Os desafios de Allan Aal no Guarani

Depois das passagens por Paraná Clube e Cuiabá em 2020, o treinador Allan Aal tem o desafio no Guarani e, gentilmente, atendeu o Footure para um entrevista sobre suas ideias, Paulistão, Série B e muito mais

Depois de comandar o Paraná na Série B 2020, ser demitido sem muitas explicações, e conquistar o acesso para a Série A com o Cuiabá, o técnico Allan Aal tem um novo desafio: o Guarani. O treinador atendeu o Footure antes da estreia no Paulistão (derrota para o Ituano por 3×0) e falou sobre suas ideias de jogo, os desafios de comandar o Bugre, as relações com os jogadores e, claro, a Série B 2021 que promete ser uma das mais difíceis dos últimos anos.


Até chegar ao Guarani, Allan Aal passou por diferentes contextos, algo que ele considerou fundamental em sua caminhada como treinador. Depois de se aposentar, seguiu pensando sobre o futuro e estar na beira do gramado já era uma possibilidade. O início no Rio Branco do Paraná e a passagem pelas categorias de base do Coritiba (sub-17 e sub-20) antes de chegar ao Paraná Clube foram, segundo ele, serviram para conhecer diferentes tipos de jogadores e seres humanos.

“Eu fiz o caminho que julguei importante: trabalhar em equipes do interior, categorias de base para ir pegando confiança e assim dar um salto maior. Não foi fácil, mas ajudou muito nisso”, completou o treinador.

No Paraná Clube, chegou a brigar pela classificação à Série A, mas acabou sendo demitido do clube sem muitas explicações. O trabalho realizado no clube fez com que o Cuiabá, logo após a saída de Marcelo Chamusca, o convidasse para seguir o trabalho.

“Peguei um grupo mais experiente, já montado e que logo abraçou a ideia. Entendeu alguns princípios diferentes do que vinha sendo utilizado e conseguimos fazer um casamento que deu resultado logo. Um acesso depois de 35 anos. Aproveitamos coisas positivas do Chamusca, não podemos deixar de citar. Mas quando tivemos tempo para implantar nossas ideias, deu tudo certo”, lembra Allan Aal.

Depois disso, anunciou sua saída e aceitou o desafio de comandar o Guarani na Série B 2021 num projeto de reformulação e reestruturação do clube que foi 13º lugar na competição 2020: “A gente precisa estar consciente de que a camisa do Guarani é muito grande. Uma torcida apaixonada”.

Para isso, na sua formação de elenco, sempre pensa em maximizar a qualidade dos jogadores do elenco e, claro, implementando aos poucos suas ideias. O primeiro desafio é o Paulistão 2021, competição que ele considera muito competitiva e chegou a tratar como um “mini-Brasileirão” pelo número de participantes das Séries A, B, C e D. Apesar de tudo isso, ele sabe que o mais importante neste primeiro momento são os resultados:

O que dá confiança são os resultados. Você pode ter o melhor trabalho de campo, mas se não tiver resultados de campo, não adianta. O jogador pensa diferente quando se está ganhando.

Allan Aal, técnico do Guarani

O que esperar dentro de campo: liberdade ou uma equipe posicional? “A tomada de decisão tem que ser em função do coletiva. Jamais vou proibir um drible. Eu só vou considerar um erro se o drible for utilizada apenas em prol individual, isso é egoísmo. Essa linha tênue entre improvisar, achar um drible em prol do grupo, a liberdade é total, é o que precisamos trabalhar. Temos que ter a liberdade com responsabilidade. Seja ela mais anárquica ou mais conservadora, ela reflete nos outros 10 jogadores. A obrigação do treinador é montar uma tática que facilite a execução dos jogadores. Sem tirar a essência do futebol brasileiro”, respondeu o treinador.

É claro que o Guarani também pensa na Série B 2021 e serão diversos desafios com Cruzeiro, Botafogo, Vasco da Gama e outros grandes clubes do Brasil na competição. “Eu falei brincando que vai ser um Série A2. Em termos de tradição, jogadores de alto nível. Nós estamos vendo a movimentação de mercado. Vai ser difícil e equilibrada. Dificilmente se consegue antever os quatro que irão subir, no máximo um ou dois. Vai valorizar cada vez mais”, frisou.

Uma competição que também mudou seu estilo e deixou de ser aquela apenas “brigada” e com alta intensidade:

“A Série B mudou a maneira de se jogar, de se pensar, o investimento. Você vê jogadores do América/MG, da Chapecoense que tranquilamente fariam parte de grupos da Série A. Obviamente que é uma intensidade maior, acirrados. O quarto joga contra o 17º que você não sabe o que vai dar. A proposta de jogo ficou parecida com a Série A. A maior diferença é a leitura de jogo e de gana. Aqui não é só um que ganha, são quatro brigando pelo acesso e essa competitividade acaba sendo um pouco maior que a primeira divisão”

Allan Aal

E agora, com a temporada em andamento, estaremos de olho na sequência de trabalho de Allan Aal no Guarani. Você confere outros trechos da entrevista:

Vontade de virar treinador

“Sempre tive uma liderança dentro de campo. Uma visão global do jogo. Até pela posição (zagueiro), dava pra ter uma visão sobre o jogo todo. Logo que parei não pensei de imediato em virar treinador, esperei um pouco e pensei sobre o que daria pra sequência. Pegamos gosto, fomos estudando”

Liderança

“A gente buscava ser o chato positivo (risos). Com a bola, sem a bola. Orientar os companheiros não só no momento defensivo, mas também na fase ofensivo. Eu passo isso para os jogadores, a comunicação. Muitas vezes você enxerga coisas que os companheiros não enxergam. 22 olhos são melhores que 2. Foi tudo muito natural (virar treinador).”

Entender a cultura do clube que trabalha

“O que o torcedor mais gosta é de ganhar. Obviamente, em alguns momentos, mesmo ganhando há contestações. O futebol é muito dinâmico, independente do local. As ideias de jogo são muito parecidos, mudam por alguns situações: uma linha mais alta, uma transição mais lenta. Algo nesse sentido.

A cidade entende que o clube passa uma reformulação. O Guarani tem salários em dia, estruturas prontas para trabalhar e tudo isso é um processo. A gente sabe da história dos jogadores que vestiram a camisa do Guarani. A gente não pode tomar decisões para satisfazer só a torcida, nem só os jogadores, nem só os dirigentes. É melhor pensar no contexto”

Jogadores questionando

“Hoje a comunicação está na mão de todos os jogadores. Ele conversa com companheiros, entra no YouTube e vê os treinos. Antes, nosso meio de informação era jornal e rádio. Esse questionamento faz todo mundo evoluir e sair da zona de conforto. Procuro sempre estar falando com eles, não só sobre treinamentos, mas sobre o nível de entendimento. Meia fração de segundo faz a diferença entre fazer ou sofrer o gol”.

Intensidade e viagens no Brasil

“Posso falar por experiência própria quando trabalhei no Cuiabá com jogos a 35ºC. Você pode ter sua ideia de pressionar todo tempo, mas com essa temperatura não dá. O Brasil é muito grande, um continente. Uma maneira de se jogar no Sul, outra no Centro-Oeste, outra no Nordeste. Um fator diferencial no Cuiabá foi o fato de manter a intensidade com as substituições. Nós tivemos vários jogos que os jogadores que entraram decidiram. Obviamente que o atleta quer estar jogando, mas quando você consegue passar pra ele que ele pode ser útil entrando naquele contexto, é muito importante. Nesse calendário sem férias, apertado, vai ser fundamental. As equipes que tiveram elencos equilibrados, jogadores comprometidos vai fazer a diferença”.

Formação de elenco

“O mais importante ter jogadores versáteis. Ter duas ou três funções dentro de campo e te dar a possibilidade de usar o mesmo atleta em diferentes contextos. Ter jogadores diferentes ou iguais, é diferente dos versáteis. Isso não é sobre quantidade, mas sim sobre qualidade. Você usar as trocas como em outros esportes por desgaste físico e não necessidade tática acaba fazendo diferença. Não procuro ter jogadores semelhantes, nem um lateral mais ofensivo ou diferente, mas sim jogadores que possam ser utilizados em diferentes contextos”


As fotos são de Thomaz Marostegan/Guarani FC

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