É hora do desempenho de Fred ser apreciado
Dúvidas cercam o seu jogo há algum tempo, mas o brasileiro segue firme como uma peça importante no Manchester United e na Seleção; precisamos reconhecer o seu valor
O que é ser um meio-campista? Para alguns, o significado pode estar em ter uma qualidade técnica diferenciada, executar lances de efeito sempre que possível, chamar a atenção do torcedor e frequentemente entregar gols ou assistências. Alguns meias de fato conseguiram preencher todos esses quesitos e serão lembrados pelos torcedores que os acompanharam. É óbvio que essas coisas vão roubar os holofotes.
Por outro lado, não podemos esquecer que o papel original de um jogador da posição – e aqui falo do meia central, aquele que fica à frente dos zagueiros e atrás das peças mais ofensivas – não tem os fatores citados acima como obrigações. Na maioria das vezes, o que ele precisa fazer é contribuir de forma geral com a defesa e o ataque, dar equilíbrio ao time, guardar sua posição e servir de base para que os companheiros possam se soltar.
Por exemplo… em um mundo onde existe Paul Pogba, que faz coisas espetaculares com a bola nos pés e há tempos não engrena temporadas de sucesso, existe Fred, que não chega nem perto do repertório do francês, mas nessa disputa costuma vencer quando o assunto é vaga como titular. Por que, então, ainda existe certa resistência quando se fala da qualidade do brasileiro? Não usando isso como uma crítica ao camisa 6, que é excelente e no momento está lesionado, mas tendo como parâmetro pra contextualizar.
Antes de tudo, é importante citar que ele não tem o hype de alguns dos seus parceiros de posição. O camisa 17 do Manchester United não tem um nome ‘forte’, não tem uma trajetória grandiosa no futebol brasileiro e não tem momentos marcantes no olhar do ‘torcedor ‘médio’. Isso já faz com que ele seja =visto em patamares abaixo em relação ao sugerido pelo seu desempenho.
Que é, fazendo uma média das últimas temporadas, muito bom. Depois de um início conturbado e uma adaptação lenta ao nível de exigência da Inglaterra, Fred foi um dos atletas que ganhou sobrevida com a chegada de Ole Gunnar Solskjaer, no final de 2018. Desde então, pode ser tranquilamente considerado um dos pilares da equipe.
Teve um momento ou outro de oscilação, mas esses momentos foram muito menores do que o da maioria do elenco. E é fato que mesmo em suas melhores fases erros foram cometidos e alguns podem ter ‘marcado’ ele por isso. O brasileiro às vezes toma decisões precipitadas em campo e erra passes que um craque da posição não erraria. É a parte do seu jogo que necessita de um foco pra que consiga subir de vez de prateleira e se afastar mais das críticas.
Entretanto, nem todo jogador vai ser um craque da posição e, por mais que o United busque esse nível de excelência no mercado, a importância do ex-Internacional e Shakhtar Donetsk não pode ser menosprezada. No saldo de suas atuações, os aspectos positivos sobram em relação aos negativos – e sem sua presença a equipe certamente teria sofrido mais nas campanhas recentes.
Fred pode não sair driblando dois ou três; pode não chamar a atenção da mídia como outros meias; pode ter, sim, aspectos a serem desenvolvidos. Mas é um meia que consegue ajudar na saída de bola, na cobertura dos companheiros, nas transições e, principalmente, na entrega sem a posse. É sem dúvida alguma um dos marcadores mais chatos de se enfrentar na Premier League, defendendo com intensidade do primeiro ao último minuto e deixando tudo dentro de campo.
Isso faz com que tenha uma moral praticamente garantida com os treinadores – sua titularidade com Tite na Seleção está longe de ser por acaso, como alguns imaginam – e sirva de (quase) garantia de consistência em um United que ainda tenta se encontrar. Além de ser uma peça de confiança pelo trabalho que fez em áreas mais centrais nos últimos anos, stá ganhando liberdade para avançar desde os jogos com Carrick de interino e o resultado agrada.
Está desenvolvendo entrosamento com Alex Telles e Sancho, sendo muito útil como a base para as triangulações pela esquerda e chegando em posições de finalização/assistência quando possível. Foi assim que marcou, sofreu pênalti e deu passe pra gol nessas semanas. Ralf Rangnick é um treinador conhecido pelo apreço por atletas agressivos, intensos e que se desdobram pelo coletivo, então a moral do Fred pode subir mais ainda.
Não quer dizer que ele é perfeito ou imune às críticas – o clube ainda precisa evoluir o desempenho do seu meio-campo e deve buscar isso através da janela de transferências e do centro de treinamentos -, mas o brasileiro merece os créditos que tantos outros recebem quando vivem boas fases em ligas de alto nível. Estamos falando de quem é provavelmente o jogador de linha mais consistente do Manchester United na temporada – que já está chegando na metade. Mesmo que o time não esteja no patamar que pretende estar, isso não é pouca coisa.
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1 comentário
O Sr. André Risek precisa ler sobre Frederico Rodrigues Santos. Evolução constante. Vai, Fredinho!