Até onde vai o crescimento da Atalanta de Gasperini?
Como os nerazzurri podem seguir o viés de crescimento das últimas temporadas na Serie A e na Europa
O projeto da Atalanta em 2016, na chegada de Gian Piero Gasperini ao clube, além de fazer um projeto a longo prazo com jovens, era chegar ao pelotão de frente da Serie A, sempre frequentado por seus vizinhos de região Juventus, Milan e Inter, e outros rivais nacionais como Napoli, Roma e Lazio, que nos últimos anos tem sido os que mais representam a Itália em competições UEFA.
O crescimento dos nerazzurri nos últimos anos foi exponencial, e chegou a seu ápice nas últimas temporadas com duas classificações consecutivas para a Champions League, consequência das boas campanhas na Serie A, estando no G4 da competição, além de uma grande Champions em 2019–20 de uma decisão de Coppa Italia disputada. Mas a Atalanta quer mais em 2020–21.
E onde apontar crescimento, evolução na atual temporada, ou mesmo apontar sinais de alerta com base nas primeiras partidas da atual Serie A e nas primeiras partidas do seu grupo na Champions League a partir do início da “stagione” 2020–21 para a Dea?
É bem verdade que o início da temporada 2020–21 tem problemas fortes com relação a lesões. Entre elas, por exemplo, estava a do goleiro Gollini, que se machucou antes da derradeira partida das quartas da Champions passada em Portugal diante do PSG, e só voltou nas últimas rodadas. Gollini, além de ter melhores números no gol que Sportiello, também participa mais do jogo.
Mas neste momento a Atalanta está enfrentando questionamentos semelhantes aos que enfrentou no começo de 2019–20, pela irregularidade em certos momentos, e especialmente por conta de situações parecidas que expuseram a defesa. Em 2019–20, foi o 5–1 sofrido para o City na Champions, neste ano, o 4–1 sofrido para o Napoli na Serie A, e o 5–0 do Liverpool na Champions.
A diferença é que dessa vez, os questionamentos que pediam uma abordagem mais prudente e avessa ao risco, como ocorreram após as goleadas sofridas na Champions League passada, quase não existem mais. E os problemas podem ser resolvidos da mesma forma: com uma leitura melhor de jogo e reagindo melhor a certas adversidades.
Na temporada passada funcionou muito bem com a boa campanha na Champions que levou os nerazzurri as quartas de final. Mas até onde a Dea pode chegar nessa temporada? Que problemas atuais ela precisa resolver para se manter no pelotão de cima?
É bem verdade que o ataque, composto por figurinhas já carimbadas como Gómez, Zapata, Ilicic, Malinovskyi e que tem Muriel entrando no segundo tempo, segue a cumprir suas marcas: a Atalanta venceu os três primeiros jogos do campeonato pela primeira vez na história e os 13 gols marcados fizeram deste o início mais prolífico desde o Milan em 1972.
O que auxilia na Atalanta nesta temporada é que do time de 2019–20, apenas Castagne, que foi para o Leicester, deixou o clube, e que o jovem Amad Traoré tem ganho espaço no time, embora as lesões e as eventuais baixas para a Covid-19 fizeram com que jovens como Ruggeri e Traoré pudessem estrear ou ganhar mais minutos logo pelo clube nerazzurro.
É bem verdade que em alguns jogos a queda mental da Atalanta que era perceptível no primeiro semestre da temporada passada já não ocorreu, como no caso do empate por 3–3 com a Lazio, em que o time vencia por 3–0 e sofreu o empate nos acréscimos. A dor do empate foi descontada com um 4–1 no Olimpico nesta temporada.
Neste caso, as cicatrizes no passado já se fecharam, e mesmo a Atalanta tem aprendido e crescendo a medida em que tem criado experiência em competições europeias, e seus atletas tem crescido muito individualmente e se desenvolvendo para o futuro.
Papu Gómez, em certa entrevista, argumentou que a exposição que a equipe recebeu ao longo do ano passado e as convocações que seus companheiros começaram a receber para as respectivas seleções os tornaram mais autoconfiantes, o que explicou os bons resultados.
Mas, voltando aos problemas de lesão, estes se viram em alguns momentos, como na inapelável goleada sofrida diante do Liverpool, em que o time teve os desfalques de Ilicic, ainda em fase de recuperação de sua depressão, De Roon não jogou no meio-campo, e que Freuler ficou exposto sozinho nas alas, que são fundamentais para o funcionamento da Atalanta.
Grande parte do funcionamento da Atalanta se deve aos duplos alas. A ausência Gosens, que está machucado, quebrou o funcionamento do corredor esquerdo. É bem verdade que por ora não faltam substitutos, mas Gasperini terá de fazer testes ou com seus recém-contratados Mojica, Depaoli e Piccini, sendo os dois primeiros com experiência maior no meio, e o outro lateral, ou mesmo apostar em jovens, como fez com Ruggeri no empate diante da Inter.
O tempo é tudo nessa posição, como Gosens sabe muito bem. Demorou dois anos para entender muito bem a sua função na posição, e quando entendeu, marcou 10 gols na última temporada, sendo uma das principais forças do ataque bergamasco.
A profundidade que a Atalanta acumulou nos últimos virá a dar frutos e pode ajudar a compensar o problema mais tarde na campanha. Gasperini prometeu fazer ajustes “táticos e estruturais” para deixar a equipe menos vulnerável do que esteve em alguns momentos da temporada.
Gasperini sabe que precisa fazer ajustes na equipe. Mas quais devem ser os ajustes principais para essa temporada a Atalanta melhorar como tem feito nos últimos tempos? Essa é a grande pergunta, ainda sem resposta. Mas vale relembrar como foi a evolução de alguns atletas de acordo com suas características.
O maior exemplo é o argentino Papu Gómez, o 10 do time, que originalmente, foi utilizado em seu início na ala esquerda, mas conforme o argentino foi ficando mais velho e as exigências físicas de operar a linha cobraram um preço maior, ele o moveu para dentro, onde ele cobre distâncias mais curtas e mantém a lucidez para usar seu gênio criativo no passe, na finalização e no drible, em seu jogo.
E neste sistema, em que Papu opera entre as linhas jogando por dentro e muitas vezes caindo pelo lado esquerdo, a sua função por diversas vezes atrai a marcação, o que deixa Zapata e/ou Muriel livres no ataque, dá campo para os outros atacantes como Ilicic, Pasalic, Malinovskyi e o recém-chegado Lammers, que também tem feito boas atuações, assim como Miranchuk.
Na temporada 2019–20, uma de suas grandes sacadas surgiu da lesão de Zapata, em que fez Pasalic atuar como um falso nove, fazendo jogadas sem a bola que confundiam os defensores e dava a Atalanta maior imprevisibilidade no ataque, auxiliando ele mesmo e os seus companheiros a marcar.
Por outro lado, nesta temporada, há um fator que embora o time não tenha sentido após o retorno do lockdown na Itália, em algum momento pode sentir nesta, o físico, tendo em vista que nomes como o próprio Papu Gómez quase não foram descansados até aqui, muito porque outros nomes como Malinovskyi e o recém-chegado Miranchuk, que já vem tendo boas participações, se machucaram.
Para essas situações de lesão, e de indisponibilidade, como no caso da lesão de De Roon, ou até de poupar jogadores, Gasperini em alguns jogos já deu indícios de que pode optar por mais um meio-campo para fechar o time, ou mesmo tem a ideia de que pode eventualmente “segurar” o avanço de um dos alas, sendo mais conservador.
Por outro lado, não espere grandes mudanças dessa Atalanta. Não espere que a Dea vá mudar todo o seu sistema, que consiste numa marcação individual em todo o gramado, em favor de uma abordagem híbrida ou por zona, que poderia afetar o modo de como o time pressiona o adversário.
Pra piorar, cada vez mais jogadores da Atalanta são nomes frequentes em convocações de seleções mundo afora, o que faz o tempo de descanso entre jogos ser ainda menor, e a partir daí, os bergamascos, assim como os seus outros rivais em competições europeias, terem de esperar a “mini-pausa” de Natal e Ano Novo para respirar.
Num futuro próximo, é razoável esperar que a Atalanta volte ao equilíbrio feroz que caracteriza o time, com fases de ataque mais rápidas e dinâmicas e a reatividade defensiva certa, e com a Dea, a criatividade que leva o adversário ao extremo através do controle total do ritmo de jogo.
Na temporada passada, nove das 11 derrotas em todas as competições que a Atalanta teve, ocorreram antes do final de janeiro, o que nos faz acreditar que os bergamascos vão crescer de novo na hora H na temporada. Porque sempre podemos acreditar em novidades de seus atletas, e de novas sacadas do “mágico” Gian Piero Gasperini.
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