O PRINCÍPIO DOS 3R's DE ENDERSON MOREIRA
Por Jonatan Cavalcante A permanência na Série A pelo terceiro ano consecutivo, oportunizou estabilidade financeira ao Bahia. Com previsão orçamentária de R$ 143 milhões (maior da história do Nordeste), a gestão de Guilherme Bellintani, resolveu iniciar uma nova etapa no planejamento do futebol: investir na aquisição de direitos federativos de atletas. E Enderson Moreira tem […]
A permanência na Série A pelo terceiro ano consecutivo, oportunizou estabilidade financeira ao Bahia. Com previsão orçamentária de R$ 143 milhões (maior da história do Nordeste), a gestão de Guilherme Bellintani, resolveu iniciar uma nova etapa no planejamento do futebol: investir na aquisição de direitos federativos de atletas. E Enderson Moreira tem sido peça-chave na montagem do elenco para que o Bahia exerça o protagonismo requerido pela comunidade de aficionados do Tricolor de Aço.
Com 47 atletas compondo o elenco principal, é natural que a comissão técnica e os próprios atletas necessitem de um intervalo de tempo mais abrangente para que haja maior interação, conhecimento e criação de hábitos. No entanto, no futebol brasileiro tempo é algo que os técnicos não dispõem. Em meio à maratona de jogos (1 jogo a cada 3 dias) e a pressão por desempenho e performance, Enderson Moreira tem se norteado por três princípios neste início de temporada para acelerar os processos: Reconsolidar, Reconstruir e Reorganizar. A reoxigenação do elenco promovida por Enderson, juntamente com as perdas de alguns atletas que já conheciam as ideias do treinador, fizeram com que fosse preciso Reconsolidar conceitos – uma vez que precisa deixar o elenco homogêneo -, Reconstruir uma ideia de jogo baseada nos princípios e sub-princípios ao longo dos treinamentos regidos pelo DNA do clube e, Reorganizar através de um mapa mental as interações entre os indivíduos que podem ser mais proveitosas dentro do modelo e estratégia de jogo.
Para entender e explicar a concepções de jogo, plataformas, planificações e estratégias adotadas neste início de temporada, O Footure imergiu no trabalho do técnico do Bahia, Enderson Moreira.
PLANIFICAÇÃO E SISTEMA TÁTICO
O elenco do Bahia possui jogadores com características diversas, permitindo assim, mudanças de estratégias com alteração de jogadores ou a partir do reposicionamento do atleta em campo. Neste início de temporada, Enderson Moreira tem optado pelo sistema 4-2-3-1 com variações para o 4-4-2/4-3-3 na organização defensiva e 3-2-4-1/2-1-4-3 em organização ofensiva. No plano de jogo o Bahia se destaca por ter dois zagueiro que protegem bem a área; no lado direito, Nino Paraíba, auxilia na construção do jogo e ataca o corredor. No lado esquerdo, Moisés, é responsável por dar amplitude e infiltrar na área explorando os espaços na 2º trave. Além disso, tem boa capacidade física e de resistência que facilita a pressão e o desarme do contra-ataque adversário. Na primeira linha de meio-campo, Gregore, com bom aproveitamento nos duelos aéreos e terrestres, guarda um pouco mais a posição e protege a defesa. Mas não é raro ver que o meio-campista quando está com a bola dá fluência ao jogo e em momentos pontuais de organização e transição ofensiva se arrisca no ataque. Um pouco mais à frente e no lado esquerdo, Douglas Augusto, tem formado a dupla de volantes. Douglas conta com mais liberdade para construir e avançar. Além das características ofensivas, Douglas Augusto se destaca pelo duelo 1×1 defensivo e desarmes. Na segunda linha de meio-campo, Enderson Moreira, tem preferido atuar com Arthur do lado direito, gerando amplitude, organizando e criando situações de ataque. Canhoto, na maioria das vezes busca o corredor central. Mais centralizado, Guilherme e Ramires são os jogadores que mais atuaram no setor. Jogando entrelinhas, o meia-atacante procura flutuar e gerar apoios por dentro ou nos corredores laterais. De frente para o lance, tentam causar desequilíbrio com passes, dribles e movimentação. No lado esquerdo, Shaylon tem sido o titular nos últimos jogos e tem desempenhado a função de buscar o jogo na base (próximo ao círculo central), como segundo atacante para atacar o espaço ou explorar a entrelinha. No comando de ataque, Gilberto funciona como um centroavante de movimentação ao realizar movimentos para o lado e para frente.
CONTROLE DA BOLA, CONSTRUÇÃO ASSIMÉTRICA E CAOS POR DENTRO
Na fase de organização ofensiva, a equipe do Bahia possui ideias e padrões bem estabelecidos. Com 7 jogadores participando efetivamente das ações ofensivas, a ideia é controlar o adversário a partir de uma posse de bola curta, ágil e vertical, com uma construção assimétrica (lado direito), trocas de corredor para tirar a bola da zona de pressão e encontrar um lado fragilizado, jogo entrelinha para gerar superioridade numérica e caos por dentro e área povoada.
Na saída de bola o time tanto pode sair curto ou longo. Com passes curtos, o time se posiciona em um 4-2 (primeira linha de defensores + volantes) que se transforma em um 3-2 ( zagueiros e lateral direito + volantes) com a subida de Moisés. Instalado no campo ofensivo, a equipe se posiciona inicialmente no 3-2-4-1 com zagueiros e lateral-direito na construção, volantes na entrelinha, meia-infiltrador e meia-atacante por dentro (entrelinha), lateral-infiltrador e meia-construtor na amplitude e o centroavante na profundidade. Com o desenrolar da jogada, o lateral direito ataca o corredor para gerar apoio e profundidade e a equipe se reorganiza no 2-1-4-3 com o meia-infiltrador e o lateral-infiltrador/construtor adiantando para a linha de ataque. No meio a configuração fica com volante-infiltrador e meia-atacante por dentro e, o lateral-infiltrador e o meia-construtor na amplitude.
Optando ou sendo obrigado a sair longo, a bola é direcionada para o centrovante e tem a aproximação dos meio-campistas para vencer o duelo de 1º e 2º bola e tentar um ataque-direto ou entrar em fase de organização com circulação ágil e curta.
Na transição ofensiva, momento em que há a recuperação da posse de bola, o Bahia procura tirar a bola da zona de pressão com passes rápidos e verticais ou por condução e, de forma individual ou com apoios finaliza a jogada em poucos segundos. Confira na animação abaixo os momentos de organização e transição ofensiva.
ZONA PRESSIONANTE, PRESSING E SUPERIORIDADE NO SETOR DA BOLA
Em organização defensiva Enderson adotou a marcação por zona pressionante – na qual a principal referência é o espaço, mas que também se orienta de acordo com os movimentos do jogador e da bola – com variações táticas e alternância de blocos. No tiro de meta do adversário, a equipe adianta as linhas, se posiciona no 4-3-3 com o meia-atacante se alinhando com os volantes e em bloco alto para forçar a disputa da 1º e 2º bola. Se o adversário consegue sair curto ou vence os duelos de 1º e 2º bola e entra em fase de organização ofensiva, o Bahia se posiciona no 4-4-2 em bloco médio com atacante e meia-atacante na 1º linha. Com superioridade numérica no setor da bola e por meio do pressing – que procura eliminar ou diminuir as alternativas de passe do adversário com um encurtamento de espaço e tempo – o Bahia tenta recuperar a bola para reaver o controle do jogo.
Na transição defensiva, instantes depois da perda da bola, a equipe busca por meio do pressing ou pressão (individual) recuperar a posse de bola. Não tendo êxito, tenta temporizar o avanço do adversário induzindo para “zonas mortas” (lado de campo), enquanto o restante da equipe recompõe. Confira no vídeo abaixo, os momento de organização e transição defensiva.
BOLA PARADA
Tanto nas cobranças de escanteio (ofensiva e defensiva) e arremessos manuais, foram encontrados padrões referentes a forma de se portar. Nos escanteios ofensivos, os cobradores (8 e 27) direcionam uma bola mais aberta para a segunda trave para a infiltração do jogador que estão no rebote (2 e 98) ou uma bola mais fechada na pequena área para os 5 (9,4,28,18 e 6) jogadores que estão área. Vale ressaltar os movimentos de bloqueio realizado Jackson (4) realiza no goleiro. Para impedir o contra-ataque fica um jogador (26) na retaguarda. Nos escanteios defensivos, comumente a equipe utiliza uma marcação predominante por zona. Tendo 5 atletas marcando por zona (9,26,28,4 e 6), dois de forma individual (18 e 2), dois no rebote (27 e 98) e um (8) para puxar o contra-ataque. No entanto, é importante frisar a influência que o adversário exerce na distribuição dos jogadores. Por exemplo, quando o adversário coloca um jogador de pé trocado para realizar a cobrança, o Bahia responde enviando 1 jogador (27) para marcar a bola (para forçar uma cobrança mais aberta). O mesmo acontece quando o adversário coloca um jogador próximo ao batedor. Nos arremessos manuais próximo ao gol, o Bahia se defenso no 5-4-1 com a entrada de um volante na linha de defesa, para assim, diminuir os espaços. Na animação abaixo é possível identificar algumas variações nas cobranças de escanteio e a forma de se defender nos laterais.
O PODER DA DERROTA
A eliminação precoce do Bahia na Sul-Americana para o Liverpool, evidenciou que time precisa encontrar soluções para os problemas que surgiram não só neste jogo, mas que foram mais visíveis por se tratar de um jogo eliminatório. Enderson não encontrou as melhores soluções para lidar com uma linha de 5 e uma densidade forte na entrada da área, criada pelo Liverpool como resposta aos efeitos da amplitude e da tentativa de gerar superioridade por dentro por parte da equipe Baiana. O domínio do jogo não se traduziu em chances claras de gol e, ademais a taxa de acerto de finalizações é muito baixa (40%). O futebol é um jogo de resolução de problemas. E o vencedor na maiorias das vezes é quem consegue solucionar melhor as problemáticas que aparecem ao longo dos 90 minutos.
À medida que Enderson avança nos princípios norteadores dos 3R’s e, consegue dar homogeneidade ao elenco, criar uma identidade e conhecer os jogadores de forma profunda, também será necessário iniciar o processo de inclusão de outros conhecimentos e formas de jogar para aumentar a imprevisibilidade para o adversário. É uma situação sine qua non para que o Bahia possar ser protagonista na região e no cenário nacional. Pois todo triunfo é construído a partir dos fragmentos de uma derrota, desde que essa derrota seja compreendida claramente.
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