EL MÁS COLORIDO

Por @JessMirandinha A bola veio do canto direito, a partir de um contra-ataque do Atlante. Os defensores do Cruz Azul estavam dispersos e então não viram o atacante surgir. Mesmo pequeno — para benefício da dúvida, com 1,70m —, o jogador voou e meteu um voleio de perna esquerda. A beleza do movimento é realçada […]

Por @JessMirandinha

A bola veio do canto direito, a partir de um contra-ataque do Atlante. Os defensores do Cruz Azul estavam dispersos e então não viram o atacante surgir. Mesmo pequeno — para benefício da dúvida, com 1,70m —, o jogador voou e meteu um voleio de perna esquerda. A beleza do movimento é realçada porque o autor do gol iniciou aquela partida debaixo das traves. Ressalta-se: esta é a história de um goleiro e de um artilheiro, e não de um goleiro artilheiro, como Ceni e Chilavert; esta é a história do fluorescente, intranscendente e imponente Jorge Campos.

Apenas pelo nome, alguns desavisados poderiam não associar a cara ao crachá. Mas basta mostrar alguma parte do uniforme de Campos para tudo mudar. Sim, é aquele goleiro, trajando roupas que ele mesmo desenhou, em cores tão vibrantes quanto a sua postura em campo e fora dele — não à toa foi o primeiro jogador mexicano de futebol a ser patrocinado pela Nike, estrelando inclusive grandes comerciais.

Após não ser aprovado em um teste para o Pumas e de ser dispensado pelo seu porte físico no Cruz Azul, em meados dos anos 80, o arqueiro precisou trabalhar bastante sua impulsão e reflexo para compensar a sua baixa estatura. Assim, foi integrado ao elenco profissional justamente do Pumas, fazendo a sua estreia em dezembro de 1988, por conta da lesão do goleiro titular, Adolfo Rios.

Como Rios era seu contemporâneo, Campos tinha noção de que demoraria a assumir a vaga principal, a não ser em excepcionalidades. Entediado de esquentar o banco, ele queria jogar. Dada a sua agilidade, Jorgito resolveu se arriscar como atacante e, contrariando o senso comum, demonstrou habilidade e faro de gol, disputando a artilharia da temporada 1989/90, ao marcar 14 gols na liga, com Luis Garcia, o camisa dez da seleção mexicana na Copa de 1994. A venda de Adolfo, em 1990, abriu as portas para que finalmente Campos tivesse uma sequência na sua posição preferida, conquistando o campeonato nacional de 1990/91.

Cada vez mais fala-se da divisão entre goleiros reativos e ativos. Para El Brody, porém, uma outra categoria haveria de ser criada: Campos era pró-ativo ao quadrado. Ele saia para dividir em cima dos adversários e também aproveitava para iniciar contra-ataques a partir da bola nos pés. Suas defesas eram acrobáticas, algumas até circenses. Completava seu pacote de originalidade a tendência de usar os números 9 ou 19 quando no gol, e 1 quando se lançava ao ataque, fora subir numa bola para ficar mais alto que seus companheiros na hora da foto oficial.

Mas o melhor de Campos se deu à nível internacional. Iniciando a ótima geração mexicana dos anos 90, o México foi vice-campeão da Copa América de 1993, em sua primeira participação no torneio. O titular da meta era, claro, Campos, que só não pode deter o anjo endiabrado de Batistuta, responsável pelos dois gols da vitória albiceleste.

Sediada no México, a segunda edição da Copa Ouro ocorreu dias depois do vice recém conquistado. Jogando com o apoio intenso de sua torcida, o México destroçou seus adversários, aplicando, na final, uma impiedosa goleada de 4 a 0 contra seus arquirrivais, os EUA. As experiências de 1993 foram determinantes para o mundial disputado no ano seguinte, quando El Tri vendeu uma honrosa eliminação nos pênaltis para a Bulgária, nas quartas de final, cuja participação no torneio foi bastante celebrada, afinal, por do Cachirules — quando o México escalou gatos nas eliminatórios continentais sub-20 —, o país fora impedido de concorrer a uma vaga no mundial da Itália.

Jorge deixou o futebol mexicano em 1996, participando do início da recém criada MLS, com passagens pelo LA Galaxy e Chicago Fire, por exemplo. Campos conquistou o bi da Copa Ouro também em 1996, ao vencer o Brasil na final — a Seleção fora convidada para participar. Se este vice para o México não abalou o brio brasileiro, pois a seleção olímpica havia sido escalada, a derrota na final da Copa das Confederações em 1999 instituiu uma crise no time de Vanderlei Luxemburgo, cujo “pojeto” foi levar uma equipe alternativa mais uns jovens talentos, como Ronaldinho Gaúcho, em detrimento às grandes estrelas. Entre essas duas conquistas mexicanas, Campos disputou também o Mundial da França, saindo nas oitavas para uma bem equilibrada Alemanha, apesar da boa atuação na meta.

Na virada do século, a idade afetou El Brody, mas antes de se aposentar em 2004, no pequeno Puebla, Jorge Campos foi à Copa de 2002 para passar sua experiência aos goleiros. Encerrou sua trajetória pela seleção sem ter tido a oportunidade de jogar na linha e, talvez por isso, tenha extravasado sua personalidade nos tão famosos uniformes do México. Por fim, Campos teve uma curta carreira como auxiliar técnico de Ricardo La Volpe, em 2005, o qual acreditava que El Brody poderia assumir o rumo da equipe tricolor após sua saída. Imagina se isso tivesse acontecido!

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