JAIR NO SANTOS E O ESFORÇO PARA NÃO PRODUZIR UMA 'CONTRACULTURA'
Por @RodrigoCout Comandante de um bem sucedido Botafogo versão 16/17, Jair Ventura executou no Glorioso um plano de jogo baseado num sistema defensivo forte e na proposta reativa como premissas principais. Contratado pelo Santos em 2018, ele começa o segundo trabalho de sua ainda curta carreira como treinador buscando um caminho diferente. ”No time do […]
Por @RodrigoCout
Comandante de um bem sucedido Botafogo versão 16/17, Jair Ventura executou no Glorioso um plano de jogo baseado num sistema defensivo forte e na proposta reativa como premissas principais. Contratado pelo Santos em 2018, ele começa o segundo trabalho de sua ainda curta carreira como treinador buscando um caminho diferente. ”No time do jogo insinuante e ofensivo”, o promissor Jair tenta acrescentar novas vertentes ao seu trabalho.
Assim que foi contratado pelo Peixe, o filho do Furacão da Copa de 70 passou a sofrer indagações de quem observa com mais atenção os meandros táticos do futebol. Não é tão difícil perceber uma antítese entre o que foi praticado pelo clube carioca nas duas últimas temporadas e o que sempre pautou a formação de jogadores e grandes equipes do Alvinegro Praiano.
O que o Santos vem apresentando dentro de campo, porém, não vai no sentido de uma “contracultura” do clube. Ao que parece, não teremos o emblema que revelou Pelé e tantos outros craques de aptidão ofensiva, “dando” a bola ao adversário como principal estratégia. Não que isso seja uma crítica às equipes que adotam tal postura. Não existe um modelo único e correto de se jogar futebol! Correto é adaptar o material humano que você tem às idéias mais pertinentes para àquela realidade. Criar mecanismos e estratégias para suplantar às qualidades do adversário e aproveitar as falhas oponentes.
Mas é importante também entender o contexto histórico. Tratando-se de uma camisa pesada como a santista e de um modelo tão tradicional, é de bom tom segui-lo. Gera empatia com o torcedor e consequentemente dá tranquilidade para que os jogadores assimilem a ideia.
Plataforma Tática
O Santos vem utilizando a tradicional variação 4-1-4-1 para defender, 4-3-3 para atacar. Uma característica forte no momento defensivo vem sendo a última linha sempre bem sustentada. O sistema de marcação é ”por zona”, o que ressalta ainda mais a qualidade dos defensores do elenco. David Braz evoluiu bastante nos últimos anos, e os jovens Lucas Veríssimo, Luiz Felipe e Gustavo Henrique são excelentes, principalmente saindo jogando.
Com a lesão de Victor Ferraz, Daniel Guedes vem muito bem na lateral direita e Jean Mota e Caju revezam-se na esquerda. No meio, Alison é o primeiro homem e joga por trás de Renato e Vecchio. Bruno Henrique seria titular absoluto na ponta direita, mas lesionado dá lugar a Eduardo Sasha em bom início de temporada. Copete segue dono da ponta esquerda e Gabriel Barbosa, o “Gabigol”, chegou para tomar conta da referência ofensiva e acrescentar mais qualidade ao ataque. Na meta, o ótimo Vanderlei segue em grande fase.
Parte Defensiva
Especialidade de Jair Ventura, a equipe vem apresentando posicionamento correto, mas oscila na intensidade da abordagem de marcação. Isso varia muito de acordo com o atleta que está mais próximo do adversário que tem a bola. Renato e Vecchio têm deixado bastante a desejar neste aspecto. Sasha também possui dificuldades. Praticamente inoperante com a bola, Alison é importante para compensar esta pouca combatividade na faixa central. Defensivamente ele dá conta do recado. Posiciona-se bem na função. A marcação na bola aérea é individual e tem funcionado.
A transição defensiva têm sido o principal pecado do time santista. Como podemos ver no gráfico abaixo, a maioria dos gols sofridos foram oriundos de contra-ataque. Há demora de alguns jogadores na mudança de atitude entre atacar e defender. É algo que Jair Ventura precisa aprimorar.
Parte Ofensiva
Num elenco com várias opções de velocidade no ataque é natural que o ponto forte desta equipe seja a transição ofensiva. E neste aspecto o Santos nem parece estar em início de temporada. Os mecanismos estão bem automatizados e Vecchio é muito importante acionando o trio de frente. Além disso, os laterais possuem velocidade e força para produzir boas conduções. Por mais que apenas um gol tenha sido marcado em jogadas deste tipo em 2018, é uma forma de ”combustão” no Peixe.
A principal estratégia em fase ofensiva é atrair o bloco de marcação do adversário para justamente tirar proveito da velocidade citada acima. São duas as formas que o Santos de Jair Ventura têm buscado para conseguir o cenário.
A primeira delas é o passe longo e por elevação buscando as costas da zaga rival quando a última linha está avançada. Jean Mota, Renato e Vecchio são importantes. A segunda delas, e a que mais gerou gols ao Peixe, é a jogada combinada pelos lados. É muito comum ver o meia interior (Renato, Vecchio, e consequentemente Jean Mota ou Léo Cittadini, ou num futuro próximo Vitor Bueno) acionando com passe médio e rasteiro o ponta do lado da jogada, e este escora a bola para a ultrapassagem do lateral. A jogada é finalizada geralmente com um cruzamento rasteiro buscando Gabriel ou o ponta do lado oposto.
O desafio de Jair nesta fase do jogo é fazer evoluir a movimentação em campo oposto. Quando não encontra as possibilidades para fazer as jogadas citadas acima, o Santos torna-se um time estático, principalmente na faixa central. Há pouca aproximação e movimentos de desmarque. A ocupação de espaços também oscila bastante.
Conclusão
Por mais que tenha adotado uma postura mais cautelosa nos clássicos que fez contra Palmeiras e São Paulo, não dá pra dizer que o Santos esteja sendo montado de uma forma estritamente reativa. Os desafios de Jair Ventura no Peixe estão postos na mesa, veremos como organizará os ingredientes.
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