O que podemos tirar da Data FIFA da Inglaterra?

Com a Euro se aproximando e apenas mais uma convocação até lá, o time começa a se consolidar. Mas Southgate ainda tem decisões importantes a tomar

O texto da semana passada tratou dos jogadores que teriam oportunidades valiosas pela Seleção da Inglaterra na Data FIFA. Agora, depois de três partidas e 100% de aproveitamento nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, volto para fazer um retrospecto e destacar o que podemos tirar de importante desses últimos dias. 


Sobretudo, é essencial ressaltar que Gareth Southgate promoveu uma mudança significativa: deixou a linha de cinco na defesa de lado e apostou em um 4-2-3-1 (que se transformava em 4-3-3 em alguns momentos), visivelmente elevando a performance coletiva e de certos atletas e setores específicos. A formação dá mais equilíbrio entre a contenção e a produção ofensiva e potencializa peças que vinham passando a sensação de estarem relativamente ‘travadas’.

A ver se a decisão perdurará até a Euro, marcada para junho e julho deste ano, mas ao que tudo indica sim. Sistemas como o 5-3-2, 5-4-1, 3-4-3 e afins costumam trazer algumas vantagens, mas no geral parecem ‘segurar’ demais a equipe e seriam de maior utilidade se escolhidos para situações e confrontos pontuais – e não como padrão. De qualquer forma, é crucial que o nível individual seja alto ou ao menos competitivo o suficiente para corresponder às expectativas de disputa pelo título.

(Foto: Reprodução/The Guardian)

No gol, Nick Pope finalmente teve a sua tão sonhada chance, sendo o titular em todas as rodadas, mas praticamente não trabalhou e foi um mero coadjuvante. Ele até foi bem quando exigido na distribuição com os pés – algo importante na estratégia adotada -, mas nada que o credencia com firmeza para ameaçar a vaga de Jordan Pickford. Mesmo que nas últimas temporadas o desempenho do goleiro do Burnley seja bem superior, o do Everton deve ser o número um quando retornar de lesão.

As laterais seguem apresentando incógnitas. São muitas opções, estilos diferentes e mudanças claras nas exigências se o treinador voltar a optar por usar alas. Pela direita, Kyle Walker parece estar despontando e seu perfil deixa os pontos fortes e fracos muito visíveis. Tem limitações técnicas se comparado aos concorrentes e não faz a construção fluir da mesma maneira que Reece James, Kieran Trippier e Alexander-Arnold, por exemplo, mas seu poder de recuperação, velocidade e eficiência nos duelos físicos são incomparáveis.

Do outro lado, Luke Shaw teve uma participação positiva diante da Albânia, entregando uma exibição completa e com uma ótima assistência sendo a cereja no bolo. Na esquerda, é o jogador mais completo e ainda pode assumir a posição, mas Ben Chilwell se mostrou preparado também e fechou a semana com um excelente jogo. A qualidade técnica e a movimentação inteligente ajudaram a quebrar as linhas do adversário e a marcação foi precisa. As coisas estão abertas.

Ao contrário da zaga, que parece firmada com a dupla formada por Harry Maguire e John Stones. Os rivais de Manchester estão demonstrando entrosamento (até na bola parada ofensiva, com gol do primeiro e assistência do segundo na quarta-feira) e vêm embalados pelas grandes campanhas que fazem por United e City, respectivamente. O posicionamento é bom, sabem a hora de agredir e são mais do que aptos na saída desde trás também, apesar da falha cometida contra a Polônia em lance isolado. 

Na frente deles, é difícil imaginar que Southgate se desfaça dos dois meias defensivos. Afinal de contas, servem de base para o restante do time se sentir confortável para atacar e marcar – e esse tipo de solidez é de grande valia em torneios curtos. Declan Rice manteve a excelente forma que trouxe do West Ham e é uma certeza, enquanto Kalvin Phillips deu bons sinais, mas a expectativa é pela recuperação de Jordan Henderson. A dupla pode ser implacável se tudo correr bem.

No ataque, dúvidas e mais dúvidas. Não por problemas, muito pelo contrário. O nível é tão alto que obrigatoriamente alguns grandes jogadores ficarão de fora, resta saber quais. Harry Kane é incontestável na referência, mas atrás dele são três vagas para, aparentemente, sete opções. Vamos por partes.

Raheem Sterling pode ser errático, inconsistente em suas ações e irritar até o torcedor mais paciente, mas sem dúvidas trata-se de um ponta de qualidade e tem características valiosas. A forma que ele vai pra cima com frequência, é uma ameaça no 1v1 e incomoda pela velocidade não pode ser menosprezada. Além de ser um dos experientes do grupo, mesmo com 26 anos. Então, há toda a chance de se manter na escalação.

Marcus Rashford possui alguns atributos parecidos, mas com ainda mais ‘potência’ e um repertório elevado. Além de ser esse perigo constante nas jogadas individuais e um terror para a marcação, finaliza bastante – de uma grande variedade de áreas e ângulos – e, em diversos momentos, é direto e firme em suas ações, dando muito trabalho para a defesa. É também mais completo, com um outro nível de visão e armação. 

O camisa 10 do Manchester United até foi convocado, mas voltou pra casa por não estar na condição física ideal e ficou de fora das partidas. Está em um patamar alto e pode tranquilamente jogar *com* Sterling, fazendo companhia do outro lado do campo (até em um revezamento da esquerda para a direita), mas essa é uma comparação que Southgate talvez considere. 

Quem parece estar assegurando a titularidade é Mason Mount, de ascensão considerável por clube e Seleção. Entregou ótimas performances e contribuiu como está acostumado a fazer no Chelsea: de todas as maneiras possíveis. É um ponto de referência para receber passes em zonas favoráveis – facilitando a progressão do jogo – articula com qualidade e tem uma inteligência acima da média. Fatores como intensidade, concentração, trabalho sem bola e energia também pesam – e muito – nessas disputas e, somando os fatores, ele tem tudo para ser um dos escolhidos. 

Phil Foden deixou impressões agradáveis e seu talento é nato. Sendo um atleta que pode ascender ao mais alto nível do futebol, certamente terá seus minutos – seja como titular, vindo do banco ou até como parte de um rodízio. É extremamente consciente na hora de armar o jogo, dribla com facilidade e promove tabelas em espaços curtos que ajudam a sair da pressão – diante de oponentes fechados, algo fundamental. 

Precisa melhorar um pouco a tomada de decisão na frente do gol – talvez esteja acostumado com a forma mais elaborada de finalizar as jogadas no City e no English Team a organização ofensiva é distinta -, mas só o fato de fazer tanto mais atrás e ainda pisar na área impressiona. Mostra dedicação e participa ativamente da pressão para recuperar a posse – um dos pontos fortes da equipe nessas partidas -, ganhando pontos com a comissão técnica. 

Deve travar uma dura batalha com os nomes citados acima e Jadon Sancho (especialmente) e Jack Grealish, que estavam no departamento médico. James Maddison também, mas imagina-se que ele apenas corre por fora nesse momento. Jesse Lingard foi bem quando jogou e quem sabe apareça nas próximas convocações, assim como Ollie Watkins (esse para a reserva de Kane). 

(Foto: Reprodução/Inglaterra)

Bukayo Saka, Harvey Barnes, Tammy Abraham, Danny Ings, Mason Greenwood podem pintar também, mas não tem espaço pra todo mundo. A briga vai ser forte e – teoricamente – quem ganha com isso é a Seleção da Inglaterra.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

André Andrade
AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL – Análise do futebol Brasileiro

AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Douglas Batista
Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

André Andrade
O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

Lucas Goulart
Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

André Andrade
Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Lucas Goulart
OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

André Andrade
PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

Douglas Batista
O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

Lucas Goulart
Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Douglas Batista
A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart
Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

André Andrade
As influências dos campos reduzidos na Copa América

As influências dos campos reduzidos na Copa América

Douglas Batista
FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024
André Andrade

FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

Douglas Batista