A passagem relâmpago de Beccacece por Avellaneda

Mesmo com o ótimo retrospecto no Defensa y Justicia, o ex-auxiliar de Sampaoli não conseguiu se sustentar no Independiente

Não durou cinco meses uma das principais histórias a serem acompanhadas na temporada do futebol argentino. Nesta última semana, Sebastián Beccacece deixou o cargo de treinador do Independiente à disposição depois da eliminação para o Lanús na Copa Argentina.

Contratado com o cartaz da boa campanha na Superliga passada, levando o modesto Defensa y Justicia ao vice-campeonato, o técnico de 38 anos chegou ainda chancelado por ser o substituto de Ariel Holán justamente no trabalho em Varela. Após sucedê-lo no Halcón, se apresentaria em Avellaneda para outra vez dar sequência ao trabalho do comandante da conquista da Sul-Americana em 2017. Porém, toda a expectativa logo se tornou decepção, e não apenas por conta da queda diante dos granates.

Nas 16 partidas em que esteve no comando do Independiente, Beccacece acumulou 8 vitórias, um empate e 7 derrotas, fechando com 52% de aproveitamento no total. Um desempenho natural para um começo de trabalho, mas com tropeços de muito peso em todas as competições.

Na Superliga Argentina, deixou o time na 14ª posição, sofrendo uma derrota contundente para o Estudiantes, desperdiçando três pontos contra o fraco Patronato e não conseguindo se impor sobre equipes da parte de cima da tabela na busca pelo topo, como foi contra Vélez Sarsfield e Argentinos Juniors. Em competições mata-mata, fora a derrota para o Lanús na Copa Argentina, os rojos caíram na Copa Sul-Americana para os atuais finalistas do Independiente Del Valle mesmo após vencer a partida de ida por 2 a 1 dentro de casa.

E se a pressão por resultados no Independiente acontece naturalmente, a situação piora ainda mais quando o time demora a engrenar em campo. Com seu tradicional modelo de jogo posicional, Beccacece teve dificuldades para conseguir implementar seus conceitos mesmo em um cenário de continuidade de filosofia, já que Ariel Holán também trabalhava desta forma.

Alguns reforços da confiança do treinador até chegaram ao Libertadores de América para ajudar neste processo. Alexander Barboza, zagueiro de excelente saída de bola e com forte presença na bola aérea, o acompanhou na saída do Defensa y Justicia e foi para o lado vermelho de Avellaneda. Outros dois “reforços” foram o meia Domingo Blanco e o extrema Gastón Togni, que estavam emprestados pelo Independiente ao Defensa y Justicia e retornaram na metade deste ano. Quem também esteve bem cotado ao ser contratado foi o ex-cruzeirense Lucas Romero, muito por conta da sua versatilidade para atuar em diferentes posições. Mesmo assim, não pareceu ser o suficiente.

INCONSISTÊNCIA DENTRO DAS QUATRO LINHAS

Para começar, ao longo destas 16 partidas, Beccacece não se prendeu tanto ao 4-3-3, seu esquema preferido, principalmente nos primeiros jogos que comandou. Chegou a utilizar o 4-4-2 e até mesmo plataformas com linha de cinco atrás, como foi contra a Universidad Católica (EQU) na Sul-Americana. De certa forma, isso dificultou o trabalho para estabelecer uma identidade coletiva desde o princípio.

Junto a isso, as características dos jogadores que já faziam parte do elenco do Rey de Copas eram bastante diferentes daquilo que ele tinha em mãos em seu clube anterior, sobretudo no meio-campo. Lucas Romero, Nicolás Domingo e Pablo Pérez, por exemplo, possuem um perfil de maior fisicalidade e combate no setor, fugindo bastante da circulação limpa e dos bons ataques ao espaço que o trio Leonel Miranda, Matías Rojas e Domingo Blanco oferecia em Varela.

Blanco, inclusive, foi utilizado pelas beiradas em várias ocasiões, evidenciando também a deficiência de extremas capazes de entregar aquilo que Beccacece espera de peças nesta posição: o jogo na amplitude. Andrés Roa, que se notabilizou por ser um bom enganche no futebol colombiano trabalhando sempre em função da bola, foi outro que não conseguiu se adaptar bem às exigências de um jogo mais zonal.

Nas fases defensivas, a pressão que os times de Beccacece costumam fazer no campo adversário para recuperar a posse não foi colocada em prática a pleno. Além da falta de intensidade, a desorganização dos encaixes na transição afetou bastante a produção. A descompactação do bloco com a equipe postada e a descoordenação nos movimentos já em seu próprio terreno também entram na equação, fazendo os rojos serem presas fáceis ao deixarem espaços da intermediária para trás e sobrecarregando uma linha de defensores que não vem em boa fase.

As incoerências entre as aptidões individuais à disposição e as ideias de Beccacece acabaram cobrando seu preço cedo demais. Em um vestiário que também sofreu com rusgas entre comandante e comandados durante este curto período, era questão de tempo até um trabalho que tinha tudo para ser promissor acabar desmoronando. Agora, o discípulo de Bielsa e Sampaoli vai em busca de melhores ares para colocar em ação aquilo que pensa sobre futebol, enquanto o Independiente segue atrás de um técnico capaz de suportar o ambiente de altíssima voltagem do maior campeão da Libertadores.

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