O primeiro mês de Lisca no Santos
Há um mês treinado por Lisca, o Santos mudou bastante em relação ao trabalho de Bustos, tem um caminho claro a seguir e vê a distância para o G-6 diminuir.
Há um mês sob o comando de Lisca, o Santos disputou apenas cinco jogos, contratou jogadores e é uma das poucas equipes brasileiras com tempo para treinar. Foram duas vitórias, dois empates e uma derrota no período, conquistando pontos contra adversários difíceis, como o vice-líder Fluminense, o Fortaleza no Castelão e o São Paulo no clássico SanSão. Com resultados bons e desempenho oscilante, vemos um trabalho em estágio inicial, mas que coloca o time santista em 8° lugar, vivo na briga por uma vaga na Libertadores.
Por mais que Lisca tenha tido tempo para treinar, um mês não é suficiente para construir uma equipe consistente, ainda mais se o treinador assumi-la em crise, sem confiança e bastante perdida coletivamente, como era o caso. Ainda assim, os primeiros 30 dias do atual técnico do Santos na Vila Belmiro foram suficientes para apresentarem ao torcedor a cara do Peixe para o segundo semestre: compactação, pressão e velocidade.
Muita coisa já mudou em relação ao trabalho de Fabián Bustos, afinal, o ex-técnico do Santos tem ideias antagônicas às de Lisca. O Peixe não concentra mais jogadores pelo meio, nem utiliza mais um ataque de mobilidade, com os atletas trocando de posições a todo momento e sem uma ocupação pré-determinada dos espaços. Agora, há um desenho tático claro no 4-3-3, com os pontas bem abertos, assim como os laterais. O meia do lado da bola deve aproximar para facilitar as triangulações. O jogo pela lateral é bastante acentuado, algo bastante perceptível pela saída de bola, feita com os quatro defensores e o 1° volante, Rodrigo Fernández, mais à frente. Em grande parte das jogadas, o time avança com passes dos zagueiros para os laterais ou pontas, ou usando o pivô e as inversões de Marcos Leonardo.
O próprio Lisca, em sua apresentação, explicou seu modelo de jogo:
“Quero potencializar as individualidades com o coletivo. Eles não tem que jogar por intuição e sim intenção. Mudar também a pressão. Tem muito conceito para introduzir. Claro que é gradual. o primeiro jogo vou ter dificuldades. Eles gostaram da conversa. A gente precisa correr mais junto e mais certo, aproximar e triangular, inverter as bases. Tem muita coisa para eu fazer, estou motivado. Acho que posso ajudar muito.”
A maneira de marcar também mudou muito com a troca do sistema. Se antes era por encaixes individuais, agora a defesa do Santos é por zona, ou seja, a prioridade é ocupar espaços e não mais perseguir o adversário homem a homem. Para tanto, todos os jogadores se concentram no lado da jogada, com ponta, meia e lateral perto da bola subindo para dar combate. A intenção é encaixotar o rival em um dos lados do campo e impedir sua progressão.
Claro que estamos falando mais da ideia do que da prática. Com um time jovem e um trabalho embrionário, o Peixe enfrentou dificuldades ao longos desses cinco jogos com Lisca. Defensivamente, a equipe dá alguns espaços nas costas dos meio-campistas, além de ter certa dificuldade em pressionar com consistência, permitindo o maior pesadelo de um time que marca com tanta gente perto da bola: viradas de jogo. Espera-se que as soluções apareçam com os treinos, como uma maior sincronia no momento de sair para dar combate e nas coberturas necessárias quando um defensor deixa sua posição pressionar, além da melhora dos pontas na recomposição.
No momento ofensivo, os meio-campistas precisam evoluir na ocupação da entrelinha – o espaço entre os zagueiros e volantes adversários – e se aproximarem mais para as tringulações nos flancos. O Santos tem a estrutura, mas faltam padrões de movimentação perto do gol. Os pontas partem para o mano a mano, os laterais iniciam a saída de bola e depois ultrapassam, mas e os meias? Infiltram na área? Esperam a bola na intermediária? Encostam nos pontas? A resposta é sim para todas as opções, porém o momento de fazer cada uma dessas coisas ainda não foi tão bem compreendido.
É muito cedo para qualquer afirmação definitiva sobre o trabalho de Lisca no Santos, mas o time tem um caminho a seguir e o medo do rebaixamento ficou para trás. Se Soteldo mantiver o nível de atuação de sua reestreia no último domingo, Carabajal e Luan se adaptarem e Ângelo ficar longe de lesões, o santista será mais feliz nos próximos meses.
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