AO SOM DO KLOPP 'N' ROLL
O vice-campeão europeu reforçou o seu elenco em todos os setores de maneira a conseguir disputar mais e melhor as diferentes competições para a nova temporada. As chegadas de Alisson Becker, Fabinho, Naby Keïta e Xherdan Shaqiri dão aos reds um leque de opções maior em relação aos anos anteriores – isto, claro, sem ter […]
O vice-campeão europeu reforçou o seu elenco em todos os setores de maneira a conseguir disputar mais e melhor as diferentes competições para a nova temporada. As chegadas de Alisson Becker, Fabinho, Naby Keïta e Xherdan Shaqiri dão aos reds um leque de opções maior em relação aos anos anteriores – isto, claro, sem ter perdido os jogadores fundamentais. Para 2018/19, o Liverpool de Jürgen Klopp traz novidades no seu modelo de jogo e nas abordagens às partidas para atacar os títulos de forma consciente (tendo pernas e físico) e com alguns conceitos diferentes.
A ARTE DE DEFENDER COM MENOS
A nível defensivo, já era recorrente, principalmente depois da saída de Philippe Coutinho em Janeiro de 2018, o Liverpool defender em 4+3 (4 defesas e 3 meio-campistas), colocando o trio atacante em zona morta, estando mais próximos da meta adversária e menos cansados nos contra-ataques. A arte de defender com menos, que vimos, por exemplo, na Bélgica durante a Copa do Mundo 2018. Mas para isto acontecer é necessário que os 7 jogadores que sobram sejam fortes nos combates e ”basculando” as duas linhas conforme o percurso da bola.
Para o bom funcionamento da estratégia aplicada, efetivamente, muito se deve à evolução individual de atletas como Joe Gomez, que vem se destacando como um zagueiro forte nos duelos por baixo e demonstrando toda a sua qualidade técnica com bola, merecendo até o lugar de titular na seleção inglesa. Ou até mesmo uma das surpresas da temporada, Georginio Wijnaldum, como volante no lugar do lesionado Henderson e do não adaptado, Fabinho. Destacar também o amadurecimento de Virgil van Dijk, assumindo cada vez mais o posto de xerife local – à semelhança de nomes como Jamie Carragher, Alan Hansen, Phil Thompson, Ronnie Yeats ou Alex Raisbeck – e Andy Robertson, lateral consistente de grande capacidade física pelo corredor esquerdo, que tem sido uma verdadeira arma atacando e criando chances eminentes de gol.
UM NOVO TIPO DE PRESSING
É sabido que as equipes de Klopp são sempre intensas e gostam de pressionar alto para criar constrangimento na construção do adversário, mas a grande novidade desta temporada deve-se ao maior uso da pressão em bloco médio, criando algumas armadilhas neste sentido. A queda de rendimento físico de Roberto Firmino ou mesmo a utilização de Daniel Sturridge (menos disponível fisicamente sem bola), leva a que Klopp faça uma mistura dos dois tipos de pressing, o mais posicional encaixado e o habitual agressivo.
A pressão alta e com encaixes individuais no meio-campo, normalmente em 1-4-3-3, é usado principalmente no tiro de meta adversário, fazendo subir todas as suas linhas para manter o bloco compacto. Na pressão média (ou média-alta), já com apontamentos mais variados para o 1-4-5-1, os pontas preocupam-se em cobrir as laterais, o 9 em não deixar o organizador contrário receber a bola enquanto pressiona os zagueiros e os meio-campistas fazem também os devidos encaixes individuais.
Quando em situação de bloco baixo, há um pouco de contexto de jogo na forma como vai defender. É mais comum o adversário atacar o lado direito dos reds (o menos capaz defensivamente), por isso a linha média concentra-se em ajudar mais o jovem Alexander-Arnold, que é mais frágil fisicamente e no entendimento do posicionamento. Enquanto no lado esquerdo é possível observar Mané recompor em algumas ocasiões, formando a momentânea segunda linha de 4 protegendo a área. Isto deve-se ao facto de Mané ter níveis de resistência capazes de defender e atacar com regularidade e ainda assim manter os seus sprints em fase ofensiva. Contudo, o objetivo é claro, os meias trabalham pela prevenção física dos seus atacantes.
Essencialmente, é uma maneira dos comandos de Klopp terem mais resistência durante os 90 minutos, capazes de estarem mais frescos em sequências pesadas de jogos, fazer rodar o elenco utilizando os menos capazes fisicamente e de conseguir atrair o oponente para depois contra-atacar ao estilo que nos habituaram – uma melhor organização defensiva e um pós-perda que já é característico do time.
O 4-2-3-1 COMO ALTERNATIVA
A ideia que passa é que, apesar de ainda ser um Liverpool intenso no seu gegenpressing, há um foco maior em se precaver de situações de jogo mais descontrolados. Parecem estar mais prontos em criar constrangimento pressionando nas costas do portador e em fazer com que o jogador adversário tome uma má decisão, um jeito menos ‘’gegen’’, mas sem deixar de ser agressivo. É verdade que os merseysiders são mestres em ganhar o jogo no descontrolo do mesmo, mas este ‘’novo’’ modo de tratar os encontros permite que sejam das melhores e menos batidas defesas da Premier League, juntando, como é óbvio, todos os restantes fatores beneficentes.
O futebol vive de tendências e mudanças, adaptações e readaptações e talvez algumas evoluções em coisas específicas. Desde sempre, Klopp procurou meios diferentes no seu ataque para combater alguns problemas contra equipes que não dão a profundidade ou quando a controlam. Uma das maneiras que o técnico germânico encontrou para disfarçar alguma falta de criatividade e jogo associativo dos seus meio-campistas, foi o regresso ao 1-4-2-3-1 que usou na primeira temporada no clube, em 2015/16.
A LIBERDADE DE FIRMINO E A NECESSIDADE DAS INFILTRAÇÕES
No passado, pós-Coutinho, houve uma tentativa de fazer com que Mané emulasse um pouco daquilo que o brasileiro oferecia, flutuando de fora para dentro em ataque posicional. O senegalês, apesar dos seus diversos recursos, não era, naturalmente, a resposta para todas as questões e em alguns jogos isso foi mais notório.
Na temporada passada era comum vermos os homens de vermelho posicionarem-se no 1-4-3-1-2, com Firmino sendo o enganche para Mané e Salah pisarem na área e finalizarem ou até algum dos médios infiltrarem desde trás. A maior diferença dessa forma de atacar do ano passado em comparação com a nova época, passa pela necessidade de isso acontecer durante mais tempo, devido às questões apresentadas acima, além da menor capacidade de explosão e infiltração diagonal de Salah, que assim fora o grande artilheiro. Deixou de ser tanto uma situação de movimentos e passou a ser algo mais vincado com Firmino tendo muita liberdade posicional.
SAÍDA DE TRÁS
Existem diversas maneiras de sair jogando no Liverpool. No 1-4-3-3 em fase ofensiva, os meio-campistas estão distribuídos por diferentes alturas. Geralmente o volante (Henderson, Fabinho ou Wijnaldum) junta-se aos defesas centrais na primeira fase de construção – seja entre o meio dos dois ou cobrindo as laterais de um lado ou outro. Um dos interiores coloca-se numa altura média e o outro apoiador mais próximo dos atacantes nas entrelinhas.
Os laterais tanto podem estabelecer-se na base e trocando a bola entre si esperando o campo aberto para conduzir a bola, como podem variar o flanco através de um passe longo. A outra maneira é com um dos médios compensando a subida do lateral, onde este se torna um extremo de linha.
O CORINGA SHAQIRI
Em jogos em que o Liverpool passará a maior parte do tempo em fase ofensiva e tendo que valorizar a posse de bola, Klopp retorna ao 1-4-2-3-1 com a inclusão de Shaqiri ou até mesmo Lallana a partir da ponta direita. No sistema, Shaqiri é um extremo, mas que no cenário posicional se torna um interior no half-space direito, recebendo, girando e descobrindo companheiros através do seu apurado passe de ruptura. Esta pode ser uma das chaves de Klopp contra densas organizações defensivas. O suíço é dos jogadores com mais argumentos em espaços curtos e contra este tipo de adversário.
É possível observar Firmino mais frequentemente no coração do jogo recuando à sua posição de 10, assim como quando chegou à cidade dos Beatles. Mesmo sendo um jogador criativo, o camisa 9 brasileiro é diferente de Shaqiri, que tem um último toque mais refinado. Firmino é o centro do relógio que controla os ponteiros, os restantes jogadores são as horas. Dita o tempo e decide quando vai servir os seus companheiros no espaço. Ao contrário dos outros que aceleram para atacar, este geralmente movimenta-se para receber a bola no pé.
ESQUEMA QUE POTENCIALIZA OS VOLANTES
O 1-4-2-3-1 pode sim revelar-se um trunfo forte e com alguns dos jogadores se valorizando dentro disto. Fabinho, por exemplo, que tem revelado problemas de adaptação ao ritmo inglês e nos deslocamentos naquela linha média de 3 bastante móvel, é um jogador que tem tido mais facilidade quando atua num duplo-pivot, ainda que em todos os jogos em que isto tenha acontecido o adversário fosse de caráter menos complicado. Outro exemplo é Naby Keïta. O ‘’motorzinho’’ guineense tem demonstrado uma influência mais limitada ao lado esquerdo dentro do 4-3-3, sendo muitas vezes o meio-campista mais alto jogando nas entrelinhas. Isto retira aquilo que o herdeiro da camisa 8 de Gerrard tem de melhor, que é pegar no jogo na base e chegar à área contrária de livre e espontânea vontade.
Porém, este último sistema tem um problema claro com os jogadores utilizados. Dificilmente se utilizará o 1-4-2-3-1 com um adversário que lute de igual para igual com os homens que carregam o liver bird ao peito, devido às características dos jogadores em fase defensiva. Não só num pressing alto/médio-alto, como nas recomposições. Por agora, enquanto não houver uma adaptação total, o sistema é usado contra adversários de menor cariz ofensivo, como referido anteriormente.
Mohamed Salah e Sadio Mané.
Só que todos estes sistemas priorizam sempre que Mané e Salah sejam os grandes finalizadores e não é à toa que ambos lideram a tabela de artilheiros do clube na temporada. Vejamos o 4-3-3, os dois pontas velozes pisam tanto na área que acabamos por apelidar de 4-3-1-2. E quando dentro do 4-2-3-1, Firmino e Shaqiri suportam a criação nas entrelinhas para que Mané e Salah ataquem a última linha (há até quem fale num ataque em 4-2-2-2).
Independentemente dos sistemas, a ideia principal é que os jogadores nunca ofereçam uma referência ao adversário. Sempre móveis e com trocas de posição, os foguetes de Merseyside criam dificuldades para quem os vai defender, através de movimentos de atração, inversão de jogo procurando o lado débil, formação de pequenos losangos de jogadores, penetrações contra a defesa contrária ou forçando a ida dos laterais ao fundo para os cruzamentos.
Klopp faz uma abordagem diferente às competições, com especial atenção à Premier League, onde demonstra ter uma maior preparação nos jogos e aos seus detalhes, não se importando de abdicar de algumas das suas ideias para ser mais pragmático. Seja colocando Gomez como lateral direito e chamar outro zagueiro para se defender do jogo direto, fechando o meio campo com Henderson (melhor posse) e Fabinho (mais físico), ou mudando o sistema a meio do jogo para um 1-4-4-2 para ocupar melhor os espaços do campo e proteger as redes de Alisson.
Números de telefone à parte, é um Liverpool que pausa o jogo nas duas áreas. Sem bola procura armar mais ratoeiras e tenta um trabalho mais elaborado em posse. Num campeonato que parece ser todos os dias mais dominado pelo rival, Man City, é importante estar atento aos mínimos detalhes e a cada ponto (incluindo a contratação de um treinador de lançamentos de linha lateral). O Liverpool procura as melhores respostas para todas as dúvidas impostas.
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