'ADAPTÁVEL', O PALMEIRAS DE ROGER PODE ENCANTAR
Por @RodrigoCout Clube que mais investe e dono do melhor elenco do futebol brasileiro, o Palmeiras inicia 2018 sob o comando de um dos técnicos mais promissores da nova geração. Após um ótimo princípio de trabalho no Grêmio e uma passagem frustrante pelo Atlético/MG, Roger Machado desembarca na Academia buscando se firmar de vez no […]
Por @RodrigoCout
Clube que mais investe e dono do melhor elenco do futebol brasileiro, o Palmeiras inicia 2018 sob o comando de um dos técnicos mais promissores da nova geração. Após um ótimo princípio de trabalho no Grêmio e uma passagem frustrante pelo Atlético/MG, Roger Machado desembarca na Academia buscando se firmar de vez no mercado dos treinadores brasileiros. Sabedor da pressão que recairá sob os seus ombros e de seus atletas, ele vem montando um Verdão dinâmico. Uma equipe que está crescendo e demonstrando o nível que pode alcançar a partir de formas de jogar adaptáveis à realidade que cada partida apresenta.
O flerte entre o treinador e o clube já durava algum tempo e virou namoro definitivamente em dezembro de 2017. Na cabeça de muitos, o nome que pode fazer o Palmeiras encantar novamente com sua constelação de ótimos jogadores. Afinal de contas, não é todo elenco que se dá ao luxo de ter entre os suplentes nomes como Gustavo Scarpa (se resolver sua situação contratual), Guerra, Moisés, Luan, Tchê Tchê, Keno, Weverton, Fernando Prass, Edu Dracena, Michel Bastos, Jean, Mayke, o lesionado Diogo Barbosa. Atletas que seriam titulares em mais da metade dos times brasileiros com certa tranqüilidade.
Na cabeça do palmeirense, chegar perto do desempenho das grandes equipes do clube que encantaram na década de 90 é possível. E de fato é! Guardadas as devidas proporções e considerando o nível do futebol brasileiro, há qualidade técnica e repertório tático em Roger Machado para dar asas ao sonho palestrino. No meio do caminho as pedras que acompanham todos os treinadores no solo brasileiro: a ênfase “resultadista”, a pobreza de conhecimento de parte da imprensa para avaliar o jogo, e a preocupação em se ater ao vocabulário do treinador, fatos que como uma avalanche abalam a torcida e consequentemente a diretoria do clube.
A Base
Inicialmente escalado no 4-1-4-1, o Palmeiras passou a jogar no 4-2-3-1 após a entrada de Bruno Henrique na vaga de Tchê Tchê. No decorrer do texto vamos explicar os possíveis motivos para essa troca. O ex-atleta do Audax atuava como meia interior ao lado de Lucas Lima. Já o ex-volante do Corinthians joga na mesma linha de Felipe Melo. No momento defensivo então forma-se duas linhas de quatro com Lucas Lima e Borja dando o primeiro combate mais à frente.
Na lateral esquerda Victor Luis parece ter ganho a disputa pessoal com Michel Bastos. Marcos Rocha se fixou na direita e Jaílson é o titular da meta. A dupla de zaga pode ser considerada uma surpresa. Mesmo com Dracena e Luan no elenco, dois zagueiros mais experientes, Roger opta por Antônio Carlos e Thiago Martins, defensores mais rápidos, fortes e dinâmicos para encaixar com o estilo da equipe. No meio, Felipe Melo e Lucas Lima iniciam o ano absolutos, assim como Dudu e Borja no ataque. Willian é o atual titular com as maiores sombras. Keno, Guerra e Gustavo Scarpa são os postulantes diretos à sua vaga, mas o Bigode vem mantendo a regularidade com boas atuações.
Parte Ofensiva
No Grêmio, Roger utilizava-se maciçamente das saídas curtas, com muita aproximação, sobretudo pela faixa central e bola de pé em pé para progredir no campo de jogo. Já no Palmeiras a dinâmica tem sido diferente. A maioria das saídas de bola do alviverde são feitas pelos lados, quase sempre buscando a associação entre o lateral e o ponta, que num primeiro momento recua e se oferece como opção de passe. O volante do lado da jogada da opção de triangulação por dentro, mas não está nesta faixa a maior incidência de saídas alviverdes.
Quando o adversário tem a tendência de marcar de forma mais recuada, sem avançar suas linhas, Felipe Melo se infiltra entre os zagueiros para fazer a ‘’saída de três’’. Os laterais então se projetam até a entrada do terço final do campo adversário e dão amplitude lá. Os pontas se mexem para a faixa central. Lucas Lima e Bruno Henrique/Tchê Tchê recuam para serem opções de passe, mas é muito comum invertidas de bola de Felipe Melo ou dos zagueiros buscando o lateral no lado contrário ao que a jogada se inicia. A idéia é encontrar um companheiro em melhores condições e ‘’mexer’’ com o posicionamento defensivo oponente.
Já quando o adversário tem a tendência de adiantar suas linhas de marcação, o Palmeiras busca a associação citada acima pelos lados do campo, ou não se priva de utilizar o passe longo para Lucas Lima e, principalmente Borja, atacarem os espaços por trás da última linha adversária. O centroavante, aliás, vem se destacando muito não só neste aspecto. É impressionante como ganhou confiança e parece outro jogador em 2018. Luta por cada bola e palmo de campo, cresceu muito tecnicamente e parece entender perfeitamente sua importância tática. Produz muitas movimentações em diagonal e outras buscando profundidade. Pisa mais na faixa central, mas não para um minuto, têm sido muito móvel.
Já estabelecido no campo de ataque podemos perceber o Palmeiras com os pontas bem abertos. No último terço é responsabilidade de Dudu e Willian abrirem o campo adversário. A medida visa liberar espaço na faixa central para que Lucas Lima, Felipe Melo e Bruno Henrique trabalhem. Há muita qualidade no passe e poder de articulação no trio. Os laterais geralmente ficam por trás, na base da jogada, produzem ultrapassagens por dentro na maioria das vezes ou se colocam como opção de passe de retorno para começar a mudar o jogo de lado.
Numa era em que as equipes do futebol brasileiro demonstram dificuldade em uma forma coletiva de jogar ofensivamente, o Palmeiras vem mostrando que possui conceitos estabelecidos e em franco desenvolvimento. Se somarmos o cenário à qualidade técnica do plantel, algo de muito bom pode acontecer.
Nas transições ofensivas nem sempre a velocidade é a pedida. Mais uma vez a tomada de decisão vai de acordo com o cenário encontrado. Se há espaço para aceleração e passes em profundidade a equipe age assim. Mas na grande maioria das vezes a busca é por ficar com a posse. Então o portador da bola acaba recebendo muitos apoios e o time fica próximo para construir.
Parte Defensiva
O Palmeiras marca por zona, mas novamente se adapta ao que as situações do jogo pedem. Em vários momentos podemos acompanhar algumas perseguições pontuais, principalmente quando a proposta é adiantar a marcação. Marcos Rocha talvez seja o jogador que mais tenha essa dificuldade de entendimento. Por vezes se afasta demais de seu setor, o que pode ser um problema contra equipes que souberem aproveitar. Por mais que não seja um time desorganizado nesta fase, o Palmeiras, em comparação com a parte ofensiva, requer mais ajustes.
A entrada de Bruno Henrique na equipe certamente resolveu dois problemas que vinham ocorrendo. O primeiro deles a oscilação na abordagem de marcação de Tchê Tchê e Lucas Lima. Como estes retornavam pela faixa central da linha de meio-campo, por vezes víamos Felipe Melo tendo que compensar alguma deficiência da dupla e não contando com a mesma contribuição dos colegas. Com um jogador de marcação mais forte e posicionado ao seu lado, o temperamental e talentoso volante ficou menos sobrecarregado.
O segundo problema era a defesa da entrada da área em lances de linha de fundo, o ‘’funil’’ como Tite gosta de chamar. Os laterais do Palmeiras têm a missão de serem agressivos na abordagem de marcação nos lados e por vezes se afastam da última linha. Felipe então ocupava a lacuna deixada para evitar movimentos e passes de infiltração pelo meio da defesa, mas acabava se afastando da entrada da área. Ao mesmo tempo, Lucas Lima e Tchê Tchê em vários momentos não mostraram a atenção necessária para ocupar o ‘’funil’’.
A intensidade é quase sempre muito alta, principalmente nos jogos em casa e, novamente, o posicionamento do bloco de marcação obedece ao melhor encaixe de acordo com as características do adversário. Se do outro lado tem um time que explora a velocidade dos atacantes com passes em profundidade, o Verdão recua suas linhas. Se é um oponente que gosta de construir com mais aproximação e bola de pé em pé, a marcação é adiantada. Mais uma vez Borja se destaca neste sentido.
A transição defensiva é outro ponto muito bem assimilado pelos jogadores palmeirenses. O conceito de ‘’perde-pressiona’’ vem sendo executado de forma perfeita em muitas partidas, sobretudo dentro do Allianz Parque. Dudu, Willian, Borja, Marcos Rocha e Victor Luis são os ‘’reis’’ neste aspecto. A mudança de atitude vem sendo muito rápida entre atacar e defender, o que é primordial para manter a bola no campo de ataque.
Bola Aérea
Na bola aérea defensiva, o Palmeiras adota o sistema ‘’misto’’ para marcar. Todos os dez jogadores de linha participam dentro ou nas proximidades da área defensiva. Quatro deles são responsáveis por zonas dentro da grande área. Dois ficam no primeiro pau e outros dois têm a missão de bloquear o avanço dos atletas mais altos do time rival. Os dois que sobram ficam no rebote. Já na bola aérea ofensiva, vem se destacando uma jogada de escanteio. A batida ‘’sem peso’’ no segundo pau. Geralmente o responsável pela cobrança é Dudu e a bola viaja para encontrar Antônio Carlos e Thiago Martins no segundo poste. A jogada já rendeu dois gols em clássicos nesta temporada e conta com a participação determinante de Felipe Melo e Borja atraindo a atenção para o primeiro pau.
Conclusão
Dez vitórias, dois empates e duas derrotas em 14 jogos. 25 gols marcados e oito sofridos. Mais do que bons números o Palmeiras vem mostrando evolução e um projeto condizente com o material humano que tem. A oscilação de um trabalho novo é inevitável e já apareceu em alguns jogos, mas a impressão deixada em outros norteia um futuro que pode ser de farta colheita para a Academia. Percebe-se uma preocupação muito grande em jogar bem e fazer jus ao alto investimento, isto fica claro no nível de preparo para cada jogo e a definição da estratégia de acordo com o rival. Nos jogos fora de casa ainda falta mais confiança, algo que deve vir naturalmente com o tempo.
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