As impressões iniciais do Palmeiras de Luxemburgo
Um dos treinadores mais vencedores do país tem, em mãos, um Palmeiras recheado de opções. Quais serão os conceitos aplicados à equipe ao longo da temporada?
Os títulos conquistados nos últimos tempos não livraram o Palmeiras de críticas massivas em relação ao estilo de jogo praticado pelo time. Na temporada passada, de pouco brilho dentro de campo, a impaciência dos torcedores foi nítida e gerou consequências fora dos gramados. Vanderlei Luxemburgo, agente da almejada transformação para 2020, trabalha para apresentar um Alviverde renovado — e, ainda que seja cedo, já é possível observar a mão do treinador na equipe.
Antes, e por um bom tempo, a proposta do Palmeiras era por um jogo mais direto. De inegável eficiência para o time, o modelo buscava desestruturar os adversários, que tinham a liberdade para trabalhar com a bola em um primeiro momento. Os jogadores do Verdão, assim, poupavam seus piques para os contra-ataques, ao mesmo tempo em que condicionava o rival a se encontrar fragilizado defensivamente, dada a dificuldade para acessar a área defendida por Gustavo Gómez e companhia.
As adversidades apareciam quando o adversário concedia a posse ao Palmeiras, que acabava dependendo do brilhantismo de atletas como Dudu para chegar à meta rival. Com Luxa, tudo indica que o time terá uma postura diferente: nos amistosos de 2020, o Alviverde tem buscado atrapalhar o oponente desde a sua saída de bola e, com menor pressa, se organizar no ataque. É uma equipe com ideias renovadas, que ergueu um troféu na pré-temporada graças a alguns desses conceitos.
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
Partindo de um 4-2-3-1, o Palmeiras teve, sob os olhos de Mickey, uma postura maleável. Mesmo com Raphael Veiga iniciando na esquerda, Dudu do outro lado e Lucas Lima por dentro, eles não se posicionam no ataque necessariamente em uma linha de três atrás de Luiz Adriano. Lucas Lima, por exemplo, tem liberdade para aparecer para o jogo nos dois lados e também na base da jogada (o que ficou bastante claro no duelo contra o New York City); enquanto o outro meia, Veiga, alterna entre a flutuação por dentro e a conexão com o lateral do seu lado.
Com Dudu saindo da direita e ficando ao lado de Luiz Adriano, aproveitando a capacidade associativa do centroavante, o time parece se estruturar em um 4-3-1-2 (ou, aos mais românticos, o 4-4-2 losango popularizado pelo próprio Luxa no início dos anos 2000). Mecanismos como essa troca permitem que, com o perdão da redundância, o time não precise se desorganizar para atacar organizado, já que marca em um 4-4-2, com os mesmos dois atacantes lado a lado.
Além dos quatro jogadores de ataque, os laterais também aparecem na frente, mas não de modo simultâneo. Caso haja a possibilidade de um cruzamento, um dos volantes parece sempre pisar na área. Assim, há mais jogadores próximos do gol tanto para o arremate como para pressionar com a alternância na posse. Já nas saídas de bola, os laterais exercem um papel secundário: contra o NYCFC, Marcos Rocha e Victor Luis avançavam para a linha do meio-campo, enquanto um dos volantes recua, formando uma linha de três com os zagueiros.
JUVENTUDE E EXPERIÊNCIA
Luxemburgo promete apostar em jovens para 2020. Com a lesão de Bruno Henrique no último amistoso, inclusive, é provável que alguns deles sejam titulares na estreia do Paulistão, contra o Ituano, na quarta. Gabriel Menino e Patrick de Paula são opções promissoras para o meio, bem como Alan Guimarães, para uma posição mais avançada. Esteves, para a lateral esquerda, e Gabriel Veron, para o ataque, também são alternativas jovens e recheadas de potencial.
Inevitavelmente, jogadores experientes seguirão formando a espinha dorsal da equipe — alguns deles, entretanto, com funções distintas das habituais. Se Dudu parece ter sido presenteado com uma grande liberdade para movimentação, Felipe Melo também ganhou uma nova incumbência: a de atuar como defensor. Só saberemos se, nesse caso, o presente do treinador foi de grego, ao longo da temporada. No entanto, é fato que ter um jogador com qualidade no passe, na primeira linha, pode ser benéfico tanto para times que gostam tanto de propor o jogo como de acelerá-lo. A dúvida fica pelo excesso de faltas que o (até pouco) volante costuma cometer, tal como a questão posicional, uma vez que é uma novidade para o atleta.
Avaliar se as ideias de Luxemburgo serão benéficas ao Palmeiras é uma tarefa a ser realizada a longo prazo. Até agora, com a curta amostragem, as impressões iniciais são de que há a tentativa de alterar uma cultura desenvolvida no Allianz Parque nos últimos anos — e as consequências disso podem ir do céu ao inferno, ou vice-versa, em um estralar de dedos.
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