O que Fred precisa para render no Fluminense
O centroavante Fred está de volta ao Fluminense. Aposta correta? A resposta desta pergunta não passa somente pelo jogador
Bicampeão nacional, carioca em 2012, herói de uma fuga épica contra o rebaixamento, e terceiro maior artilheiro da história do Fluminense. A ficha de Fred no tricolor carioca é marcante e, não à toa, o experiente centroavante já tem seu lugar na galeria de ídolos das Laranjeiras. Agora, prestes a completar 37 anos de idade, o jogador retorna para possivelmente encerrar a carreira após um 2019 de mais baixos do que altos no rebaixado Cruzeiro. Saber se o desfecho desta bonita história em verde, branco e grená será positiva passa muito pela forma correta de utilizá-lo.
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O peso de Fred na história recente do futebol brasileiro e particularmente no Fluminense é imperativo. Difícil imaginá-lo, por exemplo, brigando por posição ou sendo preterido ao jovem Evanílson, que vinha sendo escalado por Odair Hellmann como titular até a parada forçada pela pandemia. São jogadores com características muito diferentes e isso deve influenciar diretamente naquilo que o treinador havia traçado como modelo para o tricolor carioca.
Evanílson não é um ‘’camisa 9 típico’’ como Fred. Por mais que atue bem no papel de referência central ofensiva, na base do clube jogou em diversos momentos como ponta. Tem apenas 20 anos de idade, está no segundo ano como profissional, e logicamente possui muito mais mobilidade. Desta forma imprime uma movimentação ao time que Fred não cumprirá, e que o coletivo tricolor terá que se adaptar, já que tem outro atleta com movimentos mais reduzidos no sistema ofensivo, o meia Nenê.
Isso não é especificamente um problema. Nenê é o melhor jogador da equipe em 2020. Fred também pode chegar e fazer essa diferença por sua qualidade técnica e experiência. Sempre foi um líder dentro do vestiário e, por mais que isso tenha lhe gerado também alguns problemas de relacionamento dentro do clube, não parece que será o caso desta vez. Odair já mostrou que consegue gerir bem os egos de grandes estrelas. Manteve D´Alessandro participativo e interessado mesmo deixando-o no banco em boa parte do tempo que treinou o Internacional. Paulo Henrique Ganso é reserva atualmente no Fluminense e até então não demonstrou insatisfação pública com o treinador.
Claro que cada jogador se revela um caso diferente, mas muitas projeções em cima desse cenário parecem exercício de adivinhação. O que podemos tratar de forma palpável é o encaixe tático e a resolução de alguns problemas que o time apresentou nesses primeiros meses do ano. O Fluminense com Odair é uma equipe em formação e, portanto, com muitas oscilações coletivas. As principais são de ordem ofensiva.
O ritmo da troca de passes é lento muitas vezes, assim como a movimentação para gerar linhas de passe perto da área. Outro detalhe importante: os recuos de Nenê. Por ser o atleta de maior potencial criativo do time titular, muitas vezes recua demais para agilizar a construção ofensiva com seus bons passes. Isso acaba afastando-o muitas vezes da intermediária ofensiva, onde pode acrescentar mais. Distanciá-lo tanto assim de Fred pode agravar esse problema.
Quando esse tipo de coisa acontece com Evanílson em campo, a mobilidade oferecida pelo jovem atacante é um contraponto ao isolamento inicial. Ele faz muitas diagonais em velocidade em cima da última linha de defesa adversária, movimentos rápidos em profundidade também, pontos que Fred não oferecerá. Manter Nenê entre as linhas de meio e defesa do adversário é determinante para acionar Fred da forma que ele mais gosta: de costas no pivô ou dentro da área para finalizar.
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Na região citada, Nenê se aproxima com facilidade dos pontas e laterais para promover tabelas e triangulações, dá qualidade a esse momento final da construção tricolor. Por mais que Wellington Silva e Marcos Paulo flutuem constantemente dos lados para o centro, são muito mais úteis atacando a profundidade a partir daí do que articulando próximo à área, principalmente o primeiro.
Para que essa engrenagem funcione é de suma importância uma participação mais efetiva dos volantes na iniciação das jogadas. Odair sabe bem disso. Tanto que promoveu a titularidade de Yago Felipe no setor. Henrique virou reserva. Hudson e ele eram os titulares até a parada pela pandemia. O cenário melhorou, mais ainda não é o ideal. A dupla precisa dar mais velocidade e dinamismo nos passes que iniciam os ataques, e serem mais efetivos perto da área rival quando o time se instala no campo ofensivo.
Dentro da realidade técnica do atual elenco do Fluminense e o contexto histórico que o cerca, Fred ainda é uma boa aposta. Mas como ‘’produto final’’ de uma equipe, tem que ser abastecido corretamente. Não vai mais ‘’gerar um sistema ofensivo’’ como fez em alguns momentos da carreira. O sucesso dele na segunda passagem no Tricolor passa irrestritamente pelo acerto do time.
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