Campeã da Europa e vice campeã mundial: precisamos falar da Holanda
Na sua segunda participação em Copas do Mundo, a Holanda foi vice-campeão; além de conquistar a Euro dois anos antes. Como a Seleção se tornou referência no futebol feminino?
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Quando falamos de futebol feminino, automaticamente pensamos na soberania dos Estados Unidos, nos grandes feitos de Marta, na rivalidade do Brasil com as australianas, na tradição da Alemanha e da Suécia, da surpreendente história do Japão na modalidade, mas não na Holanda, ou pelo menos não até 3 ou 4 anos atrás.
Apesar de ser a atual campeã da Europa e ter chegado a final da Copa do Mundo de 2019, o investimento na modalidade no país de uma das seleções mais carismáticas do mundo é recente, mas muito bem feito.
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Quando se pensa em tradição, ter sido campeã da Eurocopa – disputando contra seleções como a Suécia, França e Alemanha – foi uma grande zebra, mas não podemos dizer que não foi merecido. A final da copa do mundo de 2019 foi alcançada em sua segunda participação no torneio. A primeira vez havia sido em 2015, e acabou sendo eliminada nas oitavas para o finalista Japão, que defendia o título conquistado em 2011.
Como a Holanda passou de irrelevante no futebol feminino para uma das seleções protagonistas da modalidade?
Fazendo um paralelo com o futebol brasileiro, a resposta é simples: quando se tem pessoas que amam o esporte e tem experiência na área, funciona. A federação paulista de futebol é a mais forte do Brasil, e não é diferente com o futebol feminino, que tem a frente Aline Pellegrino – ex zagueira da seleção feminina, e que antes de fazer um grande trabalho na FPF – que vem gerando bons resultados – participou do projeto do Corinthians, que se transformou em um dos clubes referências da modalidade no Brasil.
A federação holandesa colocou na liderança do projeto que transformou o futebol feminino no país, vários ex-atletas de diversos esportes. Entre eles, os campeões olímpicos Minke Booij e Peter Blangé, responsáveis pela gerência do projeto e análise de desempenho e inovação, respectivamente.
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Esse processo começou em 2004, a partir de uma ação da federação que passou a permitir que jogadoras mulheres se inscrevessem nas competições sub-19 junto com os jogadores homens. Em 2007, muitas jogadoras atingiram os 19 anos e começaram a ficar sem ter onde jogar, foi quando surgiu a liga feminina holandesa – que acontece até hoje e nunca sofreu paralisação.
Em 2017, quando a seleção foi campeã da Euro, dois mil times já fomentavam essa geração que faria história. Hoje, quarto país no mundo com mais mulheres jogando futebol: 161.902, com sua maioria ainda na categoria de base.
Ou seja, além de ter grandes nomes na história que já se aposentaram como a zagueira Daphne Koster – que foi capitã da seleção por 10 anos e liderou o Ajax em busca da conquista de seu primeiro título na temporada 2016-17, Manon Melis – que se aposentou como maior goleadora da história da seleção holandesa até então com 55 gols – e a volante Anouk Hoogendijk, a seleção holandesa vive um grande momento com um time recheado de estrelas e sua base segue sendo fomentada para manter o nível nas próximas gerações.
As estrelas da geração holandesa
Com diversas jogadoras de alto nível, a Holanda ainda conta com atletas da elite do futebol. Atuando por Barcelona, Arsenal, Atlético de Madrid, Lyon e outras equipes dominantes no cenário dos clubes, hora de conhecer quem são as principais jogadoras.
Lieke Martens
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Lieke Martens, 27 anos, a jogadora de ouro do Barcelona. No ano em que venceu a Eurocopa, ganhou o prêmio individual de melhor jogadora da FIFA e acertou sua transferência para o time catalão. Para o portal The Players Tribune, a atacante falou sobre a transformação do futebol feminino no país, que hoje permite as meninas que sonhar em jogar ter como referência ela mesma, Miedema, Van de Donk, e não jogadores do futebol masculino como o Ronaldinho Gaúcho, que era uma referência para ela.
Pela Holanda: 113 jogos e 45 gols marcados
Na Euro 2017: 6 jogos com 3 gols, 1 assistência, 10 passes decisivos e 17 dribles completados.
Vivianne Miedema
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Vivianne Miedema, 23 anos, é um dos principais nomes da modalidade. Se tornou a jogadora mais jovem da liga holandesa, quando aos 15 anos foi artilheira da competição pelo Heerenveen, marcando 39 gols. Em 2014-15, foi campeã da Frauen Bundesliga, no primeiro título do Bayern de Munique na história da competição, e bi-campeã na temporada seguinte. Em 2017, se transferiu para o Arsenal, onde foi artilheira da liga nacional (WSL) com 22 gols na temporada 2018-19, sendo nomeada jogadora do ano pela PFA. Foi campeã da Eurocopa em 2017 e uma das nomeadas ao prêmio de melhor jogadora do mundo em 2019.
Pela Holanda: 87 jogos e 69 gols marcados (maior artilheira da história da sua seleção)
Na Euro 2017: 6 jogos com 4 gols, 18 passes decisivos e 13 dribles completados.
Daniëlle van de Donk
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Daniëlle van de Donk, 28 anos, é mais uma jogadora holandesa que defende o Arsenal. No clube inglês desde 2015, a meio campista venceu a Taça FA Feminina já na temporada de estreia, a Taça WSL FA e a FA WSL em 2018-19. Estava na corrida pelo titulo inglês da temporada atual, que acabou sendo encerrada devido a crise do COVID-19. Foi um dos grandes nomes da campanha do titulo da Eurocopa em 2017.
Pela Holanda: 104 jogos e 21 gols marcados;
Na Euro 2017: 6 jogos, 1 gol, 4 passes decisivos e 12 dribles completados.
Shanice van de Sanden
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Shanice van de Sanden, 27 anos, é jogadora do time mais badalado da atualidade do futebol feminino, o Lyon. Transferiu-se para o clube francês em 2017, ano em que foi campeã da Eurocopa, após duas temporadas defendendo o Liverpool. Neste mesmo ano, foi nomeada para o prêmio de jogadora do ano da UEFA. Pelo Lyon, foi campeã da primeira divisão francesa em todas as temporadas até a atualidade, venceu a copa da França em 2019 e foi duas vezes campeã da Champions League.
Pela Holanda: 78 jogos e 18 gols marcados;
Na Euro 2017: 6 jogos, 1 gol, 2 assistências, 25 passes decisivos e 12 dribles completados.
Sherida Spitse
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Sherida Spitse, 29 anos, capitã responsável por levantar a taça da Euro 2017, e por ter feito um belo gol de falta na final, ficou marcada não só por suas qualidades em campo e capacidade de liderança, mas por ter sido a primeira jogadora envolvida em uma transferência paga do futebol holandês, quando foi vendida do FC Twente para o norueguês LSPS Kvinner FK.
Pela Holanda: 178 jogos (jogadora que mais vezes defendeu sua seleção) e 40 gols marcados.
Na Euro 2017: 6 jogos, 3 gols, 1 assistência, 7 passes decisivos e 2 dribles completados.
Veenendaal
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Veenendaal, 30 anos, também conhecida como a melhor goleira do mundo de 2019. Após vencer três campeonatos holandeses, transferiu-se para o Arsenal em 2015. Em sua primeira temporada, venceu a Copa da WSL. No ano seguinte, conquistou a FA Women’s Cup, e na temporada 2017-18, foi campeã da copa da FA WSL novamente, mas dessa vez marcando gol na final contra o Manchester City. Após fazer uma grande copa do mundo em 2019, transferiu-se para o Atlético de Madrid, e recebeu naquele ano o prêmio de melhor goleira do mundo da FIFA.
Pela Holanda: 67 jogos
Na Euro 2017: 6 jogos, 4 clean sheets, 3 gols sofridos, 21 defesas e 6 defesas difíceis.
O comando técnico
Sarina Wiegman é a primeira mulher a treinar a Holanda. Ela assumiu o comando da seleção pela primeira vez como auxiliar interina após Roger Reijners deixar o cargo ao fim da copa do mundo de 2015. Arjan van der Laan chegou como técnico efetivo em outubro daquele ano, mas ter perdido a vaga para as Olimpíadas diante da Suécia por 1 gol e depois engatado uma série de derrotas para Bélgica, Alemanha e Inglaterra foi o suficiente para a demissão do treinador.
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Sarina assumiu efetivamente o cargo e teve a difícil missão de fazer uma Seleção que via se aposentar a maioria de suas principais jogadoras da geração anterior, tendo pouco tempo para preparar uma equipe cheia de jovens jogadoras em busca da difícil missão de disputar a Eurocopa em casa no ano seguinte.
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Vale destacar que após vencer a Eurocopa em 2017, a técnica da Holanda venceu o prêmio da FIFA de melhor treinadora do mundo.
A SELEÇÃO CAMPEÃO DA EUROCOPA 2017
Apesar de contar com nomes promissores e jogar em casa, a jovem seleção holandesa sabia que não era favorita a vencer a competição. Para a revista Supracitada, a treinadora declarou: “Estatisticamente falando, é muito pequena a chance de sermos campeãs. Mas vamos tentar”.
Com o investimento na modalidade que vinha se tornando febre no país, a fervorosa torcida holandesa que conhecemos a apoiar a seleção masculina pelas competições mundo à fora, esteve presente para as Leoas – inclusive, houve mudança na camisa para a seleção feminina, substituindo o leão holandês por uma leoa -, e empurraram as donas da casa para a sua primeira final em Eurocopa na história.
Holanda e Dinamarca se encontraram na decisão sonhando com o primeiro título de Eurocopa. O jogo foi a altura do que ele valia, um 4×2 muito disputado e com belíssimos gols.
A poderosa dupla de ataque dinamarquesa deu muito trabalho para as holandesas. Com a configuração de jogo das donas da casa que permitia muita liberdade das volantes em apoiar o ataque e exercer uma alta pressão nas adversárias, Harder e Nadim encontravam espaços para incomodar a defesa da Holanda. Foram delas os dois gols da Dinamarca.
A Holanda contava com muitos argumentos ofensivos. Spitse e Groenem muito bem a distribuir as jogadas e preencher os espaços no ataque, associando-se com Van de Donk – que possui muita qualidade para desenhar espaços e acionar as atacantes – ou lançando Martens e Van de Sanden pelas pontas. Martens a controlar muito bem a bola e dominar as adversárias a partir de sua condução e Van de Sanden com sua explosão e velocidade a gerar profundidade e criar situações de gols na linha de fundo. Miedema se aproveitou muito bem desse poderio criativo das leoas e marcou dois gols na partida – além de marcar em todos os jogos das fases eliminatórias da competição.
Em 2019, as leoas foram finalistas da Copa do Mundo deixando para trás seleções como o Japão, Italia e Suécia, mas perderam para a maior potência da modalidade, os Estados Unidos. Com algumas mudanças táticas, a seleção holandesa ainda não conseguiu repetir em 2020 as grandes atuações que a despontaram para o mundo, mas o cenário da modalidade no país e consequentemente da seleção é promissor.
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