O último tango de Nacho Scocco?

Depois de acumular taças no River Plate, Scocco volta a sua casa para mais uma passagem pelo Newell's Old Boys. Cercado de interrogações, precisará provar que ainda é capaz de contribuir em bom nível dentro de campo.

90 partidas. 38 gols. Duas Copas Argentinas, uma Supercopa, uma Libertadores da América e uma Recopa Sul-Americana. Um currículo de respeito construído por Ignacio Scocco no River Plate, de onde se despediu após três vitoriosos anos. Já com 35 anos nas costas e o final da carreira se aproximando, subiu o Rio Paraná para retornar ao Newell’s Old Boys, clube que o revelou em 2004 e no qual é o 5º maior artilheiro da história.

Entretanto, conquistas não entram em campo e não decidem jogos. Pronto para iniciar a sua quarta passagem pela equipe de Rosario, Scocco leva consigo, além da expectativa de uma torcida apaixonada, algumas dúvidas sobre o quanto ainda pode render dentro das quatro linhas.

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No último ano, a parte física preocupou bastante. Em 2019, foram três lesões musculares que o fizeram perder uma parcela considerável das partidas disputadas pelos millonarios. Na mais grave delas, um problema na panturrilha o afastou dos gramados durante 5 meses, entre março e agosto. Desde lá, porém, conseguiu se manter saudável e à disposição de Marcelo Gallardo, embora tenha visto sua minutagem cair, abrindo espaço para Rafael Santos Borré, Matías Suárez e o jovem Julián Álvarez. Nos 9 jogos em que esteve em campo com o River na largada de 2020, em apenas um atuou por mais de 45 minutos.

Se a inquietação sobre o condicionamento de Scocco tem o seu fundamento, por outro lado, há motivos para a massa leprosa ter esperanças. Com a bola no pé, Nacho dá amostras de que segue sendo o atacante técnico e repleto de soluções que sempre demonstrou ser. Mesmo com participações reduzidas em seus meses finais no Monumental de Nuñez, continuou oferecendo lances de absoluto brilhantismo, que apenas jogadores dotados de recursos acima da média são capazes. O gol anotado contra o Central Córdoba, na vitória por 2 a 0 pela Superliga, exemplifica isto muito bem.

Mesmo sem velocidade ou explosão, ainda consegue superar os adversários em jogadas individuais. A habilidade inerente somada ao bom controle de bola e à antecipação dos movimentos da oposição lhe fornecem alguma vantagem na hora do um contra um, o que pode ser importante já pensando no modelo de jogo de Frank Kudelka com o Newell’s Old Boys.

Além disto, ao contrário do que se presume de um atleta que vê seu tempo de jogo diminuindo, a eficiência de Scocco não decaiu. Muito pelo contrário. Na temporada 2019/2020, mesmo com números totais bastante defasados em comparação às suas temporadas anteriores de River Plate, as médias em índices ofensivos foram as melhores dos seus últimos quatro anos.

Se quando desembarcou em Buenos Aires, na temporada 2016/2017, Nacho concretizou uma média de 0.54 gols a cada 90 minutos, despediu-se com uma marca de 0.7 gols a cada 90 minutos. Seu crescimento neste indicador é, entre outros fatores, um reflexo da melhora de seus gols esperados (xG), também na média por 90 minutos. Uma ascensão de 0.47 xG no seu primeiro ano para 0.61 xG antes do adeus. Melhor posicionamento, melhores situações para finalizar, chance maior de converter as oportunidades. Causa e consequência.

Fora o progresso nos números em finalizações e chances de gol, Scocco teve um considerável avanço na participação das jogadas e na construção de ocasiões de gol para seus companheiros. Em 2019/2020, o atacante foi mais procurado do que nunca dentro da grande área adversária. A média de toques nos últimos metros do campo teve um forte acréscimo frente aos anos anteriores, chegando a 4.02 intervenções por 90 minutos. Aumento, este, que coincide com o período após os problemas de lesão citados anteriormente e que pode indicar uma movimentação menor, aguardando mais a bola em zonas que lhe favoreçam.

Mais do que se colocar em boa situação para ameaçar a meta rival, Nacho contribuiu para o restante do time levar perigo. Na temporada passada, forneceu assistências para finalizações em um grau inédito. Sua média de passes que levaram a remates superou o número de 1 a cada 90 minutos, depois de uma queda vista em 2017/2018 e 2018/2019.

O próximo passo é acompanhar como será a adaptação do atacante no sistema tático de Kudelka. Se no River estava acostumado a atuar ao lado de outro atacante dentro de um 4-1-3-2, onde era o homem mais avançado na maior parte das oportunidades, no rojinegro irá se deparar com um 4-3-3 em que os pontas buscam a aproximação do corredor central.

Na reta final da última Superliga, Luís Leal e Maxi Rodríguez variavam jogo a jogo quem ocupava a posição do 9. Quando Luís Leal assumia o centro do ataque, permanecia por ali e contava com a chegada de Sebastián Palacios junto dele, enquanto Maxi Rodríguez deixava a beirada do campo para atuar como um armador atrás da dupla. Já quando Maxi Rodríguez iniciava centralizado, recuava e abria espaço para Leal e Palacios ocuparem as proximidades da área. Mecânicas diferentes, mas com o mesmo princípio.

O posicionamento do Newell’s a partir do 4-3-3 de Frank Kudelka, em partidas contra o Godoy Cruz (esq.) e Colón (dir.) pela Superliga. Na primeira, Maxi Rodríguez (11) iniciou no centro do ataque. Na segunda, Luís Leal (7) foi o homem de centro. Jogadores diferentes, movimentações variadas, mas posicionamento semelhante no desenho médio (via Wyscout)

Antes disto, Lucas Albertengo e Rodrigo Salinas eram os principais jogadores utilizados por Kudelka nesta posição. Porém, nenhum deles agradou a pleno durante os seus empréstimos, tanto que não houve o interesse do Newell’s em seguir com nenhum deles.

O acréscimo técnico que Sccoco leva ao Newell’s é inegável, mesmo estando próximo do fim de sua carreira. Ainda assim, independente da efetividade apresentada no último ano, fica o questionamento de como será o seu ingresso na equipe e se será capaz de manter o seu nível de rendimento. Contratar um atleta não é contratar simplesmente os seus números. O talento e as ferramentas seguem para o novo destino, mas as estatísticas não. É necessário oferecer um contexto que o potencialize e facilite sua aclimatação para repetir o que mostrou na capital argentina.

De resto, é a torcida rogar para que o clube não incorra no pensamento mágico do retorno de um ídolo que irá operar milagres. Frank Kudelka tem a capacidade de encontrar as respostas para isso. Que se cumpra.

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