Gabigol e Jorge Jesus, o casamento perfeito que impulsiona ainda mais o Flamengo
Eleito o 'Rei da América' em 2019, Gabigol teve todo seu talento potencializado por Jorge Jesus e é possível entender isso a partir de movimentos táticos
Melhor jogador do Brasileirão e da Libertadores 2019, decisivo na final histórica contra o River Plate, média altíssima de gols e assistências, ídolo de crianças em todo o Brasil. Gabigol já tinha uma história bem relevante no futebol brasileiro com a camisa do Santos, mas desde que mudou-se para o Flamengo no início do ano passado vem, como gosta de dizer o seu companheiro de ataque Bruno Henrique, “mudando o patamar” de sua carreira.
Faça parte do Footure Club e receba conteúdos exclusivos diariamente
Com apenas 23 anos e contrato até 2024 com o rubro-negro, dá pra imaginar o que Gabriel Barbosa pode construir no clube de maior torcida do Brasil. Não são poucos os torcedores, até mesmo os mais velhos, que o colocam acima ou na mesma prateleira de Nunes na história do ‘Mais Querido’. Os feitos, de fato, são muito relevantes, o camisa 9 de cabelos descoloridos está bem acima da média do futebol jogado na América do Sul, mas é difícil não relacionar o seu ápice de desempenho com a chegada de Jorge Jesus.
Não se trata de dizer que Gabigol seria um fracasso no Flamengo ou se transformará em um “jogador comum” sem Jorge Jesus. Mas sim constatar que nenhum outro treinador entendeu tão bem o funcionamento do atacante como o “Mister”. Gabriel é inventivo, explosivo, imprevisível, veloz, técnico, habilidoso e potente. Deixá-lo preso ou restrito a uma função específica no ataque é podá-lo. O português compreendeu isso com muita rapidez e deu a Gabigol aquilo que o potencializa a ponto de desequilibrar o futebol brasileiro e latino-americano: liberdade total.
Obviamente que para funcionar e necessário um sistema ofensivo bem organizado, com os demais jogadores entendendo o papel que devem cumprir quando Gabriel Barbosa circula pelo campo. Isso o Flamengo tem mostrado que possui de sobra. Certamente um coletivo como jamais o camisa 9 teve na carreira, mesmo com os ótimos números que ostenta desde que atuava no Peixe.
Com Abel Braga no próprio Flamengo, e no Santos, Gabriel variou nos três pontos do ataque. Centroavante, ponta-direita e ponta-esquerda. Algumas dessas funções em maior ou menor escala, mas sempre dentro de uma realidade mais específica. Por vezes era o centroavante de mobilidade que fazia diagonais para os lados, por vezes o “falso 9” que flutuava na intermediária, ou o ponta agudo que buscava área com a bola dominada de frente, mas que tinha obrigações defensivas para fechar um setor ou acompanhar um determinado lateral.
Hoje atua na maior parte do tempo como um atacante ao lado de Bruno Henrique, mas também parte como centroavante do 4-2-3-1 que Jorge Jesus gosta de variar. A questão é a liberdade, o comportamento completamente livre de amarras que o português lhe presenteou. Gabigol sai para os lados, flutua pela intermediária, busca o jogo nos pés dos zagueiros ou de Willian Arão. Participa muito e conta com as compensações de Bruno Henrique ou Arrascaeta para que o time não perca profundidade e presença de área.
Pelas características já citadas de seu futebol, estar de frente para a defesa rival, principalmente partindo do lado direito do campo, onde tem um raio de ação maior com a sua calibrada perna esquerda, faz com que ele possa buscar o tipo de jogada que mais lhe favorece. Além disso cria constante dúvida em sistemas defensivos rivais. Pelo desequilíbrio que gera, obriga muitas vezes um zagueiro ou o lateral a se afastarem demais de seus setores de origem, proporcionando valorosos espaços ao Flamengo.
A passagem frustrante pelo futebol europeu pode ser explicada, entre outras coisas, também pelo seu aproveitamento tático. Como basicamente tudo no futebol, é preciso analisar o contexto. Num ambiente de nível técnico e físico mais elevado que o nosso, talvez o seu aproveitamento de forma tão específica não seja justificado. O mesmo pode se aplicar a carreira que teve até aqui na Seleção Brasileira. Boas participações, mas nada de tanto destaque. Gabigol é um atacante de DNA tipicamente brasileiro.
Por mais que o futebol de hoje esteja muito mais globalizado também na formação tática e técnica dos atletas, o camisa 9 do Flamengo é um protótipo da inventividade, da capacidade de improviso e soluções criativas que nossos principais “avançados” da década de 90 e do início dos anos 2000 tinham. Vive a sua melhor versão!
Comente!