O BRIGHTON DE ROBERTO DE ZERBI
Uma análise sobre o jogo ofensivo de um dos treinadores mais promissores do mundo.
Uma análise sobre o trabalho ofensivo de um dos treinadores mais promissores do mundo, e a manipulação do espaço e do tempo no futebol. Rápido e devagar, duas formas de jogar.
O Brighton, comandado por Roberto de Zerbi, é um dos times que mais atrai a atenção fora do Big 6 na Premier League, praticando um futebol envolvente e vistoso aos olhos de quem assiste. Além disso, conseguiu aliar o futebol praticado dentro das quatro linhas aos resultados esportivos, atingindo a inédita classificação para competições européias na última temporada.
Rápido e devagar: duas formas de jogar
O treinador italiano tem com uma de suas principais ideias na fase ofensiva a manipulação do espaço e do tempo no jogo de futebol, mas como esses conceitos se relacionam? Suas equipes buscam controlar o ritmo e alterná-lo de forma totalmente intencional, podendo utilizar um estilo mais lento e cadenciado com ampla troca de passes e aproximações, característico do treinador para quebrar pressões, mas quando essa pressão do adversário é quebrada, vemos em muitos momentos uma mudança de ritmo para um jogo acelerado, com agressividade para atacar espaços disponíveis e buscar o gol.
Atraindo o adversário
A equipe de De Zerbi, caracterizada pela posse de bola, muitas vezes busca a progressão com grande utilização do goleiro como um jogador extra e também com grande uso dos zagueiros. A ideia central é a de atrair a maior quantidade de jogadores do adversário para próximo da zona da bola e manipular a atenção dos mesmos, utilizando o portador da bola e as opções de passe perto para que os jogadores possam achar o homem-livre e os espaços dentro da estrutura da equipe rival, permitindo a seus jogadores mais espaço e mais tempo para jogar. Através da disposição dos jogadores da equipe e das movimentações, o Brighton utiliza alguns movimentos individuais e coletivos para superar a pressão adversária:
- “A Pausa“
Os jogadores do Brighton, principalmente os zagueiros e volantes que buscam construir o jogo, seja na saída de tiro de meta ou na construção, controlam a velocidade do jogo quando possuem a bola e, desse modo, é possível observar em vários momentos como os jogadores utilizam da pausa, mantendo a bola e em alguns momentos ficando até quase que completamente estáticos e esperando o salto de algum adversário. Assim o espaço é liberado em outros locais do campo ou um companheiro aparece livre.
Com isso, podemos ver a importância do controle do ritmo do jogo, que no alto nível é cada vez mais frenético e com menos tempo para os jogadores, especialmente na Premier League. Em alguns momentos se faz benéfico controlar este ritmo para o extremo oposto, jogar de forma mais lenta, para gerar espaço para si próprio e para a própria equipe e atrair a atenção dos adversários, buscando explorar os espaços definidos no planejamento para o jogo. Tudo isso com uma intenção clara.
- A sola da chuteira
Este movimento é comum nas quadras de futsal pelo Brasil a fora e muitas vezes até alguns jogadores de alto nível em sua transição no campo continuam o realizando. O uso da sola da chuteira para manipular a bola acaba não sendo tão comum em outros lugares do mundo e até mesmo em categorias de formação os atletas são ensinados a dominar a bola com a parte interna do pé, a realizar domínios orientados, entre outros conceitos, e corretamente, visto que essas são exigências do futebol atual, cada vez com menos tempo.
Entretanto, existem algumas situações em que o uso da sola da chuteira pode ser benéfica, como demonstrado pelos atletas do Brighton. Essa ação pode ser uma “isca” para convidar a pressão. Além disso, muitas vezes essa ação retira a referência dos gatilhos de pressão e do lado do passe, visto que o atleta está com a bola embaixo do pé e não armando uma alavanca (movimento de jogar a perna para trás e direcionar) para realizar um passe ou lançamento. É normal no futebol o uso de referências (gatilhos de pressão) para indicar a pressão com máxima intensidade. Por exemplo, o passe do zagueiro para o lateral, faz com que a equipe adversária suba a pressão com intensidade para tirar as linhas de passe próximas e forçar o erro. Com isso, a equipe adversária pode ficar com as referências prejudicadas sobre quando saltar pressão, quando aguardar e apenas defender, além de quase sempre um adversário ser atraído pelo jogador com bola, gerando espaço. Se o adversário não for atraído por essa “isca” para pressionar, pode dar mais tempo ao jogador com bola, permitindo a ele também mais espaço para executar as ações e para gerar outros desequilíbrios.
- Homem livre e Terceiro-homem
O Brighton de De Zerbi em muitos momentos tem uma construção característica que povoa o meio de campo com 2 “volantes”, buscando colocar de seis a oito atletas na primeira fase de construção, atraindo a marcação do rival e permitindo também que esses jogadores ou os mais avançados sejam o homem livre na jogada. Dessa forma permite também associações com escoradas de centroavante ou meia-atacante para quem já está de frente pro jogo (volantes e laterais) para quebra de pressão. A ideia da recepção da bola no terceiro-homem ou no homem livre é de que esses atletas terão mais espaço e tempo para pensar e executar a ação, gerando mais desequilíbrios na estrutura adversária na sequência do lance. É interessante ressaltar a importância do “timing” nas movimentações dos atletas para encontrarem as janelas e os espaços disponíveis para receberem a bola e que isso pode ser treinado e desenvolvido por eles, visto que os espaços disponíveis mudam a cada instante no jogo, de acordo com posicionamento da bola, do jogador, companheiros e dos adversários.
- Passe para trás
Outra forma de “convidar” o adversário a pressionar para gerar espaços nas entrelinhas e nas costas da defesa são os passes para trás, geralmente para os zagueiros ou para o goleiro. Esse tipo de passe pode fazer a equipe adversária subir pressão, gerando algums dos espaços como os mencionados acima, o que deixa o atleta do Brighton com mais espaço e tempo para decidir e executar a jogada.
Explorando os espaços do adversário
- Verticalidade
Utilização, na maioria das vezes, dos jogadores mais avançados no campo para conduzir a bola ou aproveitarem os espaços deixados com ataque ao espaço em velocidade, mudando totalmente o ritmo do jogo. Pode acontecer principalmente com ataques ao espaço dos atacantes, meias-atacantes ou dos pontas realizando um movimento de ataque a profundidade em direção ao gol.
- Dribles e uso dos pontas
Nas últimas temporadas, os pontas do Brighton, principalmente o japonês Mitoma, tem se destacado muito pelos seus dribles e gols, podendo ser o próximo jogador do projeto a ser vendido por grandes cifras. O destaque acontece, é claro, pela qualidade do jogador, mas também pelos mecanismos táticos que De Zerbi implementa em suas equipes.
Atraindo o adversário e explorando espaços, os pontas acabam muitas vezes tendo um grande espaço para drible e jogadas de velocidade ou enfrentam seus marcadores de forma mais isolada em 1×1. Com a habilidade e velocidade que possui Mitoma, muitas vezes ele terá a superioridade contra o marcador.
- Uso do(s) atacante(s)
Em muitos momentos, o Brighton de De Zerbi busca também a progressão através de passes verticais para o atacante sustentar o jogo e conseguir acionar os jogadores que estão vindo de frente para o jogo, ou até mesmo os pontas. Os jogadores demonstram sincronia de movimentos, seja quando jogam com 1 ou com 2 atacantes, como acontece em alguns jogos. Neste quesito, o desempenho nesta temporada do brasileiro João Pedro tem chamado a atenção. O atacante é um dos líderes do time em gols marcados e também tem criado chances para os companheiros. Na atual temporada, João soma em todas as competições 32 jogos, 19 gols e 2 assistências. Na Premier League, são 23 jogos, 8 gols e 2 assistências. Observem os dados da temporada na Premier League, comparados a centroavantes com 700 minutos ou mais na liga, obtidos no Footure PRO:
O Brighton de De Zerbi é um dos times da Premier League que mais chama a atenção fora do Big-6 em campo, cada vez mais chamam atenção também fora de campo pelas vendas de seus jogadores que se destacam e pelas jovens promessas que contratam. O projeto tem tudo para continuar evoluindo no restante da temporada e nas próximas, a questão é, qual será o Brighton da próxima temporada? Pode ser que o elenco perca novamente jogadores importantes(João Pedro, Ferguson, Mitoma, entre outros vem se destacando) e que o próprio De Zerbi possa sair para outro clube. Caso essas coisas aconteçam, o Brighton já mostrou que estará preparado para investir novamente em novos jogadores e em um novo treinador, como fizeram antes e por isso possuem um dos melhores projetos esportivos do futebol inglês.
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