O Real Betis subiu de patamar na Espanha e se tornou vítima do próprio sucesso

A chegada nas competições europeias e a briga com a maiores equipes da Liga fizeram a pressão sobre o Betis aumentar e o clube precisa saber lidar com isso

Último colocado e rebaixado em 2014 – na famosa temporada da La Liga que terminou com o Atleti de Simeone campeão em cima de Barcelona e Real Madrid – o Real Betis passou por diversas fases na última década. A ótima campanha na segunda divisão rendeu o título e a arrancada necessária para retomar e construir uma nova história no mais alto escalão do futebol espanhol.

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Nas últimas temporadas, o clube vem elevando seu patamar diante da La Liga e seus adversários. Sempre com contratações pontuais, vem montando um grande elenco visando suas necessidades e competições a disputar. Entretanto muito se é cobrado em relação aos desempenhos dentro de campo e o baixo rendimento no campeonato espanhol com um elenco particularmente conceituado.

Era Setién e um novo escalão

Desde a era Setién no clube essas cobranças fazem parte do dia a dia do clube. Mas como isso tudo aconteceu?

Os ideais de Quique são muito claros, e foram fundamentais para a subida de patamar do clube. Envolvendo vertente do papel tático, valorizando individualmente cada um de seus jogadores e potencializando a cantera.

Quando o treinador chegou em maio de 2017, o clube vinha de uma briga na parte debaixo da tabela na temporada anterior. E a retomada que fez com a equipe do Las Palmas – tirou da zona de rebaixamento e os levou ao 11º lugar da La Liga – se repetiu no Benito Villamarín. Logo na sua primeira temporada conseguiu classificar a equipe para a Europa League.

O clube visto por muitos como apenas um rival do Sevilla mudou de patamar. Dessa forma o time conseguia investir e almejava ainda mais. Porém quando finalmente alcançou um estágio de disputa no segundo escalão do futebol espanhol, lidar com as cobranças e exigências do que o elenco permitia foi difícil. Viu equipes com elencos inferiores tecnicamente e ideais totalmente distintas do seu treinador se saírem melhor no mesmo cenário.

A campanha no campeonato espanhol era deprimente enquanto na UEL o time conseguiu terminar a fase de grupos sem uma única derrota. Por mais que a campanha tenha sido agradável, a eliminação na fase seguinte foi um terror. A equipe pecou no ataque e erros defensivos contra um time fisicamente forte e rápido tiraram a chance da equipe buscar uma classificação em casa.

A valorização da posse com pouca pressão foi o fator do desempenho ofensivo do Bétis não corresponder durante a fase final da era Setién. Muito se roda a bola, pouco se cria e com isso insuficientes chances de gol durante os 90 minutos. Como diziam “el Betis de Setién parece haberse olvidado de ganar.”.

LEIA MAIS: Quique Setién e uma nova era em Barcelona?

O desastre ofensivo em muitas partidas foi o fator principal para frustração em meio a ideia de um futebol ‘ofensivo’. O fato do ataque não pressionar o adversário só deixou o sistema defensivo ainda mais exposto – não marcava gols e deixava a impressão que a defesa falhava com certa frequência, mas a grande questão sempre foi o ataque não compensar em muitas situações.

Visando um elenco qualificado e, em grande parte das partidas, superiores tecnicamente em relação ao adversário, o time não conseguiu corresponder às expectativas impostas e a tudo que o clube investiu financeiramente durante o processo. A ideia de trocar o comando passava, também, por um Setién impaciente com a impaciência dos diretores e da torcida. Mas e o projeto?

Atual temporada e novas ideias

A renovação na equipe técnica foi feita e Rubi, treinador que vinha de um acesso com o Huesca e bons desempenhos no comando do Espanyol, foi o escolhido.

Em uma das melhores contratações da janela, envolvendo um custo-benefício absurdo, o Betis conseguiu trazer uma das maiores sensações do futebol francês. A quase ida de Fekir ao Liverpool adiou sua saída do Lyon, restando apenas um ano de contrato com a equipe francesa. Como o pós-Copa do Mundo do francês foi abaixo do esperado e as investidas do campeão europeu não passaram de um goleiro reserva, Fekir chegou a Espanha com o objetivo de elevar ainda mais o setor ofensivo da equipe.

A contratação de Fekir foi claramente uma resposta do projeto ambicioso que o Betis tem em mente e quer seguir nas próximas temporadas. Toda sua técnica misturada com um bom físico o faz ser dificilmente combativo com seu controle de bola. Apesar de ser canhoto, sabe usar bem sua perna direita e com isso seus passes, junto da sua visão e compostura, formam a verdadeira força ofensiva do elenco atual, em todos os sentidos.

Além do francês, a equipe conta com jogadores que se tornaram grandes estrelas dentro da equipe, como Canales, Emerson e Loren MoronBorja Iglesias decepcionou e o camisa 16 ganhou espaço desde o fim do ano passado. Ao lado de Fekir formam os principais responsáveis pelos gols da equipe. Loren é o artilheiro da equipe na temporada com nove gols, enquanto Fekir é o líder de assistências (6) e tem sete gols.

Desde que chegou, Canales reencontrou o seu futebol e toda a confiança que precisava. Seu papel tático é parte fundamental do setor ofensivo da equipe e o camisa 10 comanda todo o meio-campo. Sempre rodeando por fora da grande área é o principal arquiteto da equipe ao lado de Fekir.

Canales Real Betis
Na La Liga, Canales tem uma média de dois passes decisivos por partida.

A profundidade necessária para o sistema de Rubi funcionar chama a responsabilidade para o jogo do brasileiro Emerson. O lateral de 21 anos pertence ao Barcelona e retornará do empréstimo em 2021, mas já vai mostrando sua habilidade no jogo associativo que Rubi proporciona no ataque. Muito promissor e jogando em uma posição difícil de se encaixar desde jovem, é monitorado pelo próprio Barcelona e por outras grandes equipes do futebol europeu. Na atual temporada tem três gols e cinco assistências, um ótimo número para um lateral.

Mesmo com todas as vantagens, o fato do movimento entre os laterais e os interiores proporcionarem muito atributos ofensivos é descompensado quando o time perde a posse. O pós-perda da equipe preocupa pelo posicionamento de seus laterais no ataque, e a transição defensiva é um dos principais problemas para ser solucionado nessa temporada.

Mas e o projeto?

Essa concentração de talento faz com que as expectativas em relação ao desempenho sejam altas, não há tanta dúvida e não tem muito erro em cima disso. Mas em um projeto, como o Real Betis atual, é necessário paciência em lidar com essas questões. O fato de Setién ter chegado e logo na sua primeira temporada conseguir vaga para uma competição europeia durante esse processo tomou uma proporção maior do que a realidade da equipe na época, virando vítima do próprio sucesso.

Tudo aquilo que foi vivido anteriormente faz com que o famoso hype seja difícil de lidar no futebol contemporâneo. Apesar do trabalho coletivo de Rubi ser interessante, é difícil que a equipe e todo o elenco corresponda a todo as expectativas impostas sobre sempre. Ainda mais se tratando de um projeto com menos de três temporadas.

A La Liga volta no dia 11 de junho com o Dérbi da Andaluzia – Real Betis x Sevilla. Visando uma arrancada na tabela nessa fase final do campeonato, a equipe de Rubi precisa convencer para deixar bons frutos para o próximo ano e, quem sabe, brigar por uma vaga em competição europeia ainda nessa temporada.

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