A resposta de Lucien Favre

Depois dos problemas sofridos no início da temporada, a equipe de Lucien Favre se reencontra na temporada com o esquema 3-4-2-1

No final de outubro de 2019, comentamos os problemas que Lucien Favre estava enfrentando no seu segundo ano à frente do comando técnico no Borussia Dortmund. A irregularidade aurinegra se manteve durante o mês de novembro e depois da goleada sofrida para o Bayern München, do empate em casa com o lanterna do Campeonato Alemão (Paderborn) e da derrota para o Barcelona na Champions League, o Dortmund chegou ao seu pior momento em 2019/20. Os rumores da possível demissão de Favre surgiram pela segunda vez na temporada, algo normal tendo em vista que o BVB investiu mais de 125 milhões de euros na janela de verão e não apresentava o desempenho esperado. 

Tanto que o treinador suíço resolveu abrir mão do antigo 4-2-3-1 para corrigir os problemas coletivos da equipe. A troca para o 5-2-3/3-4-2-1 fez o Dortmund lidar melhor diante de pressões altas adversárias e ser mais efetivo nos períodos de ataque posicional, ademais de representar o giro na dinâmica do time em 19/20. Foi a partir daí que o Borussia reduziu a sangria defensiva, engatou uma série de bons resultados (venceu seus últimos quatro jogos) e se aproximou da ponta da tabela na Bundesliga – atualmente é o 3º colocado, quatro pontos atrás do líder Bayern. Como as estatísticas mostram, a mudança representou a evolução coletiva com e sem a bola do conjunto de Signal Iduna Park.

O BVB com o 5-2-3 / 3-4-2-1:

13 jogos: 10 vitórias, um empate e duas derrotas; 

43 gols marcados e 15 sofridos.

O BVB com o 4-2-3-1 / 4-1-4-1:

20 jogos: 9 vitórias, 6 empates e 5 derrotas; 

39 gols marcados e 25 sofridos.

A torrente ofensiva do 3-4-2-1 de Lucien Favre

A qualidade dos ataques do Dortmund evoluiu bastante nos últimos jogos com o atual 3-4-2-1. Os mecanismos ofensivos são marcados a partir da saída 3 + 2 (os zagueiros e meio-campistas) ao passo que os alas alternam entre posições abertas e por zonas interiores com os extremos, que possuem muita liberdade de movimentos dentro da tendência exterior do BVB. A proposta do time está baseada na verticalidade e na imposição de um ritmo altíssimo, algo que funciona principalmente quando o Dortmund está em vantagem no placar.

O 3-4-2-1 do Borussia Dortmund de Lucien Favre

O atual sistema visa juntar as principais peças individual para gerar sua “avalanche de futebol’’ repleta de combinações e tabelas rápidas para gerar o desequilíbrio na defesa adversária. Neste sentido, Hakimi Achraf, Raphaël Guerreiro, Julian Bradt, Jandon Sancho, Thorgan Hazard e Marco Reus (atualmente lesionado) são os jogadores que fazem do Borussia Dortmund um time que produz ocasiões de gol em espaços curtos de tempo, algo devidamente aproveitado pelo recém-contratado Erling Braut Haaland – nove anotações em sete partidas na Bundesliga.

O fenômeno norueguês de 19 anos já está impactando o ataque do Borussia, porque encaixa perfeitamente com as características de um campeonato tão intenso e de ritmo alto como o Alemão. Haaland registra incríveis 12 gols nas nove aparições que fez com a camisa aurinegra por todas as competições. Seu efeito imediato foi tamanho que ele foi eleito o jogador do mês de janeiro na Bundesliga após ter atuado por apenas 56 minutos. O ex-Salzburg impressiona o mundo com sua precisão nos remates e velocidade em transição para um jogador de 1,94m de altura.

A versatilidade de Julian Brandt

Entre os ajustes necessários no XI inicial para a adaptação do 3-4-2-3-1, a utilização de Julian Brandt no meio-campo foi a mais representativa das alterações. Atuando ao lado do belga Axel Witsel, o ex-jogador do Bayer Leverkusen é o centro-campista necessário para oferecer mais dinamismo e fluidez à circulação ofensiva aurinegra. Brandt – que deixou a BayArena atuando como interior sob comando de Peter Bosz – se tornou uma peça importante na saída de bola de uma equipe que dependia muito do zagueiro Mats Hummels na hora de bater linhas adversárias com passes verticais e ativar companheiros em campo contrário.

Mapa de calor de Julian Brandt na partida contra o Colônia. (Arte/Sofascore)

Julian Brandt melhorou a circulação com bola do Dortmund porque é tecnicamente superior aos demais da posição (além de ser o mais versátil e capaz de atuar em várias funções), trabalha bem em espaços reduzidos, foge de pressões com domínios orientados, oferece dinamismo em movimentos, distribui o esférico com mais critério/velocidade e se projeta traçando diagonais para produzir no último terço.

Ele também soma presença e giro entre linhas quando utilizado como atacante, chega com qualidade da segunda linha, conduz para acelerações e finaliza como poucos de fora área. Um dos elementos mais autosuficientes do elenco e que deve atuar mais avançado na partida de volta das oitavas da Champions diante o PSG, já que o jogo exigirá uma maior solidez defensiva (Emre Can) para proteger a faixa central contra as ações de Neymar.

Jadon Sancho na ausência de Marco Reus

Para completar, é necessário destacar o desempenho de Jadon Sancho em 2019/20, especialmente durante o mais recente período de ausência de Marco Reus por lesão. O jovem inglês de 19 anos já atingiu os dois dígitos de gols e assistências (pelo segundo ano seguido) com seus 17 tentos e 18 passes para anotação em 33 aparições.

Ele só não participou diretamente de gol (anotando ou assistindo) em apenas uma partidas das últimas 13 realizadas pela Bundesliga – sendo que já conta com sete jogos consecutivos marcando ou dando assistência. A leitura que se pode fazer daqui é que Sancho, apesar de muito novo, já está assimilando características de um verdadeiro líder técnico e assumindo o protagonismo no Borussia Dortmund durante a falta do seu capitão. 

As estatísticas são a representação máxima disto. O caso é que Jadon está concentrando o jogo a partir de seus toques na bola, seja aberto pelos costados ou quando pisando por zonas intermédias. Se já era um driblador nato e repleto de qualidade técnica para para gerar desequilíbrios nos metros finais, o camisa 7 agora tem o melhor entendimento do jogo propriamente dito e é uma clara evolução do atleta que parece destinado a ser a próxima grande estrela do futebol mundial.

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