Campionato Primavera: a mina de ouro do futebol italiano

O Campionato Primavera é uma das competições de base mais antigas na Europa, tendo seu início nos anos 1960. Com um rol de campeões bem diversificado, o alto nível da competição sub-19 tem gerado muitos frutos para o futebol italiano.

A Itália decide contra a Bélgica, nessa sexta-feira, 2 de julho, uma vaga para a semifinal da Euro 2020. A Azzurra busca seu segundo título da competição enquanto os Diabos Vermelhos a sua primeira taça. No entanto, o objetivo principal não é justamente a competição, mas algo que leva a entender o frenesi depositado na equipe comandada por Roberto Mancini.

Na quarta-feira, 30 de junho, o Empoli venceu a Atalanta por 5×3 e sagrou-se campeão do Campionato Primavera, a competição sub-19 mais importante na terra que tem formato de bota. Coincidentemente, o apelido da equipe da Toscana é Azzurra, ou Azzurri (plural).

A vitória sobre a atual bicampeã Atalanta, na final de mão única, que aconteceu no Stadio Enzo Ricci, na cidade de Sassuolo, região da Emilia-Romagna, não apenas marcou o segundo título da equipe Azzurra como implodiu o primeiro tricampeonato seguido de uma equipe na história do Primavera. O reinado da Atalanta estava em vigência desde a temporada 2018/19, quando vencera a Inter de Milão por 1×0. No ano seguinte, a temporada 2019/20 fora interrompido por conta da pandemia ocasionada pela covid-19, porém, o título fora entregue a equipe Bergamasca por ter terminado a primeira fase em primeiro lugar.

Apontada como surpresa pela crônica italiana, a equipe comandada por Antonio Buscè, que marcou época como meio-campista do próprio Empoli nos anos 2000, foi a última equipe classificada para os playoffs com um ponto de vantagem sobre a Spal e três a menos que a Atalanta, que ficara logo acima na tabela. Curiosamente, na temporada passada, em 2019/20, o Empoli ficara de fora do G6 por um ponto. Por conta da pandemia, não houve mata-mata, mas a sensação do “quase” ficou nítida. Em 2018/19, em seu retorno a elite, os Azzurri mostraram aos italianos o talento de Samuele Ricci, que tinha apenas 17 anos na oportunidade.

Ricci fez parte do elenco profissional do Empoli, que fora campeão da Serie B em 2020/21, tendo jogado 34 partidas, sendo titular em 19 delas e marcado dois gols e dado quatro assistências. O meio-campista também fez parte da seleção italiana sub-21, que se classificou para a Euro da categoria.

Muito se fala, e com razão, do rejuvenescimento da equipe principal da seleção italiana, que tem feito boas partidas na Euro 2020, um torneio que não é vencido desde 1968. Apesar de ter caído perante Portugal, na Euro Sub-21, após lutar com afinco contra uma seleção tecnicamente superior, permite aos fãs da Azzurra sonhar com um futuro interessante. E isso, deve-se, sobretudo, a competitividade da categoria Primavera, um campeonato antigo, disputado desde 1962 de forma ininterrupta, e que expõe a diversidade do futebol italiano.

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O atual formato de disputa do Primavera da primeira divisão é o mesmo desde a temporada 2017/18, que consiste na primeira fase em pontos corridos com 16 equipes de onde se classificam seis para os playoffs. As duas primeiras colocadas folgam na primeira rodada, enquanto o terceiro enfrenta o sexto e o quarto colocado enfrenta o quinto. Na parte de baixo da tabela, até a temporada passada caíam as duas últimas equipes de maneira direita e se realizava um play-out entre o 13º e 14º colocados para decidir o terceiro rebaixado.

Na edição atual, apenas uma equipe foi rebaixada diretamente (Ascoli), enquanto Lazio e Bologna (15º e 14º colocados, respectivamente) decidiram o play-out. Os Laziali saíram derrotados na prorrogação pelos Rossoblu, no estádio Renato Dall’Ara, na terça-feira passada, por 2×1. Após empate por 1×1 na ida, a equipe da capital chegou a sair na frente do marcador com Raúl Moro, porém, o troco do Bologna veio a galope no segundo tempo do tempo com o gol equalizador numa cobrança de pênalti e a virada no segundo tempo da prorrogação.

Não é a primeira vez que um time grande é rebaixado na primeira divisão do Primavera. Duas temporadas atrás, o Milan havia terminado na penúltima colocação. Por outro lado, apenas nessa temporada que o Napoli conseguira o seu retorno para a elite, subindo juntamente com o Lecce – que tem dois títulos no álbum de ouro do certame.

É importante ressaltar que o campeonato sofrera diversas mudanças no formato de disputa ao longo da história. Muito por conta da definição de categorias, que hoje é até o sub-19, mas que no passado era definido como “juvenil” ou, literalmente, de jovens que não tinham chances na equipe principal. Tanto que o “Campionato Primavera 2”, de jogadores sub-19, foi instituído em 2017, apesar de ter existido uma versão apenas para times da Serie B durante os anos 1960. Sob essa categoria ainda existe “Campionato Primavera 3”, que começara em 2020 e há a possibilidade da criação de uma quarta divisão em breve.

Mas o que tem a ver um campeonato atualmente sub-19 com a boa fase da Itália na Euro? É bem simples, na realidade. Donnarumma, Bastoni, Florenzi, Locatelli, Barella, Berardi, Insigne, Chiesa, Bernadeschi e Raspadori, que fazem parte da squadra azzurra na Eurocopa 2020, disputaram o Primavera no passado. Aliás, Florenzi foi campeão na temporada 2010/11 com a Roma, o penúltimo título dos Giallorossi. O sopro de juventude tem sido extremamente valioso para o Calcio de uma maneira geral e, por consequência, para seleção nacional.

Afora o fato de ser uma competição presente desde os primórdios do futebol italiano, com a existência do Campionato Cadetti – a versão dos anos 1950 que deu origem ao Primavera nos anos 1960 -, o nível de exigência tem aumentado com o passar dos anos por conta do aprimoramento estrutural e técnico de equipes menores, ajudando a fomentar um cenário muito mais prolífico para as competições profissionais.

Embora a conquista do Campionato Primavera não seja uma grande novidade na história do Empoli, que levantara o troféu pela primeira vez em 1998/99, os toscanos estão atrás de outras equipes no álbum de ouro da competição. Torino e Inter de Milão são os maiores vencedores com 9 títulos. Logo abaixo vem a Roma, com 8. Em terceiro temos a Lazio, com 5 títulos. Em quarto lugar estão Juventus e Atalanta, com 4 conquistas. Em quinto lugar, a Fiorentina com 3. E é aí que encontramos novamente o atual campeão. O Empoli está em sexto no geral acompanhado de outras três equipes que conquistaram o Primavera duas vezes na história: Cesena, Lecce e Perugia.

Essa é uma das graças do campeonato, pois equipes tradicionais, porém, com menor infraestrutura que os gigantes do Calcio, podem se tornar campeões também. O Perugia, por exemplo, conquistou o bicampeonato no começo dos anos 1990 e revelou Genaro Gattuso. Cesare Prandelli, que dirigira a Itália na Copa do Mundo de 2014, foi o treinador da Atalanta no segundo título de sua história, em 1997/98. Brescia, Udinese, Bari, Sampdoria, Palermo, Genoa e Chievo tem a mesma quantidade de títulos que Milan e Napoli: um.

Ainda existem os casos de Cagliari, Sassuolo, Bologna e Pescara, que nunca foram campeões, mas que recorrentemente fazem boas campanhas. Os Isolani, por exemplo, ficaram com o vice-campeonato em 2019/20, além de revelar Nicolò Barella, titular indispensável de Mancini na Euro 2020, edições anteriores.

Outro fator importante, principalmente na fase moderna do Primavera, é a gritante presença de jogadores estrangeiros nas equipes. Levando em consideração apenas a primeira divisão da temporada que se encerrou nessa quarta-feira, um montante de 49 jogadores de nacionalidade estrangeira participaram do Primavera 1.

França e Albânia, com 13 e 11 jogadores, respectivamente, lideram o ranking. O brasileiro Felipe Estrella, revelado pela Ferroviária, disputou partidas com a camisa do Genoa em 2020/21 e com a da Roma em 2019/20. Voltando novamente para o espectro da Euro 2020, Dejan Kulusevski, da Suécia, é um produto do terceiro título da Atalanta, em 2018/19. András Schaeffer, que meteu gol pela Hungria contra a Alemanha na última rodada da fase de grupos, jogou pelo Genoa na mesma oportunidade.

Fique de olho

Independentemente de ter sido surpresa ou não, o Empoli desempenhou o futebol mais vistoso desta temporada no Primavera. E o principal responsável pela agradabilidade no modo de jogar da equipe foi o pequenino Tommaso Baldanzi, que envergou a camisa 10. Com apenas 1,70m de altura, o meia-ofensivo é constantemente comparado a Sebastian Giovinco, ex-Juventus.

Com dribles desconcertantes, velocidade para arrancar entre as linhas e uma finalização precisa com o pé esquerdo, Baldanzi foi o responsável por orquestrar a equipe de Antonio Buscè em campo. Além das qualidades individuais, o camisa 10 é um jogador bastante participativo também sem a bola, participando com efetividade na pressão e recuperando a posse frequentemente com desarmes no meio-campo. Nascido em 2003, o meia marcou 14 gols, sendo dois deles na final contra a Atalanta.

Além do faro pelo gol, Baldanzi ajudou a servir os jogadores de frente, especialmente o centroavante Mirco Lipari, que está emprestado pela Juventus, mas que tem cláusula de compra pela equipe Azzurra. O centroavante marcou 13 gols na temporada e deu seis assistências. Quando a bola não parava em Lipari, ela chegava no atacante sueco Emmanuel Ekong, que fizera sete gols na temporada, sendo dois na final.

Para que o 4-3-1-2 funcionasse, e Baldanzi tivesse toda a liberdade necessária para criar, Buscè precisava de um meio-campista dinâmico e eficiente nas duas fases do jogo. Ele encontrou seu homem em Kristjan Asllani. É até irônico, mas o volante defensivo marcou sete gols na temporada, sendo um deles o de abertura na final em jogada ensaiada numa falta perto da área.

Forte fisicamente e sempre bem-posicionado a frente da linha da defesa, o albanês nascido em 2002 também se destacou nos passes longos e precisos, sempre buscando o ponto futuro no costado adversário. Foi numa dessas que ele encontrou Ekong no terceiro gol contra a Atalanta, por exemplo. Além da visão de jogo, Asllani se destaca nos chutes de longa distância e cobranças de falta.

Embora tenha ficado com o vice, a Atalanta viu Alessandro Cortinovis se sobressair. Há três temporadas na equipe primavera, o camisa 10 liderou a Dea na competição, tendo marcado nove gols e feito três assistências. Assim como Baldanzi, Cortinovis é um exímio playmaker, especialmente quando atua pelo lado esquerdo do ataque. E tal qual o 10 do Empoli, o 10 da Atalanta é um jogador com largo histórico de convocações para a seleção italiana na base.

Devido a algumas alterações no elenco ao longo da competição, Massimo Brambilla, bem-sucedido treinador da Atalanta, precisou alterar a forma de jogar da equipe – principalmente em comparação ao time de Gasperini. Cortinovis acabou sendo a escapatória do treinador, tendo utilizado o garoto tanto como meia-ofensivo ou extrema-esquerda.

Davide Ghislani, ala pela direita, é outro nome promissor da Atalanta. Explosivo e resistente, o italiano é uma opção muito confiável em jogadas de amplitude, além de conseguir gols em jogadas por dentro.

A Juventus flertou a maior parte do tempo com as primeiras posições durante a primeira fase, porém, a Velha Senhora acabou ficando com a terceira posição nos critérios de desempate e teve que jogar a primeira rodada dos playoffs. A equipe de Turim acabou sendo eliminada pelo campeão Empoli, mas pelo menos pode se contentar com a ótima temporada da dupla Fabio Miretti e Cosimo Marco da Graça.

Miretti é mais um meia-ofensivo que obteve destaque no Primavera 2020/21 e demonstra personalidade para subir de patamar. Nascido em 2003, o juventino possui passadas largas e atua com a cabeça erguida, para delírio dos saudosistas. Fabio também é muito bom finalizando a média-distância e consegue criar jogadas em espaços curtos. Já Cosimo da Graça é centroavante e se destacou no Palermo antes de ser captado pela Juve. Forte e oportunista, o luso-italiano marcou 15 gols na competição, três a menos que Gianluca Contini, do Cagliari.

Falando em artilharia, Martín Satriano, da Inter de Milão, e Lorenzo di Stefano, da Sampdoria, marcaram 12 e 14 gols respectivamente. O uruguaio que veste as cores Nerazzurri tem 1,87m e possui um excelente controle de bola, além de frieza na finalização. Por não se tratar de um jogador veloz, Satriano costuma se posicionar entre os zagueiros adversários para conseguir espaço. Já o italiano da Samp é mais um segundo atacante do que homem de área, haja vista que a equipe sub-19 atua no 3-5-2 e Montevago é o 9. Di Lorenzo gosta de atacar o espaço e finalizar de frente para o gol, seja em jogadas de velocidade pelo chão ou se infiltrando em bolas alçadas pelos alas.

Com a promoção da joia Ebrima Darboe para os profissionais, coube a Nikola Zalewski a responsabilidade em liderar a Roma na maioria dos jogos pelo Primavera. O polonês nascido em 2002 começou a chamar a atenção como ponta-esquerda, porém, na última temporada ele atuou mais como um meia-ofensivo. Destro, o camisa 10 se destaca pela explosão e a facilidade em mudar de direção em alta velocidade.

É muito difícil derrubar Zalewski, sendo uma arma muito efetiva tanto em espaços longos ou curtos. O jovem polonês da Roma também chama a atenção pela leitura das jogadas, sabendo discernir o momento correto entre finalizar a gol e passar para o companheiro. Na última temporada, Zalewski marcou 9 gols e deu 8 assistências, tendo feito uma bela dupla com Lamine Tall, centroavante senegalês nascido em 2001, que marcou 9 gols e anotou 3 assistências.

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