Mike Ashley e o caminho do Newcastle até a irrelevância
Prestes a ser vendido para fundo de investimentos da Arábia Saudita, um dos clubes mais tradicionais da Inglaterra, o Newcastle foi maltratado por seu dono
O Newcastle United é um dos clubes mais tradicionais e prestigiados da Inglaterra. São 87 temporadas na elite, quatro títulos e a marca de nunca ter caído para além da segunda divisão. É conhecido por ter sido casa de grandes jogadores e ter uma torcida extremamente apaixonada, que lota um estádio de 52 mil lugares até mesmo na Championship.
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A sensação atual, entretanto, é de abandono. Desde que Mike Ashley, empresário do ramo de artigos esportivos, adquiriu a agremiação em 2007, uma série de decisões equivocadas fez com que os Magpies se tornassem – de certa forma – irrelevantes. Os próprios fãs admitem que a conexão com a equipe já foi muito mais estreita e o distanciamento é um problema real.
Pessoas próximas do mandatário reforçam que ele nunca foi exatamente um ‘homem do futebol’ e, aliando tal afirmação com o fato de que seus profissionais de confiança também não são dos mais qualificados, o St. James Park ficou à deriva. Seus dois antecessores no topo da hierarquia, Freddy Shepherd e Sir John Hall, tiveram um ótimo lucro com o clube e são exaltados na cidade até hoje.
Ashley não teve o mesmo retorno financeiro e, até por consequência – já chegamos lá -, não tem 10% do apreço. Longe disso. Uma das razões para o fracasso está diretamente ligada ao seu insucesso em tornar a instituição em um atrativo comercial. Mesmo sendo referência em negócio no setor que sua Sports Direct domina, o know-how não se transferiu para o futebol e as diferenças de operar no meio esportivo ficaram gritantes.
Em 2008, Mike ganhou £1.3 milhões em apenas 15 minutos em um cassino de Mayfair. Fazer dinheiro não era problema, a não ser que isso envolvesse qualquer coisa relacionada à bola. David Hughes, empresário que foi engolido por Ashley no mercado dos artigos esportivos, nos oferece um panorama no mínimo revelador.
“Eu o encontrei em alguns jogos nos anos 1990, quando grandes marcas esportivas nos convidavam para seus camarotes, e ficou evidente pra mim que ele não sabia nada de futebol. Acho que ele não saberia dizer qual time era o vermelho e qual era o azul. Isso pode ser diferente agora, mas na época ele não conhecia a regra do impedimento“, disse ao The Athletic.
Mesmo com um potencial imenso e o crescimento exponencial da Premier League, o departamento comercial do Newcastle está faturando menos agora do que em 2007. A falta de estratégia se somou à estagnação da estrutura – estádio, centro de treinamento e afins – e poucas empresas tiveram interesse em expor seu nome em uma camisa que estava em constante desvalorização. A solução foi uma super-exposição da Sports Direct em tudo.
O que não surpreende, se considerarmos que para muitos Ashley só comprou o clube para usá-lo como veículo de marketing em sua caminhada rumo ao topo dos negócios. Lee Charnley, diretor responsável pelas principais ações relacionadas às quatro linhas, é visto como uma figura passiva, incapaz de desafiar as decisões de seu superior.
Toda essa incapacidade de formar uma gestão condutiva ao desenvolvimento carregou o time para situações indesejáveis. A última delas foi bem exposta ao público geral, com o ex-treinador Rafa Benítez afirmando que suas indicações – embasadas em apresentações técnicas feitas pelo mesmo em reuniões – eram ignoradas na prática. Mike até concordava com os pontos feitos pelo agora comandante do Dalian Yifang, mas o problema não era esse.
Era a falta de ação. Não basta compreender que as coisas precisavam mudar, só a sua assinatura – e seu cofre – tinham o poder de tirar os Magpies do buraco. O espanhol acabou escrevendo uma carta aberta sobre os motivos para sua saída em um texto intitulado “promessas descumpridas e perda de confiança”. Não só ele se sentiu tocado para escanteio por Mike Ashley, mas sim toda a instituição Newcastle United Football Club.
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Seu principal patrimônio, a torcida, espera que os novos e abastados donos, caso o negócio se concretize, tenham uma postura diferente. Muito se fala de reforços de peso – o investimento deve ser forte -, mas sabemos que eles não precisam de um Kylian Mbappé. O mínimo direcionamento do clube já é o suficiente para quem foi reduzido à irrelevância nos últimos anos. O potencial é inegável.
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