O Banfield de Javier Sanguinetti e a ida para a decisão da Copa Diego Armando Maradona
Depois de 12 anos, o Taladro tem em suas mãos a oportunidade de conquistar um troféu de nível nacional, credenciado pelo bom trabalho de seu treinador na concepção do time
Mesmo que o título não venha, o Banfield de Javier Sanguinetti já pode ser considerado um time de bons méritos. Após uma ótima campanha nas etapas classificatórias, o Taladro chegou à decisão da Copa Diego Armando Maradona para enfrentar o Boca Juniors. Sustentada em uma organização coletiva sólida, contando com boas armas ofensivas e liderada tecnicamente por jovens provenientes de suas categorias de base, a equipe da região metropolitana de Buenos Aires busca sua primeira taça nacional de elite desde 2009.
Para isso, precisará aplicar aquilo que exibiu ao longo das fases anteriores contra uma equipe xeneize que vem de um forte abalo sofrido na Libertadores, com a eliminação para o Santos, e um desempenho muito aquém do demonstrado, em especial, na reta final da campanha que garantiu o título argentino em 2019/2020 com Miguel Ángel Russo. E ferramentas individuais e conjuntas não faltam para tentar superar o Boca.
A IDENTIDADE OFENSIVA E OS MEIOS PARA AGREDIR
Poucas equipes possuem um padrão tão bem definido na Argentina hoje quanto o Banfield. Ao se acompanhar as partidas dos comandados de Sanguinetti, é perceptível que há uma ordem muito bem estabelecida nos movimentos e no desenho ofensivo, com variações conforme a necessidade especialmente na saída de bola. Por vezes, o início da construção se dá em uma formatação 3 + 1, com um dos laterais – Emanuel Coronel ou Claudio Bravo – permanecendo ao lado dos zagueiros ao invés do recuo do primeiro volante, Jorge Rodríguez, que fica logo adiante oferecendo o primeiro apoio. Outra possibilidade que se vê nos primeiros metros do campo é o 2 + 3 para a saída, com os zagueiros abrindo o jogo e os laterais avançando para dar suporte ao lado do volante.
Assim que a bola avança ao campo ofensivo, Rodríguez fica mais preso à base das jogadas, recebendo a aproximação da dupla de interiores do 4-1-4-1 construído por Sanguinetti para desenvolver a construção. Aliás, Martín Payero e Giuliano Galoppo são os dois grandes destaques desta caminhada do Banfield até à final da Copa Diego Armando Maradona. Pratas da casa, ambos vivem um momento de afirmação no time profissional. Payero (22) retornou na metade de 2020 de um empréstimo pouco proveitoso ao Talleres. Sanguinetti apostou em sua capacidade e, agora, colhe os frutos com um alto desempenho. Já Galoppo (21), após um longo tempo alternando entre equipe de transição e principal, foi efetivado no elenco e, mais do que isso, é um titular incontestável.
Payero, líder em assistências da competição (7), possui uma leitura de jogo apuradíssima com a bola no pé, dita o ritmo da evolução do time e é a cabeça pensante das ações ofensivas. Se aproximando bastante do lado direito do campo para trabalhar em associação com Emanuel Coronel e Mauricio Cuero, busca a partir deste setor passes diagonais mirando as costas da linha defensiva e cruzamentos lançados de uma posição de menor profundidade. Seus arremates de longa distância também são uma arma poderosa, levando perigo e possibilitando o aproveitamento de segundas bolas dentro da grande área.
Galoppo, por outro lado, oferece uma movimentação de ruptura de qualidade. Ao contrário de Payero, que permanece de maneira mais constante no espaço entre o meio-campo e a área adversária, o camisa 18 trabalha com toques rápidos para buscar a infiltração, ocupando com frequência os últimos metros do campo ao lado do centroavante Agustín Fontana, geralmente aguardando a bola na segunda trave. Não por acaso, junto com Fontana, Galoppo é o artilheiro da equipe no torneio com 5 gols marcados.
Pelos lados, é interessante observar a dinâmica de Fabián Bordagaray pela esquerda e Cuero pela direita. No corredor canhoto, o comportamento mais corriqueiro é de Bordagaray explorando as zonas interiores, aparecendo também dentro da área, e abrindo caminho para as subidas de Claudio Bravo. Na direita, Cuero é quem pisa a linha lateral, enquanto Coronel aparece por dentro para tabelar. O ponta colombiano, aliás, é o grande fator de desequilíbrio individual do time do Banfield. Ágil, veloz e driblador, rompe a marcação adversária através de seu potencial de vitória pessoal e habilita seus companheiros dentro da área para a finalização.
Na zona terminal do gramado, Agustín Fontana é quem oferece a profundidade e funciona como o alvo das ações ofensivas do Taladro. Mesmo não sendo tão alto, Fontana é uma ameaça pelo alto graças ao seu bom posicionamento e sua capacidade de antecipar os defensores. O camisa 9 demonstra recursos bem desenvolvidos na hora de concretizar as oportunidades que chegam até ele, embora não figure entre os mais precisos na conversão de chances no campeonato.
NA DEFESA, MARGENS PARA MELHORA
Se na frente o ajuste é praticamente pleno, atrás alguns pontos ainda precisam de atenção. Em fase defensiva, o padrão estabelecido por Sanguinetti é de uma marcação que preza pelas linhas intermediárias ou baixas na maior parte do tempo. Fontana, que é o jogador mais avançado do time, geralmente se posta na faixa do grande círculo central sem bola, o que evidencia este comportamento mais recuado do Banfield na defesa.
Por conta disto, uma transição defensiva ágil e de velocidade precisa, em tese, acontecer para que os espaços se fechem rapidamente. Entretanto, não é o que se vê ainda no geral. Este momento de transição é, talvez, a grande fragilidade do Taladro nesta Copa Diego Armando Maradona. Não é raro ver a perda da posse ocorrendo no ataque e o time adversário tendo tranquilidade para explorar as zonas livres em contragolpes velozes, diante da recomposição lenta da equipe.
Quando organizado, o bloco defensivo da equipe se organiza em um 4-1-4-1, variando em alguns momentos para o 4-4-2. Tudo depende de Payero e Galoppo, que alternam as subidas para pressionar a saída de bola adversária em determinadas oportunidades. Quando um dos dois se desprende da linha intermediária, Jorge Rodríguez avança para cobrir o espaço e fechar o setor para manter o desenho das linhas.
Outros dois pontos também geram certo alerta nestes momentos sem a bola. O primeiro é o espaço nas costas dos laterais. Como Coronel e Bravo aparecem bastante no campo ofensivo, as bolas longas em seus setores acabam surgindo como opção para os rivais explorarem. Por vezes, a cobertura dos zagueiros Alexis Maldonado e Luciano Lollo é insuficiente, o que acaba gerando situações de perigo. Já o segundo é a falta de combatividade nas proximidades da própria área, sobretudo na “zona 14” adversária. Alguns desencaixes costumam acontecer neste setor, principalmente pela necessidade de Rodríguez sair da entrelinha para fechar a marcação mais adiante. Com isso, quem se posiciona ali, encontra liberdade para receber e buscar a finalização de média distância contra o gol de Mauricio Arboleda.
Ainda assim, não faltam razões para o torcedor do Banfield sonhar com o título. As virtudes que a equipe possui são mais do que suficientes para entregar uma competitividade alta contra o Boca Juniors neste final de semana, com capacidade para se sobrepor em relação às fragilidades apresentadas. Impor domínio sobre o time de Miguel Ángel Russo não será fácil. Por isso, ter todos os recursos individuais e coletivos à disposição será fundamental na busca de uma boa aplicação em campo, para que ao final, a tão sonhada taça possa tomar o rumo do Estádio Florencio Sola.
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