Sassuolo: até onde pode chegar Scamacca?

A temporada do Sassuolo não empolga como em outras, mas o período do atacante faz sonhar

A temporada 2021–22 por parte do Sassuolo sob o comando de Alessio Dionisi não empolgou tanto na luta pelas copas europeias, como esteve nos últimos anos sob o comando de Roberto De Zerbi, em que era mais fixo na primeira parte da tabela. 

Mas individualmente, os nomes ofensivos continuam a se destacar. Mais uma vez, Berardi continua em uma boa temporada individual, Raspadori em situação semelhante, e outros nomes como Ahmed Junior Traoré estão à disposição, mas vamos falar do centroavante da equipe neroverdì.

Scamacca já é uma esperança há um certo tempo. Afinal de contas, nos últimos anos, sempre que falamos da irregularidade de Immobile na Azzurra, mais o fato de que nomes como Belotti, Kean e outros, não conseguem empolgar mais nem mesmo em seus clubes, que dirá na seleção. 

Isso não é diferente no sistema do Sassuolo. Scamacca é um garoto de esperanças no clube neroverdì. Scamacca foi para os dois dígitos pela primeira vez desde que era profissional e só é titular desde outubro passado, em Sassuolo, que detém seus direitos econômicos desde 2017.

O atacante começou na base da Roma, e deixou o setor juvenil giallorosso para ir pra Holanda, para o PSV, onde planejava estrear no time principal o mais rápido possível. Quando o atacante tinha 16 anos, ele tinha a fama de “atacante geladeira”, grande, com sua altura que hoje é de 1,95m, e “gordo” (seu peso hoje é de cerca de 85 kg), contra garotos “normais”.

Um dos momentos de caos acabou sendo fora de campo, com os problemas públicos de sua família: primeiro com o seu pai que havia quebrado carros no estacionamento de Trigoria após sair da Roma, ele ainda com o caso de seu avô, que foi preso após ameaçar um homem com uma faca.

Entre empréstimos na Série B, os primeiros passos tímidos na Série A e um agradável Copa do Mundo Sub-20 em que a Itália chegou às semifinais em 2019, Scamacca seguiu um caminho mais comum, ainda que fosse comparado a Ibrahimovic, e até contestado pelo peso de sua comparação.

A comparação nasce do estilo frio dos dois atacantes, e o estilo feroz em campo, mas as semelhanças entre os dois, porém, param por aqui, já que Scamacca ainda carece do dinamismo, elasticidade muscular e da capacidade de iniciar e terminar uma ação sem a necessidade de companheiros, assim como a imaginação, a genialidade, e o carisma de Ibra. 

Embora Scamacca deixe as comparações de lado, é uma demonstração de que o atacante passou a ser considerado um jogador confiável naquela que é sua segunda temporada na Serie A, com passagem anterior pelo Genoa na elite italiana.

Demorou um pouco para Dionisi confiar nele e encontrar uma maneira de fazê-lo jogar ao lado de Raspadori, tanto que primeiro jogo como titular no campeonato foi em 17 de outubro, contra o Genoa, em que marcou dois gols em 19 minutos, em sua lei do ex. 

O primeiro é um daqueles gols que poucos fariam, com controle de peito entrando na grande área, espremido entre dois zagueiros, e um chute inicial de muita qualidade. E o segundo é menos simples do que parece à primeira vista, empurrando a bola pro gol, chegando a área com poucos passos, no segundo poste, que Scamacca executa alongando o ritmo e acertando a bola com a parte de fora do pé.

Um sinal de sua qualidade e da força do ataque fluido do Sassuolo, é que no time de Dionisi, os 4 atacantes, com Berardi à direita, Traoré à esquerda, Scamacca e Raspadori ao centro, trocam frequentemente de posição e alternam-se nos movimentos em direção à bola e em profundidade e dão vida a transições rápidas de grande beleza e eficácia.

Um exemplo disso é o gol marcado por Scamacca na vitória por 2–0 sobre a Inter, em que a ação começa com sua movimentação em direção à bola, na lateral direita, para ajudar o time a sair da pressão nerazzurri. Pressionado por de Vrij, Scamacca espera que Barella e Perisic se aproximem dele e, quando parece não haver mais espaço, ele inventa uma caneta para servir um companheiro de equipe a poucos passos de distância. 

Depois, serão necessárias mais algumas jogadas excepcionais, com um belo controle de Raspadori e um drible de Maxime Lopez, para dar o impulso à ação que o leva a subir sozinho no lado oposto ao da defesa interista, permitindo que ele teste com calma no ângulo correto do gol, sem chances para Handanovic.https://footure.com.br/media/9d8aa87262a37051080391861153d8a0

Com 12 gols na temporada, Scamacca superou em muito as expectativas (8,4 gols esperados sem considerar os pênaltis: +3,6 de acordo com os dados do Statsbomb com o FBRef). Chutando em média de 3,6 vezes por jogo (é o quinto jogador a chutar mais no campeonato), e segundo dados apurados por L’Ultimo Uomo, os chutes tem distância média de 16,2 metros, na beira da área, muitas vezes optando por chutar de longe, de posições e com ângulos improváveis.

Às vezes, Scamacca parece chutar também porque é a solução mais fácil ao seu alcance, o que evita que ele carregue a bola, com a qual ainda não se sente confortável. Como se chutar ao gol fosse a opção mais válida quando nada mais vem à mente, quando parece não haver espaços ou companheiros livres, o que explica o efeito surpresa de alguns de seus chutes.

Em entrevista ao programa Inside Serie A, ele disse que não tem explicações racionais sobre sua maneira de chutar a bola, que depende de “alguém que colocou a mão na minha cabeça”, como algo divino. Ele também acrescentou que sempre foi “obcecado” por chutar a gol e que era “a única coisa que eu adorava fazer quando criança”.

Há 2 anos, o agente de Kulusevski disse ao The Athletic, que em um torneio de base em que o Malmo tinha perdido para a Roma, para justificar a escolha da equipe do atacante sueco, então em transferência para a Juve, lembrou que no ataque do time giallorosso daquele torneio havia “um jogador com o dobro do tamanho dos restantes”. Esse atacante era Scamacca. 

Atualmente ele passou a marcar contra as melhores defesas da liga e sua vantagem física, que o fez parecer desproporcional quando jovem, permaneceu intacta. Em meio a tudo isso, em recente entrevista, o atacante agradeceu ao treinador pela confiança e pelas indicações táticas.

Alguns, como Daniele Manusia, em texto publicado em L’Ultimo Uomo referência para esta coluna, acreditam que “no máximo será possível aumentar o ritmo e o volume de jogo”, mas ressaltam que “com essa técnica e essa força, Scamacca aprendeu a tocar a bola sem repetir as mesmas coisas, mantendo todas as possibilidades abertas, improvisando e seguindo suas próprias intuições”, completou. 

As apostas em Scamacca seguem válidas. Os 12 gols marcados até aqui comprovam que o atacante está cada vez mais potente na Serie A, mais a vontade e com margem de crescimento, mantendo-se no top 10 de artilheiros da liga. O céu é o limite para o atacante de 23 anos?

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