Zalewski: a descoberta de Mourinho que mudou a Roma

O jogador polonês foi uma descoberta para a ala em meio a irregularidade de Viña, e foi decisivo no caminho para as copas europeias

Nicola Zalewski, jogador de 20 anos, nasceu na vila de Poli, na região de Tivoli, na Itália, mas tem nacionalidade polonesa, por conta de seus pais, um casal de imigrantes da Polônia que se estabelecera na Itália. Vindo da base da Roma, estreou na temporada passada em uma emergência na semifinal diante do Manchester United, e depois agradou na vitória diante do Crotone na Serie A.

Mas a vida do jogador começaria a mudar com a chegada de José Mourinho ao cargo de comandante romanista, embora não de imediato. Mesmo com chances na pré-temporada, em que até marcou em amistoso diante da Triestina, não teve tantas chances na primeira fase da temporada, com alguns poucos minutos. Tudo até um jogo em fevereiro que mudaria sua carreira.

Quando ele entrou em campo contra o Verona no início do segundo tempo daquele dia 19 de fevereiro, parecia uma jogada desesperada sem futuro. Nicola Zalewski é um meio-campista ofensivo de origem, com experiências de ala e, Mourinho o colocou como quinto homem no meio-campo, para tentar recuperar um jogo que a Roma perdia. 

Depois de vinte e cinco minutos, Zalewski pega a bola e começa uma arrancada. Ele corre com a bola presa à sua direita do lado de fora dos pés e corre a uma velocidade impressionante e imprevisível. A bola parece presa a seus pés, e quando pouco antes da metade do caminho ele muda uma marcha para a frente novamente, Tameze, um dos meio-campistas mais atléticos da liga e revelações da liga, nem chega perto de alcançar o romanista, que conclui a jogada com um passe limpo para Veretout. 

Enquanto Zalewski corria ao longo da partida, só havia um problema: o resto do time giallorosso não acompanhava sua velocidade. Depois desse segundo tempo, no entanto, Mourinho o promoveu para a função, e a Roma adaptou seus esquemas de ataque na presença do jovem polonês, e se viu em um dos capítulos que vamos abordar a seguir. 

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Outro exemplo foi quando Zalewski pega a bola contra o Bodo/Glimt, na partida de volta das quartas da Conference League, e ali Roma sabia o que fazer. Zalewski corre controlando uma bola difícil e bizarra, que luta para ficar no chão, mas ainda consegue ser mais rápido que Koomson, o jogador mais rápido do Bodo/Glimt. 

No momento em que se levanta, Zalewski já ajeitou para o meio. Nesse ponto Zaniolo cortou na frente dele, atrás da defesa, e Zalewski lança com a precisão e o timing de alguém acostumado a pensar em jogadas ofensivas. Zaniolo, então, recebe e finaliza com muita classe pra ampliar o marcador.

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A presença de Zalewski se tornou imprescindível para o 3–5–2 de Mourinho, e mesmo seus erros acontecem por um detalhe: agora a Roma tem padrões ofensivos que giram em torno dele: além da inserção do meia-atacante atrás da defesa enquanto carrega a bola, também a mudança diagonal de jogo de Cristante. 

Sua entrada notime titular resolveu um problema na Roma, que na esquerda sofreu muito com a lesão de Spinazzola. O substituto comprado no verão, Viña, mostrou-se frágil na defesa e inofensivo no ataque. Zalewski acrescentou uma qualidade técnica e uma eletricidade nos primeiros passos que fizeram dessa equipa uma das mais produtivas da Roma. 

O time de Mourinho constrói o jogo preferencialmente à direita, onde estão Mancini e Karsdorp, e depois passa para o lado fraco atacado por Zalewski. Uma dinâmica que já existia no ano passado com Spinazzola. Ela dribla duas vezes mais que Viña e tem mais que o dobro de condução de bola, segundo o Statsbomb, em dados reproduzidos por L’Ultimo Uomo. 

A Roma é uma equipe que ataca direta e verticalmente, e os arranques de Zalewski representam uma novidade complicada para as defesas adversárias. É como se os giallorossi estivessem atacando com um homem a mais em seus contra-ataques. 

Mas as vantagens são generalizadas, e vão além dos destaques do jogo. Comparado a Viña, também oferece mais controle no movimento da bola. Se nos primeiros jogos jogou muitas bolas de primeira na vertical para os meias e avançados, ao longo do tempo ganhou confiança em jogar sob pressão, mostrando uma clareza maior na leitura de jogo. 

É bem verdade que muitas vezes, defensivamente, ainda mostra lados imaturos, protegidos pela defesa de três homens, ou não, como no caso do gol de Dumfries, na vitória de 3–1 interista sobre a Roma em San Siro, com quem sofreu naquele jogo. Por outro lado, mostrou um notável instinto na defesa do um contra um, e mostrou isso principalmente no Derby contra a Lazio contra Felipe Anderson. 

Há coisas a melhorar. Além do um contra um, vale ressaltar a fase de corridas sem bola (situações em que Spinazzola é confiável). Também vale dizer sobre as fragilidades físicas também podem ser vistas na fase ofensiva. Quando os espaços são apertados, e ele tem que jogar mais de costas para o gol, em contato com os zagueiros, ele sofre mais com o contato. Ele tem dificuldades com o corpo a corpo, embora seja natural para quem acabou de subir do Primavera.

A grande chave da próxima temporada será quando Spinazzola retornar. A impressão inicial, bem debatida pelo texto de Emmanuele Atturo para L’Ultimo Uomo que é referência para esta coluna, é que pode ter um futuro em níveis mais altos em áreas mais recuadas de campo, muito por conta de alguns problemas em certas funções ofensivas, como um chute que não é o ideal. 

Porém, vale destacar um trecho do texto de Atturo que explica como Zalewski pode ter vida longa no futebol:

No futebol contemporâneo, no entanto, temos vários exemplos de jogadores atacantes recuados com alguma sorte. Eles mudaram de função para mascarar seus limites ofensivos e, ao mesmo tempo, aprimorar suas qualidades técnicas. A sensibilidade do controle de bola em espaços apertados, por exemplo, ou a capacidade de jogar sob pressão, ou a inteligência das leituras de bola. Talvez o exemplo de nível mais alto seja o de Oleksandr Zinchenko, considerado um talento ofensivo geracional na Ucrânia, e que Guardiola transformou em um lateral extraordinário na complexidade de suas leituras ofensivas. Zalewski também poderia ser aproveitado como mezzala, especialmente se melhorasse na leitura e no manejo de duelos corpo a corpo. Ele deveria pensar mais como meio-campista, arriscando menos, mas é um papel em que ele ainda parece ter algumas margens, especialmente em uma equipe direta como a Roma de Mourinho. O lendário Boniek, que o trouxe para as seleções juvenis polonesas, também comentou que ele pode ter um futuro como “camisa 8”.

No fim das contas, Zalewski acabou sendo uma boa descoberta, por acaso, dos romanistas para a temporada, resolvendo um problema na força defensiva da ala esquerda, e também colaborando com a ofensividade da equipe giallorossa, na arrancada na temporada que culminou na chegada à decisão da primeira Conference League. 

Não foi por acaso, que, em entrevista coletiva, José Mourinho disse sobre o ala polonês, comparando-o com Gosens: “Há equipes como a Inter que compram Gosens e o colocam no banco, nós temos Zalewski e o construímos”, disse o Special One. 

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