência – esse é um pequeno resumo do que foi a temporada dos dois atacantes. É jogada ensaiada e já manjada pelos adversários, mas que pouquíssimos conseguiram conter até aqui.

(Reprodução/Real Madrid)

Dificilmente os dois passam batido, e o motivo do clube ter toda a folga do mundo na tabela da La Liga é com certeza os dois. Mas até onde vai esse motivo? É claro que Benzema já vinha destoando do restante do time antes ao se destacar individualmente como o craque que é. Por outro lado, o coletivo sempre foi persuadido por suas movimentações e leituras, mas isso acontece desde que ele chegou lá em 2009. Um time bem estruturado muda muita coisa, e acaba potencializando os melhores jogadores para produzir com mais frequência e sem tanta responsabilidade. O fato que faz o time ser competitivo é o coletivo ser o ponto de equilíbrio, e não Karim sozinho ser o desequilíbrio.

O grande pesar dessa temporada, e o que faz essa responsabilidade por parte de Benzema (e Vinícius) ainda ser primordial para a vitória é a defesa, ou o sistema defensivo como um todo. É aí que entra a famosa discussão sobre o melhor jogador do time. Karim é com certeza o melhor jogador dessa equipe, até porque é o melhor do mundo e decide jogos semanalmente. Mas é interessante entender como a temporada de Courtois tem o mesmo nível do francês em questão de impacto e relevância. O goleiro belga foi determinante jogo a jogo no campeonato espanhol e em momentos críticos no mata-mata de Champions – ainda mais se pensarmos o declínio físico dos jogadores de defesa nos últimos três meses.

O início de temporada foi bom, Militão e Alaba mostraram química rapidamente, mas o peso de serem os dois únicos zagueiros confiáveis do elenco é algo muito ruim para 10 meses em atividade sem parar. Benzema é o melhor jogador da La Liga, o artilheiro isolado e o motivo do Real Madrid florescer, mas o que Courtois fez e faz na La Liga semanalmente é o que mascara o principalmente problema do Real Madrid atual: a defesa.

Defesa essa que quase viu o time eliminado nas oitavas, quartas e semi de Champions League. Apesar das falhas em gols adversários, o contraste de desempenhos incríveis em situações determinantes é o que chega mais perto de justificar toda a campanha europeia. Carvajal, Nacho e Mendy tiveram brilho em jogadas pontuais contra o Manchester City, por exemplo.

O fator mental é gigantesco e um dos pontos mais destacáveis dessa equipe hoje. A resiliência faz parte de cada um deles, principalmente daqueles que saem do banco de reserva e precisam entregar no mesmo nível dos titulares. Histórico trabalho feito por Carlo Ancelotti, que renasceu os mais velhos, fez ótimo trabalho de evolução com os mais jovens e entregou futebol de primeira qualidade dentro do nível competitivo que o clube exige. Por mais problemas que tenha tido durante a temporada, tudo é muito claro no trabalho e as escolhas do treinador são parte disso. A final da Champions será um (grande) detalhe a parte, e, quem sabe, para coroar a temporada e sua segunda passagem como treinador do Real Madrid.

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