VALENTIM NO FOGÃO E A "PERGUNTA DO MILHÃO"
Por @RodrigoCout Um bom treinador é o que impõe suas ideias e modelo de jogo independente dos jogadores que dispõe, ou é aquele que se adapta às características de seus jogadores e a partir daí cria uma forma de jogar? A pergunta certamente já foi feita por muitos torcedores e estudiosos do futebol. Há respostas […]
Por @RodrigoCout
Um bom treinador é o que impõe suas ideias e modelo de jogo independente dos jogadores que dispõe, ou é aquele que se adapta às características de seus jogadores e a partir daí cria uma forma de jogar? A pergunta certamente já foi feita por muitos torcedores e estudiosos do futebol. Há respostas diferentes e que convergem nos dois sentidos. Talvez o questionamento seja um bom ponto de partida para analisarmos a chegada de Alberto Valentim ao Botafogo.
O ex-lateral de passagem frutífera pelo futebol italiano ganhou destaque como treinador no futebol brasileiro na reta final do campeonato nacional de 2017. Dirigiu o Palmeiras nos últimos 11 jogos e deu ao Palestra um rendimento mais condizente do que se esperava desde o início do ano. O pressionado Eduardo Baptista e, muito menos, o badalado Cuca não haviam conseguido.
Mesmo sendo um período muito curto, pouco menos de dois meses entre o jogo contra o Atlético/GO, o seu primeiro como técnico efetivado alviverde, e a última rodada do Brasileirão, impressionou como Alberto Valentim transformou radicalmente as ideias de Cuca, mesmo tendo sido auxiliar do campeão brasileiro de 2016.
Vale deixar claro também que não existe nenhum tipo de animosidade entre os dois. De acordo com o presidente do Botafogo, Nelson Muffarej, e com o próprio Valentim, o aval de Cuca foi determinante para que o Glorioso contratasse o comandante de apenas 42 anos.
Mas voltemos ao Palmeiras de Valentim. De uma equipe que tinha muita dificuldade na construção de jogadas e ataques mais bem elaborados contra defesas fechadas, e era extremamente dependente de espaços para contra-atacar, além da bola parada e dos laterais cobrados na área. O Verdão tornou-se um time que mantinha a agressividade dos tempos de Cuca, mas construía suas jogadas de forma mais organizada. Com aproximação, triangulações pelos lados, projeção em bloco e ocupação de espaço mais inteligente.
Na parte defensiva, ao invés das perseguições individuais adotadas por Cuca e os consequentes espaços deixados quando algum atleta perdia o duelo, o Palmeiras passou a marcar por zona, tendo como referência o espaço, não mais um adversário. O fato possibilitou compactação e o adiantamento da última linha de defesa para matar espaços entre os setores.
É bem verdade que o Porco levou alguns gols por justamente sofrer com os passes em profundidade, às costas da sua defesa, algo que ocorre quando se opta por jogar com a última linha mais adiantada e não se tem a devida pressão no adversário que retém a bola. Pudera! Foram 11 jogos! Menos de dois meses de treinamento sob estes conceitos. Perfeitamente natural que o time sofresse neste sentido. Principalmente levando em consideração o padrão anterior.
Valentim gosta da bola
Rotular um profissional muitas vezes pode ser prejudicial para quem avalia e também para o avaliado. Analisando o que Alberto Valentim produziu em sua carreira como treinador efetivo, porém, chegamos a conclusão que sua propensão maior é por montar equipes que se sintam mais à vontade com a bola.
Buscamos as estatísticas de todos os jogos dele como técnico efetivado. Os 11 do Palmeiras no segundo semestre passado e os 15 que fez comandando o Red Bull Brasil no Paulistão de 2017. E é impressionante constatar que em apenas quatro destes 26 jogos sua equipe terminou a partida com menos posse que o adversário.
Surge aí o centro da questão. Você mesmo já nos ouviu dissecar no ”TPI63” o Botafogo de Jair Ventura, que não conseguiu classificar a equipe para a Libertadores no último Brasileirão, mas fez um grande trabalho entre 2016 e 2017. Levou um clube com poucas aspirações financeiras e elenco limitado tecnicamente às quartas de final da maior competição continental. Inclusive dando muito trabalho ao Grêmio e quase o eliminando em Porto Alegre.
A forma de jogar daquele Botafogo de Jair vai totalmente de encontro ao que Valentim fez até aqui na sua curtíssima “carreira solo”. Mas será que isso é necessariamente um problema?
Pelo lado da torcida, não. Ventura, hoje no Santos, sofria muitos questionamentos dos alvinegros sobre a dificuldade que o time tinha de saber propor o jogo também, não se basear só na proposta reativa. Sabemos que num futebol brasileiro em crise de ideias ofensivas mais bem elaboradas e com 80% dos times da primeira divisão buscando “dar a bola ao adversário e jogar no erro do oponente”, uma hora ou outra será necessário tomar a iniciativa. E quando havia essa demanda, o Botafogo de Jair fraquejava.
Mas aí entra um questionamento muito comum: teria o Botafogo material humano para produzir uma equipe que tome a iniciativa do jogo e seja eficaz? Engana-se quem pensa que a resposta desta pergunta passa somente pela qualidade técnica. Pode ser muito mais um somatório de características de jogadores. E vai caber a Valentim saber mesclá-las. Como um cientista em seu laboratório buscando uma nova fórmula.
A resposta só vem com o tempo. Felipe Conceição provou tanto no discurso, quanto nas escolhas e em algumas incoerências que não estava preparado. Adotou a ideia de um Botafogo mais ofensivo, mas pecou na realização. Alberto Valentim já mostrou mais capacidade e é uma ótima aposta do Glorioso. Tem um grande desafio! Pode romper com uma ideia de futebol que deu muito certo recentemente e montar um time mais adequado ao que já fez na sua curta carreira, ou surpreender e mostrar uma nova faceta de trabalho. Será divertido acompanhar!
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