A CHANCE DE GIROUD
Por Valter Júnior Jornalista, é editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre O corta-luz de Rivaldo para que Ronaldo marcasse o segundo gol do Brasil sobre a Alemanha, aos 34 minutos do segundo tempo da final da Copa de 2002, foi o último gol marcado por um atacante na partida mais importante do […]
Por Valter Júnior
Jornalista, é editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre
O corta-luz de Rivaldo para que Ronaldo marcasse o segundo gol do Brasil sobre a Alemanha, aos 34 minutos do segundo tempo da final da Copa de 2002, foi o último gol marcado por um atacante na partida mais importante do futebol. Doze minutos antes, quando o atacante brasileiro tinha aproveitado uma falha do goleiro Oliver Kahn para abrir o placar, ele havia encerrado um sequência de três finais sem gol de atacante.
Significa dizer que nas últimas 12,5 horas das partidas mais emblemáticas do planeta bola, todos os homens que foram treinados aos longos dos anos para marcar gol, que foram ensinados a farejar as oportunidades, que tiveram incutidos em suas cabeças durante toda sua vida que sua responsabilidade era decidir partidas de futebol das mais prosaicas às mais difíceis, somente Ronaldo logrou êxito. Um fenômeno. Fora os dois do brasileiro, os outros gols marcados nas últimas sete decisões saíram dos pés ou das cabeças de Brehme, Zidane, Petit, Materazzi, Iniesta e Götze.
Entre as Copas de 1962 e a de 1986, foram 18 gols marcados por atacantes. De Amarildo a Valdano, passando por Müller, Rossi e Kempes, entre outros.
Não foi por falta de qualidade que os gols de atacantes desapareceram. No período nomes como Klinsmann, Baggio, Romário, Henry e Messi estiveram na partida final da Copa do Mundo. Todos são jogadores que deixaram seus gols em diversas partidas decisivas, mas falharam na mais importante delas. Não é possível precisar as razões para que o problema. Algumas hipóteses podem ser levantadas.
Ficou mais difícil fabricar um gol. A média de gols na final da Copa caiu drasticamente. Entre 1990 e 2014 foram marcados dez gols, metade deles com os gênios Ronaldo (2) e Zidane (3). Uma média de 1,4 gol a cada partida. Se contarmos que quatro delas (94, 06, 10 e 14) foram para a prorrogação, a média é de um gol a cada 75 minutos. Somente no 1 a 1 entre Itália e França, as duas equipes marcaram gol.
Os marcadores em final de Copa do Mundo a partir de 1990:
1990 – Alemanha 1 x 0 Argentina: Brehme (lateral esquerdo)
1994 – Brasil 0 x 0 Itália
1998 – França 3 x 0 Brasil: Zidane (meia), duas vezes, e Petit (volante)
2002 – Brasil 2 x 0 Alemanha: Ronaldo (atacante)
2006 – Itália 1 x 1 França: Materrazzi (zagueiro) e Zidane (meia)
2010 – Espanha 1 x 0 Holanda: Iniesta (meia)
2014 – Alemanha 1 x 0 Argentina: Götze (meia)
*Desde 1986, Ronaldo foi o único atacante a marcar numa final de Copa do Mundo
As sete finais de Copas anteriores a de 1990 tiveram 31 gols, média de 4,4 gol por partida. Uma queda de quase 70% na quantidade de gols. Considerando que houve duas prorrogações (66 e 78) há um índice de um gol a cada 22,2 minutos. Em todos os jogos as duas finalistas foram às redes.
Mesmo que o Mundial da Rússia, com média de 2,60 gols por partida, tenha índice mais alto que os torneio de 86 e 74, fica claro que nas últimas décadas mais difícil marcar gols. Os espaços ficaram reduzidos. Os times não são necessariamente mais defensivos, mas mais agressivos na marcação e, em geral, mais compactos na defesa. Há menos espaços para pensar e finalizar.
A importância de uma final de Copa segue a mesma, mas a pressão sobre os jogadores é maior. São mais olhos vigiando cada movimento. Financeiramente, tudo que envolve aqueles 90 minutos se multiplicou de maneira quase imensurável nas últimas décadas. Quando vale o gol do título hoje em dia?
O número de atacantes em campo diminuiu com o passar do tempo. Os esquemas táticos foram pensando cada vez mais na defesa. Ao vencer a Copa 1962, Aymoré Moreyra escalou quatro atacantes (Zagallo, Amarildo, Vavá e Garrincha). A Tchecoslováquia tinha três homens de frente. Na Copa de 94 foram dois atacantes de cada lado. Em 2006, a campeã Itália tinha somente Luca Toni como atacante de ofício. No domingo, a Croácia deverá ter Mandžukić e Rebic como atacantes. Pelo lado francês serão três atacantes: Griezmann, Mbappé e Giroud.
Imagine, o centroavante que passou a Copa toda em branco pode quebrar uma barreira só superada por Ronaldo. Giroud tem a chance de sua vida e ao seu lado tem as ironias do futebol.
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