Benjamin Kuscevic: o homem que falta a defesa de Sampaoli?

Com passagem pela base do Real Madrid, o zagueiro chileno Kuscevic chama atenção de Sampaoli para ser o zagueiro construtor na equipe

A função do zagueiro no futebol evoluiu exponencialmente nos últimos anos. Se antes eram vistos como destruidores, hoje são principalmente construtores. Os conceitos de superioridade numérica com a bola, que até então eram percebidos somente no ataque, hoje são levados a prática desde o tiro de meta.

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Alguns insistem em pensar nos zagueiros como o “último homem”, outros, mais otimistas, olham pela ótica do “ter a bola” e os veem como os primeiros. Esse certamente é o caso de Jorge Sampaoli, novo comandante do Atlético Mineiro, que com apenas uma partida (contra o Villa Nova, pelo Campeonato Mineiro) já dá as caras de sua filosofia em Belo Horizonte.

Obviamente, com uma mudança tão abrupta de comando na Cidade do Galo (tanto de Sampaoli quanto de Alexandre Mattos) começam-se a ventilar as possibilidades de contratação. De Roger Guedes a Mariano, um dos nomes cotados é o do zagueiro chileno Benjamin Kuscevic, da Universidad Católica. O nome do jovem de 23 anos surgiu a partir da contra-proposta proibitiva do Santos em oferta por Lucas Veríssimo. Mas afinal, quem é Kuscevic?

Kuscevic
Uma das peças-chave na Universidad Católica de Holan, quem é Kuscevic? (Foto: Divulgação)

Antes de entrarmos nas características do defensor cruzado, é importante entender o contexto em que a Universidad Católica e o Atlético/MG se encontram.

O Galo conta com apenas Réver, Igor Rabello e Gabriel como zagueiros em seu elenco e por mais que Sampa goste de trabalhar com um elenco reduzido, apenas três nomes poderia prejudicar a profundidade do elenco atleticano para a temporada. Apesar disso, o treinador chileno não busca qualquer nome no mercado: assim como exige que seu goleiro jogue com os pés, um preceito básico é que seus zagueiros construam.

Na estreia contra o Villa Nova, Rabello e Gabriel exerceram tal função e ao lado de Guga ou Allan iniciavam todas as jogadas atleticanas. O propósito de tudo isso é fazer com que o início da jogada seja qualificada desde o primeiro passe e gere mais oportunidades de criação do que com um chutão no tiro de meta.

Além disso, uma saída lavolpiana, como a que Sampaoli utiliza em suas equipes, permite atrair o ataque da equipe adversária sem perder a superioridade (3×2 contra equipes que atacam com 2 homens ou até 4×3, contando o goleiro contra equipes que atacam com 3). Dessa forma, é possível já quebrar uma primeira linha de pressão adversária e já com volantes/meias é possível percorrer o campo com menos adversários para se enfrentar.

Do outro lado do continente, quem comanda a Universidad Católica é o argentino Ariel Holan, aquele mesmo que bateu o Flamengo na final da Sul-Americana de 2017 treinando o Independiente. Foi ele também quem iniciou o trabalho de destaque do Defensa y Justicia que depois teria sequência com Beccacece. Holan bebe da mesma água que Sampaoli: do jogo de posição e suas vertentes.

Com los cruzados, portanto não é diferente. Assim, como o treinador chileno, Ariel assumiu a Católica nesse ano e sucede um trabalho bem menos criativo de Gustavo Quinteros. Os novos conceitos estão em início de trabalho no Chile, mas padrões já podem ser percebidos. O goleiro Dituro e os zagueiros Kuscevic e Huerta (ou Lanaro, ou Asta-Buruaga) são os primeiros criativos, mas ainda mais exigidos com lançamentos diagonais ou rupturas por condução, uma vez que os laterais e volantes já se encontram em zonas mais adiantadas do campo.

Quem é Benjamin Kuscevic?

O zagueiro de 23 anos não é o criativo que todos levantaram com lances e mais lances recortados no Twitter. Claro, está em etapa de adaptação a nova filosofia vista com Holan, mas se mostrou até o momento mais um zagueiro de suporte, com a bola, do que de fato um rompedor. Contra o América de Cali, pela Libertadores, por exemplo, assessorava Aued e Asta-Buruaga com passes curtos, para estes dois criarem com ruptura. Contra o Inter, era Lanaro quem era assessorado. Pelo Chileno, contra o O’Higgins, teve novamente a oportunidade de se mostrar, mas sem apoios sólidos (como o de um terceiro nome na defesa) foi estéril em criação.

Kuscevic dita o ritmo e quebra uma linha mais curta para um meia mais criador buscar novamente a inversão para Puch

Mas isso passa longe de ser um defeito. Kuscevic tem 23 anos e vinha de um legado mais conservador nas mãos de Quinteros, que nem o exigia sob essa virtude. Nessa ótica, Veríssimo (o nome que mais agrada a diretoria) também não possuía esse histórico criativo.

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Kuscevic ainda teve uma breve e tímida passada pela equipe de base do Real Madrid por empréstimo em 2014-15, mas acabou não se firmando e retornou a capital chilena. Buscando uma pouco mais sobre a passagem do zagueiro por terras madrilenhas é possível achar um mini-report dentro do site do clube:

“Central destro com excelente presença física. É um defesa muito rápido e que também possui uma boa movimentação com bola. Um futebolista completo e solidário no terreno de jogo quando tem de ajudar os companheiros. É destro mas também joga bem com o pé esquerdo.”

Nota do site oficial do Real Madrid sobre o zagueiro

Se com a bola no pé não é o criativo todo que se levantou no mercado, sem ela é extremamente preciso. Capitão em diversas oportunidades, el Patrón, coordena os movimentos defensivos de antecipação e interceptação exigidos por Holán em contra-pressão. Ao mesmo tempo, poderá entregar a Sampaoli a velocidade de recuperação defensiva que o Galo precisará nessa temporada quando em situações de ataque em bloco alto. São apenas 0.3 dribles sofridos por partida até o momento na temporada.

Kuscevic, recompõe com velocidade, supera com drible e sai jogando

Como comparado anteriormente com Lanaro e Asta-Buruaga no quesito criação, nesse momento faz sentido levantar que Kuscevic é o homem mais seguro na linha defensiva. Sem grandes quebras de linhas (como já se viu com Asta) e nem falhas de coordenação (como em Lanaro), ele é protagonista de Holan e quem possibilita o time jogar em um bloco mais alto de marcação.

Por cima ainda é bastante sólido. Jogando em uma equipe que marca individualmente em lances de escanteio, é geralmente o responsável por marcar o jogador mais perigoso da equipe adversária.

E faz sentido Kuscevic no Galo?

Bastante! Em um momento em que Lucas Veríssimo é altamente valorizado no mercado, principalmente quando é demandado no exterior e o real segue desvalorizado, Kuscevic é uma ótima alternativa. Não é um jogador pronto e muito menos adaptado ao nosso contexto, contudo possui ótima margem de crescimento, principalmente com a possibilidade de convocação para a o Chile de Rueda, já conhecido dos brasileiros.

No Atlético de Sampaoli é possível visualizar o zagueiro de 23 anos sempre como o último homem, tanto pela capacidade de recuperação e coordenação defensiva, quanto por funcionar melhor dando o passe lateral ao vertical, se comparado com Gabriel e Rabello.

Quando especulado fora da Católica no início do ano ventilou-se valores entre 1,5 e 2,5 milhões de dólares, ou seja, entre 8 e 13,5 milhões de reais na cotação atual.

O presidente Sette Câmara, antes do início da quarentena afirmou a Rádio 98FM com convicção que “vamos trazer um zagueiro com certeza, porque liberamos o Maidana”. Kuscevic é, além de uma oportunidade de valorização, uma oportunidade de mercado pensando nas ideias de Sampaoli.

Os próximos capítulos devem se desdobrar apenas com o retorno dos treinos e campeonatos.

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