Mudanças em Berlim
A passagem de Pál Dárdai no Hertha Berlin foi marcada pela regularidade. Sem ir muito longe, desde que assumiu a equipe em fevereiro de 2015 até sua saída em junho de 2019, o treinador húngaro livrou a Alte Dame do rebaixamento na temporada 14/15, colocou o conjunto berlinense por dois anos seguidos na Europa League e estabilizou […]
A passagem de Pál Dárdai no Hertha Berlin foi marcada pela regularidade. Sem ir muito longe, desde que assumiu a equipe em fevereiro de 2015 até sua saída em junho de 2019, o treinador húngaro livrou a Alte Dame do rebaixamento na temporada 14/15, colocou o conjunto berlinense por dois anos seguidos na Europa League e estabilizou o time na elite do futebol alemão. Extremamente sólido para um clube humilde, especialmente nos confrontos diretos contra Bayern München e Borussia Dortmund, o Hertha de Dárdai possuía o que vamos chamar aqui de “garantia competitiva”.
O caso é que o treinador magiar estabeleceu uma identidade futebolística bastante clara, marcada pela adaptação tática, pela agressividade defensiva, pelos encaixes individuais e pela capacidade de ameaçar os adversários em transições ofensivas e por ataques verticais. Este período também foi caracterizado pelos bons começos de temporadas, algo que deixava o BSC em zonas de competições europeias. A tão sonhada vaga para a Champions League acabou não sendo conquistada muito por conta das quedas de rendimento nas retas finais das campanhas, ocasionadas pelas naturais limitações de elenco.
Este é um dos pouco pontos baixos de um trabalho mais consistentes na Alemanha nos últimos tempos, encerrado ao final da última temporada. E para o primeiro ano sem o comando de Dárdai, o Hertha Berlin apostou em Antec Covic, ex-jogador e antigo treinador das categorias inferiores do clube – uma trajetória parecida com a do antigo técnico na Alte Dame.
Contudo, o início do comandante croata-alemão de 44 anos não foi dos mais positivos: um empate (na estreia contra o Bayern München) e três derrotas consecutivas registradas (Wolfsburg, Schalke e Mainz) em seus quatro primeiros jogos, período no qual sofreu 10 gols e anotou outros três. O resultado disso foi ver o Hertha como último colocado da Bundesliga já na quinta rodada da competição. Porém, a reação surgiu no momento em que Covic colocou em prática suas ideias no projeto.
Os problemas e as mudanças táticas do Hertha Berlin
O sistema com três zagueiros (5-2-1-2) e os encaixes individuais marcaram o Hertha BSC nos últimos anos. Neste sentido, Covic não promoveu grandes revoluções e seguiu com os conceitos que estavam sendo utilizados previamente. A verdade é que o conjunto berlinense parecia completamente perdido: sua pressão alta era estéril, seus encaixes eram frequentemente batidos e ainda existia o agravante do terrível nível técnico de algumas peças, como de Karim Rekik e Marvin Plattenhardt, que apenas somaram falhas individuais.
Com o péssimo desempenho, Ante Covic precisou encontrar soluções. A primeira grande ruptura foi a mudança para o 4-4-2 em fase defensiva, tendo marcação por zona como outra diferença de postura sem a bola. Além disso, o time passou a ser mais sólido em defesa com a recuperação da forma de Niklas Stark e o ingresso do zagueiro Decryck Boyata ao XI inicial. Tanto que a nova dupla de zaga acumulou boas atuações defensivas, protegendo a própria área e controlando atacantes adversários nos confrontos contra Paderborn, Colônia e Fortuna Düsseldorf, partidas que marcaram os três triunfos seguidos do Hertha Berlin no Campeonato Alemão antes da parada da Data FIFA.
O inovador ataque posicional berlinense
O Hertha não se tornou uma equipe possessiva e que busca controlar as partidas com a posse da bola – com 53%, só superou o Düsseldorf neste sentido – , mas sua postura em fase ofensiva, sobretudo em ataque posicional, é algo completamente raro. Covic passou a trabalhar com jogadores em funções específicas onde o mediocentro norueguês Per Ciljan Skjelbred se posiciona entre os dois zagueiros para lidar com os primeiros passes; o interior croata Marko Grujic segue como peça fixa no centro do campo; os dois extremos ficam em posição aberta para oferecer amplitude para causar vantagens em situações de 1×1; enquanto os laterais pisam em zonas intermédias e o mediapunta tcheco Vladimír Darida dinamiza e possui liberdade de movimentos por dentro; Vedad Ibisevic é a referência no ataque.
Ao final, o Hertha ataca em algo próximo do 3-1-4-2 – ou 3-2-4-1 dependendo da posição de Darida. Naturalmente, existem muitos problemas dentro desta ideia: o mais claro deles é a questão dos laterais, que não possuem capacidade para gerar/impacto a partir de recepções entre linhas. Ademais, a ausência por lesão do jovem Arne Maier, o melhor meio-campista da equipe, faz com que o Hertha sinta falta de um jogador de perfil associativo e que tenha maior capacidade para oferecer soluções com a bola dentro deste plano onde Skjelbred possui um papel interessante iniciando jogadas e participando indiretamente de gols.
O outro ponto é a questão da transição defensiva, algo que, na prática, ainda não foi um problema, porém se trata de um sistema muito complexo e que exige muito fisicamente dos jogadores mais recuados. Os duelos contra Werder Bremen e Hoffenheim serão verdadeiros testes neste sentido.
Por fim, outro destaque dentro da pequena reação berlinense no Campeonato Alemão é o retorno do jovem extremo holandês Javairô Dilrosun, que tem sido uma peça determinante no ataque na hora de marcar gols e ameaçar buscando acelerar jogadas. Com boa capacidade para receber por dentro ou por fora, Dilrosun é um ponta produtivo e recentemente marcou um gol “messiânico” no Olympiastadion. É o artilheiro da equipe (junto com Vedad Ibisevic) com seis anotações registradas e tem aproveitado as ocasiões geradas pelo líder em assistências da equipe, o hiperativo Vladimír Darida.
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