Union Berlin: o muro vai cair
As armas e os conceitos de um dos clubes mais bem treinados da Europa, neste início de temporada
Union Berlin sempre foi um clube que chamou a atenção por atitudes fora de campo, sobretudo com sua torcida, como por exemplo, quando ajudaram a reformar o estádio num momento em que o clube atravessava uma crise financeira, ou a abri-lo durante o natal para a comunidade e arrecadar o dinheiro para instituições de caridade. É um clube popular, que cresceu sua torcida durante a divisão da Alemanha, período em que as arquibancadas do An der Alten Försterei eram vistas como um lugar de resistência, bem como um lugar onde não tinha a vigilância controladora da Stasi.
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Porém, nos últimos anos, vem chamando a atenção pelo que faz dentro de campo, conseguindo o sonhado acesso à Bundesliga na temporada 2018/19, via playoffs. No seu primeiro ano na elite do futebol alemão, era dado como um dos candidatos ao rebaixamento, mas acabou contrariando as expectativas e se manteve firme na 1° divisão, alcançando o 11° lugar.
Na temporada atual, novamente, foi apontado pelos matemáticos como um dos prováveis candidatos ao descenso, e, novamente, vem contrariando essas expectativas e hoje já ocupa o 6° lugar, o que lhe garantiria uma vaga para a UEFA Europa League, bem como a chance de disputar uma competição europeia, algo que não acontece desde a temporada 2001/02, quando chegou à 2° fase da Copa UEFA, precursora da UEL.
Urs Fischer, treinador da equipe do Union Berlin, é um técnico bastante promissor que vem fazendo mais um excelente trabalho após seu sucesso na Suiça, com o Basel. Gosta de dar bastante liberdade para seus jogadores, utilizando principalmente o 4231, e de ter os dois alas muito abertos e bem espetados, dando profundidade pelos lados, com os dois zagueiros mais os dois volantes na construção.
Normalmente, faz a saída curta em 3+1, porém, eventualmente, conta com o meia-armador baixando para buscar jogo e ajudar a sair da pressão, formando uma saída em 3+2. Os pontas sempre atuando por dentro, para que, quando o lateral, que está aberto, atrair o marcador rival, consiga criar esse espaço entre zagueiro-lateral adversário e facilitar a infiltração.
Porém, o treinador não faz questão de sair curto em todas as oportunidades, se aproveita bastante da boa estatura de seus atacantes para fazer lançamentos longos e ter essa vitória na 1° bola, para que possa estabelecer a equipe no campo rival ou apenas superar a pressão e já verticalizar o ataque.
Na bola parada, também se aproveita dessa boa estatura dos atletas, e conta com um bom repertório de jogadas que confundem os marcadores. Essa versatilidade no ataque acaba se convertendo em eficiência, não à toa, é o 2° melhor da liga com 22 gols marcados em 10 jogos e possui a 3º melhor média de acertos de chutes.
Defensivamente, também se mostra ser um time bem sólido, opta por uma abordagem bem agressiva ao portador da bola, não marca com as linhas tão altas e prefere recuperá-la no meio-campo ou na zona defensiva e atacar o espaço deixado com a velocidade dos atacantes, sobretudo Backer pela direita. Isso explica o porquê de ser a 4° equipe que mais faz tackles, a 3° que mais acerta tackles e a que mais faz tackles no campo defensivo. Utiliza uma marcação zonal com encaixes setorizados, o que é bom por sempre ter pressão na bola, porém, acaba cedendo muito espaço entre as linhas defensivas, e isso é um grande problema da equipe durante a temporada.
Outro problema é o jogo aéreo defensivo, o que é curioso, pois os zagueiros do elenco são muito bons nesse aspecto na fase ofensiva. A equipe já sofreu 6 gols de cabeça na competição, o que representa 43% dos gols tomados pela equipe no campeonato. Apesar desses problemas, a equipe tem bons números, é a que tem o 2° menor xGA (expectativa de gols tomados
Uma grande equipe também se faz de grandes jogadores e, isso, o Union tem. O principal expoente é Max Kruse, jogador que disputou no ano passado a Superliga turca pelo Fenerbahçe, chegou de graça essa temporada à equipe de Berlin e já soma 6 gols e 5 assistências em 10 jogos na Bundesliga. Jogando como um tradicional ponta de lança brasileiro, aquele famoso camisa 10 que atua atrás do atacante e que além de servir os companheiros criando oportunidades, aparece na área para finalizar. É o jogador que mais tem liberdade nesse sistema montado por Fischer, se movimenta pelo campo todo, oferece movimentos de apoio saindo da área, baixa para construir e também consegue baixar bolas longas, ajudando o ataque a se estabelecer no campo rival.
Outro grande destaque é o lateral-direito (e capitão) Christopher Trimmel, que está no clube desde a temporada 14/15 e é um dos jogadores com mais tempo de casa nesse elenco atual. Um jogador que bate muito bem na bola, sempre cria perigo com bons cruzamentos, seja com bola rolando ou na bola parada em escanteios e faltas laterais, não à toa já tem 4 assistências nessa Bundesliga. Não é um exímio defensor ou um jogador extremamente técnico, tem dificuldades para produzir em espaços reduzidos e marcar jogadores rápidos.
Também destaco o meio-campista Robert Andrich, que pode não ser um talento excepcional, ou alguém que tenha números impressionantes, porém, é quem move esse time do Union e faz essa “cola” entre defesa-ataque. Dono de um bom passe e uma ótima visão de jogo, também é muito inteligente lendo espaços e pisando na área (já marcou 3 gols nesta Bundesliga). Defendendo é muito bom desarmando, porém não tem boa leitura para fechar linhas de passe.
Para ficar de olho
Todo time tem algum jogador jovem em quem muito se aposta, no caso do Union esse jogador é Nico Schlotterbeck (99). Zagueiro, canhoto, tem uma qualidade no passe que impressiona, estatura excelente (1,91), boa troca de direção, consegue produzir carregando a bola mas também invertendo e lançando em profundidade. Possui excelente tempo de bola e impulsão, além de uma leitura para interceptar e fechar linhas de passe que é muito boa.
Sua maior deficiência é a postura corporal errada em alguns momentos, além da falta de concentração em outros lances, porém são fraquezas que caso corrigidas o tornariam um zagueiro de alto nível para a Bundesliga e potencial de seleção (até porque, já tem histórico na Mannschaft sub21). Seu passe pertence ao Friburg, está emprestado ao Union até o final da temporada. Acabou sofrendo uma lesão na 3º rodada que o fez sair do time, já se recuperou e a expectativa é que tenha mais oportunidades no decorrer da temporada, sobretudo, quando o técnico adota esquemas com 3 zagueiros.
É bom citar que o Union, por não disputar competições europeias nesta temporada, tem mais “vantagem” em relação a outros times do campeonato, pois isso lhe possibilita um maior tempo de recuperação entre um jogo e outro. Porém, a solidez que a equipe vem apresentando, com o nível individual de algumas peças e outras potencializadas pelo bom coletivo, fazem crer na possibilidade do clube ficar entre os 6 primeiros e garantir uma vaga nas competições europeias da temporada seguinte. O futuro na parte oriental de Berlin é promissor, vale a pena ficar de olho
Texto escrito antes do início da rodada 11
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