BRUNO GUIMARÃES E RENAN LODI: CONHEÇAS AS NOVAS JOIAS DO FUTEBOL BRASILEIRO
Por Lucas Filus Expectativas exageradas existem no futebol. Ainda mais se tratando de promessas que, independente de todo o trabalho no cotidiano, são julgadas por ‘pequenas amostras’ a partir do momento em que participam de alguma ocasião de repercussão internacional. Quando dois meninos fazem o que querem na final da Copa Sul-Americana e, posteriormente, em […]
Por Lucas Filus
Expectativas exageradas existem no futebol. Ainda mais se tratando de promessas que, independente de todo o trabalho no cotidiano, são julgadas por ‘pequenas amostras’ a partir do momento em que participam de alguma ocasião de repercussão internacional. Quando dois meninos fazem o que querem na final da Copa Sul-Americana e, posteriormente, em um jogo de Libertadores contra o gigante Boca Juniors, a reação natural é abrir o olho e elogiar.
Mas também há o contraponto de se perguntar sobre o nível apresentado semanalmente, para de forma compreensível evitar a chata e às vezes descabida superexposição de jogadores que tiveram noites isoladas de inspiração. É um processo até importante para que não ocorram situações como a do Barcelona, por exemplo; por toda a filosofia de revelar ícones do esporte, basta uma boa partida de uma cria da base para que receba a chata etiqueta de novo Xavi, Iniesta ou Messi.
A realidade, porém, continua sendo pura e direta: se você é bom o suficiente, vai continuar se provando a cada etapa do caminho e atingir um nível alto de desempenho, competitividade e realizações. E esse é, por enquanto, o caso de Bruno Guimarães e Renan Lodi. Os mais recentes ‘novos (insira jogador conhecido aqui)’ da imprensa brasileira não são tão recentes assim. São figuras que demonstram capacidades diferentes desde o início e não só mantém, como desenvolvem em cima das mesmas. E por isso merecem toda a atenção que estão recebendo – e mais um pouco.
Começamos de trás, mesmo que seu cartão de visitas more lá na frente. Lodi chegou ao Athletico – quando ainda sem o H – em 2012, com 13 anos. Fez sua estreia no profissional em 2016, com 17, mas eram as típicas aparições para se ambientar ao clima das partidas até que as chances ‘reais’ viessem. E, assim como o outro personagem do texto, foi produto do planejamento ousado do clube.
Ao reduzir o estadual à irrelevância competitiva que hoje lhe pertence (desde 2013 é um grupo secundário, antes sub-23 e agora de ‘aspirantes’, que disputa o campeonato), o furacão eleva a preparação de seu time principal e abre um espaço definitivo para que os jovens floresçam. Em 2018, sob o comando da também revelação Tiago Nunes, viu um lateral esquerdo impressionante se apresentar. Foi um dos destaques do Paranaense, ergueu a taça e cavou seu espaço no time ‘de cima’.
Que tinha contratado o conhecido Márcio Azevedo para a posição, vindo do Shakhtar Donetsk. Mas não se imaginava que um garoto de 19 anos se firmasse de forma tão rápida e convincente. A primeira coisa que vem à cabeça quando pensamos no Renan é seu tratamento da bola. A gruda na canhota e se mostra determinado a tê-la em qualquer circunstância.
Nele sobra habilidade e usa um repertório vasto para sair da pressão adversária, dominar e construir com toques sutis como essa letra reservada à craques (abaixo) ou aterrorizar defesas com uma variedade de ações. Complementado por um alto vigor físico, posiciona-se de maneira que já causa preocupação no marcador: esse que, deparado com um jogador vindo em diagonal e alterando constantemente a condução “de dentro pra fora”, fica indeciso. Ele vai até a linha de fundo ou, abusando das mudanças de direção, cortar pro centro com dribles curtos – fazendo jogadas individuais ou iniciando tabelas letais?
Tem também as situações em que recebe – ou pega a sobra – ainda na intermediária e cruza imediatamente para pegar o oponente em um tempo de reação defasado. Sem a bola, costuma infiltrar na área fazendo o ‘facão’ e isso já lhe rendeu 4 gols e alguns ‘quase’. Com tanta opção, está claro que não se trata de um jogador unidimensional – aqueles que dependem muito de um tipo de jogada. É sem dúvida alguma a força criativa do CAP.
Quando ele assume a posição de marcador, não decepciona. Quem viu o triunfo sobre o Boca pode pegar sua performance defensiva como exemplo. Tirando uma oportunidade em que Villa o superou com pedaladas, Renan não perdeu uma contra um time claramente disposto a atacar com velocidade pelo seu lado – tentando até segurá-lo um pouco e reduzir o potencial ofensivo dos brasileiros. Sem sucesso.
Acompanhando os passos de seu companheiro e amigo Bruno Guimarães.
Que, por favor, não encaixem em um determinado perfil ou envolvam em comparações descabidas. É um meio-campista especial que nos presenteia com elementos diferentes do seu jogo a cada semana. Quem o acompanhava no Audax, seu primeiro time, em 2016 e 17, já falava sobre como ele se sobressaia em relação aos colegas de posição. Do mesmo modo de Renan, teve em suas primeiras participações (6 partidas em 2017) a ambientação à realidade que logo viveria.
E no mesmo Paranaense deu toda a pinta de ter sido um famoso ‘achado’ do departamento de observação. Negado pelos quatro principais clubes do Rio de Janeiro, o carioca foi por consenso o craque do campeonato, com direito a gol na decisão diante do arquirrival Coritiba. Logo foi promovido ao primeiro time e aos poucos fez com que sua titularidade não fosse mais uma possibilidade, mas sim certeza. Participou de 32 rodadas do Brasileirão – titular em 21 – e coroou sua temporada com uma bela atuação na final da Sul-Americana, quando se sagrou campeão sobre o Junior Barranquilla.
O menino fez gol na segunda fase, contra o Peñarol e na semifinal, frente ao Fluminense. Também marcou no Jorge Wilstermann e deu assistência no confronto com o Boca, pela atual edição da Libertadores. Os atributos que lhe colocam na mira de grandes Europeus, porém, não tem relação direta com a bola na rede. Se destaca por tomar o controle do jogo com facilidade, buscando colocar o Athletico em domínio sob qualquer circunstância – característica comprovada pelo alto desempenho em diversas formações, posições e estratégias.
Por ser mais um meia que quebra as tradições de ‘volante marcador’, as comparações com Arthur são naturais. Mas é importante frisar que seu estilo não é o mesmo do jogador do Barcelona, referência brasileira no setor. A pegada cerebral e o amor pela posse certamente são aspectos compartilhados pelos dois – e não à toa Bruno tem passaporte espanhol, é fã da Seleção campeã do mundo em 2010 e tem como ídolo Andrés Iniesta.
Mas a imprensa e o público em geral precisam parar de buscar ‘novos (insira jogador X aqui)’ e criar expectativas em cima desse ‘modelo’. Cada atleta sem seu próprio perfil e deve ser analisado como um indivíduo que expõe suas habilidades – ou a falta das mesmas – dentro do coletivo. O ex-Grêmio tem uma postura totalmente voltada para a cadência a qualquer momento. Guimarães preza por essa tranquilidade, mas tem mais influência em todas as fases do jogo. Mais atrás, pros lados e pra frente.
Tem um vasto alcance em seu passe e transforma jogadas ‘normais’ em lançamentos preciosos ou viradas de jogo essenciais para os avanços rubro-negros. Lodi e Jonathan que o digam. É raro vê-lo errando na medida ou direção, como aconteceu em apenas uma tentativa dessas para o lateral direito na última terça-feira. De 7 bolas longas iniciadas, 6 encontraram o alvo. E a preparação para o arremate final não para por aí; na verdade, essa é só uma das possibilidades quando ele está articulando.
Nessas 3 rodadas de Libertadores, ninguém serviu mais finalizações (13) como o camisa 39 (16 em competições sul-americanas). Com uma visão acima da média, encontra os companheiros em ótimas posições e também é capacitado a tabelar em espaços curtos para superar a marcação. Contra o Boca, quase deu uma bela assistência para Marco Ruben (?) em um 1-2 sensacional na entrada da área. É, sem dúvidas, um construtor de jogadas ofensivas.
Que também trabalha para se tornar um mestre em controle (tem 94% de aproveitamento nos passes), direcionando e acalmando o ritmo quando necessário, como mostra inclusive quando baixa pra fazer a ‘saída de 3’ entre os zagueiros. Naquele estadual de 2018, participava do início e chegava no fim dos lances para de vez em quando concluir. Uma fala de Tiago Nunes ao Futebol na Veia, programa da ESPN Brasil, ajuda a explicar.
“A gente cria uma identidade, uma ideia. [Mas] muito das construções vão aparecendo porque os jogadores têm as suas particularidades. Têm autonomia, tenho falado muito para o grupo. Temos que devolver o jogo aos jogadores. O treinador tem tido por hábito cercar e tentar controlar todo o jogo e acho que temos uma parcela pequena do desenvolvimento. Compartilhamos a parcela com os jogadores e fazemos com que tenham a capacidade de se envolver e também encontrar soluções dentro do jogo.”
Bruno é daqueles que vivem, sentem e procuram entender do futebol. Não se encaixa em uma categorização específica de jogador porque isso reduziria seu potencial. Aos poucos, de acordo com os campeonatos, sistemas e treinadores que encontrar, vai nos dar uma noção mais clara do seu ‘melhor’ perfil. Mas até agora se apresenta como um verdadeiro comandante do meio-campo. O fato de um atleta com tanta qualidade no ataque ser visto no Chelsea como uma alternativa à Jorginho, um ‘regista’ italiano que fica na frente da defesa, diz tudo.
Na mesma sintonia de Renan Lodi – com quem se entende telepaticamente no gramado -, Bruno Guimarães é especial. Os meninos do Athletico não estão roubando os holofotes por pouca coisa. Os motivos são diversos e, com tanta consistência – é realmente difícil lembrar de alguma atuação ruim de ambos -, o futuro tem tudo pra ser ainda mais brilhante que o presente. Apreciamos enquanto estão em solo brasileiro.
*Imagens: Youtube, Athletico Paranaense e twitter de Alexis Malavolta.
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