O que esperar de Atleti, Barcelona e Real Madrid em busca do título espanhol?
Depois da conquista do Real Madrid na última temporada, será que Barcelona e Atleti irão incomodar os merengues? O que esperar de 2020/21 para La Liga
Toda temporada na La Liga é discutido sobre quem irá ser o campeão: Real Madrid ou Barcelona. Esse segmento que apenas os dois clubes tem poder suficiente para serem campeões se reforça todo ano, e o Atleti de Simeone em 2014 foi o único clube a conseguir bater os dois na última década.
Nas últimas 10 temporadas, o Barcelona foi campeão seis vezes, enquanto o Real Madrid ganhou apenas três, mas o Atletico está sempre por ali. Os três clubes passam por pequenas e grandes reformulações dentro de suas equipes, e dessa forma oferecem maiores deficiências para seus adversários nesse sentido.
O Atleti perdeu peças importantes tanto dentro das quatros linhas como dentro do vestiário. O Barcelona vem de uma temporada desastrosa. Além do vestiário minado, seu principal jogador demonstrando desejo em sair. O Real Madrid foi campeão na última temporada e tem o melhor retrospecto em relação aos rivais, mas a regularidade para defender o título precisa ser de outro nível. Dessa forma, analisamos cada ponto dessas três equipes em vista do campeonato espanhol.
ATLÉTICO DE MADRID
Durante toda a última temporada, muito se questionava sobre o desempenho do Atleti ser abaixo do ideal. Mesmo com apenas quatro derrotas em 38 jogos, os 16 empates incomodavam.
Partindo do lado psicológico, a saída de grandes líderes do vestiário pesou. Querendo ou não, Diego Godín e Filipe Luís eram extremamente importantes nesse sentido. Além disso, toda a técnica de ambos dentro das quatros linhas fez falta.
Mesmo se tratando de um jogador de defesa, Filipe era um dos principais criadores da equipe, conduzindo e estruturando jogadas ofensivas. Apesar das perdas significativas, a adaptação de novos jogadores nesse quesito foi feita, e conforme a temporada se desenrolou Simeone conseguiu tirar bastante dos novos jogadores como sempre fez.
A saída de Griezmann, craque do time, foi o maior baque se tratando do jogo direto. Mesmo com João Félix correspondendo, o impacto imediato obviamente não foi o mesmo do francês, e a equipe como um todo acabou perdendo esse poderio ofensivo que o antigo camisa 7 trazia em seu melhor momento futebolístico.
Com base nisso, podemos dizer que a irregularidade no ataque foi a grande questão. O time mantinha ótimas performances na defesa como o cholismo indica – foi a segunda menos vazada da liga –, mas no último terço o ataque não compensava da mesma forma. Com o visível declínio físico de Diego Costa, que brigou com muitas lesões no passado e hoje enfrenta as consequências, Morata ficou sobrecarregado em fazer a maioria dos gols – artilheiro do time na liga com 12 gols, o dobro de Saúl e João Félix que terminaram com seis.
Para a nova temporada, e pensando em uma maior consistência no seu jogo, o time precisa do máximo dos seus principais jogadores, principalmente o motorzinho Koke. E pensando na forma como Simeone consegue montar suas equipes a cada temporada, não é nada impossível. Apesar de todas as críticas, os problemas do Atleti estão longe de serem resolvidos com uma (improvável) demissão do mesmo.
Desde 2011 no clube, Cholo cansou de perder jogadores importantes e adaptar outros para fazerem o mesmo ou algo parecido. A mudança de estilo, para algo mais ofensivo, é avaliada de acordo com cada perspectiva. Se o time consegue contribuir no último terço de uma forma, mas na defesa deixa a desejar, tudo vai por água abaixo. E o argentino conhece bem do futebol para entender o que é necessário ser feito para conciliar as duas partes, mesmo que isso implique em um pragmatismo – e ser pragmático não significa algo ruim necessariamente. (Alguém avisa isso para o Guardiola aí quem sabe ele ganha a Champions)
Jogador chave: João Félix
Apesar de não ter tido uma temporada brilhante, o desempenho não foi ruim como muitos pensam. O português chegou com um grande hype por tudo que fez em sua primeira temporada com o Benfica e seu desempenho obviamente empolgava.
Seis gols e uma assistência em 27 jogos ainda é pouco para um time que depende de jogadores específicos, mas em meio a um bom futebol as pequenas lesões tiraram essa maior progressão e tiraram essa aperfeiçoamento dentro do time titular.
É nítido a diferença que João faz no ataque, seja lendo os espaços, circulando a bola, criando e/ou furando linhas de defesa. Sua presença já resolve boa parte dos problemas da equipe no setor e por isso ele é o jogador chave do time para a temporada.
Jogadores para ficar de olho: Renan Lodi, Saúl, Koke e Marcos Llorente.
BARCELONA
A última temporada terminou de uma maneira desastrosa para o Barcelona. De quebra, Messi declarou que não gostaria de seguir no clube para a temporada 2020/21, mas acabou ficando por questões contratuais.
No caso do clube, muitas questões que estouraram nos últimos meses já vinham sendo discutidas a alguns anos, porém com a saída de Valverde tudo ficou ainda mais escancarado. A chegada de Setién não resolveu absolutamente nada – a não ser pelo imediatismo por toda filosofia e estilo encaixarem com o que o “ADN” prega.
O pulso do treinador em lidar com vestiários foi o mesmo dos trabalhos anteriores e sua passagem pela Catalunha, mesmo com ideias expressadas em campo, não empolgou quase ninguém. O vestiário, que já era minado antes – mas ainda protegido por Valverde que conciliava suas ideias com o que seu elenco oferecia e fornecia – não suportou tantas mudanças.
As iminentes saídas de Rakitic e Vidal indicam que uma reformulação, por mais demorada (e difícil) que seja, está em mente. Suárez apesar dos ótimos números nos últimos anos, não consegue correr e pressionar e, mesmo que acabe ficando, provavelmente irá perder minutos.
É nítido como o time é anticompetitivo fisicamente, e uma possível chegada de Wijnaldum mudaria isso. O holandês tem respaldo de Koeman e seria uma peça fundamental para o meio-campo ganhar intensidade sem perder progressão e qualidade nos passes. Pjanic, De Jong e Busquets possuem características parecidas, e nesse sentido De Jong e Pjanic saem na frente.
Na defesa poucas situações relevantes. Lenglet é um dos melhores do mundo, e Piqué ainda consegue contribuir em bom nível. O rendimento abaixo de Jordi Alba é o que mais preocupa, mas pensando em sua relação dentro de campo com Messi podemos relevar. Intercalando o lado direito entre Sergi Roberto e Semedo percebemos a única posição insuficiente no elenco. Ainda que importante dentro do elenco, Sergi Roberto oferece pouco, já Semedo é altamente irregular.
O elenco é relativo, tem ótimas peças no ataque e Messi por si só consegue dominar o sistema ofensivo. Mas o fato dos reservas não conseguirem manter um nível perto do que os titulares oferecem preocupa. Outro fator importante e a favor do time é a precisão no ataque. O time mesmo que esteja jogando mal consegue produzir chances suficientes para marcar e, se mantido, isso é um fator positivo para a próxima temporada.
O primeiro ano de Griezmann não foi das melhores, mas se tratando de um dos melhores do mundo não podemos ignorar. Mesmo sem uma função clara em um time bagunçado taticamente, conseguiu nove gols e quatro assistências. Se encaixando da forma correta, irá fornecer ainda mais no último terço.
Peça por peça é um bom time, mas será preciso muita mudança tática – e que os jogadores aceitem seus papeis nela. Koeman tem um vestiário cheio de medalhões com ego ferido e, talvez, lidar com isso seja a maior dificuldade do seu trabalho hoje.
Jogador chave: Lionel Messi
Pensando que Messi saia ao fim do contrato podemos estar vendo o “The Last Dance” do argentino. Essa pode ser a última chance do camisa 10 conquistar mais uma liga com o clube, e com certeza ele irá jogar o seu máximo para chegar lá.
Independentemente da escolha que fizer em 2021, Messi é Messi, e em campo não tem discussão. Foram 25 gols e 21 assistências em 33 jogos na temporada passada da La Liga, o Se Queda é sinônimo de muitos gols e assistências para os blaugranas com toda certeza.
Jogadores para ficar de olho: Ansu Fati, Trincão, Dembelé e De Jong
REAL MADRID
O defensor do título tem vida mais fácil em relação aos seus rivais. Campeões com a melhor defesa e 26 vitórias em 38 jogos, Zidane conseguiu resolver quase todos os problemas que o time enfrentou durante a temporada passada. A recuperação dos medalhões, rotação de minutos e introdução de jovens dentro da equipe agradou de primeiro momento, deixando o time com bons retrospectos para o que vem aí.
Apesar de desempenhos abaixo do ideal, o time conseguia vencer e essa questão é uma das principais condições para vencer um campeonato de pontos corridos – joga bem ou mal, mas vence. Com a adição de Odegaard, o time ganha mais um interior participativo nos dois extremos, facilitando com sua ótima leitura de espaços e pressão sem a bola.
O sistema defensivo ficou em perfeitas condições por boa parte do campeonato, e em muitos momentos compensava o fraco nível ofensivo. Benzema terminou a liga com 21 gols e oito assistências e atrás dele Sergio Ramos com 11 marcados. A falta de participação de outros jogadores do ataque nesses números ilustram bem o baixo nível e ritmo ofensivo. Nota-se a dependência que o time ainda tem do camisa 9.
O alto nível do campeonato impede que a equipe mantenha essa dependência e fraca eficiência ofensiva por mais uma temporada. São poucos problemas para resolver, mas esse debate é o principal deles, e com influencia direta nos jogos do time.
A regularidade de Vinícius Jr. e Rodrygo no time é necessária para ambos ganharem consistência e ritmo, já que muitas vezes os dois – ou um deles –fazia partida perfeita e na rodada seguinte era reserva ou nem jogava.
O entendimento com Jovic e Hazard também pode mudar essa situação. No caso do sérvio é mais difícil. O atacante jogou 17 partidas – apenas em quatro delas foi titular – e terminou o campeonato com média de 26 minutos por partida. Se você analisar bem friamente esses números é matematicamente aceitável apenas três participações diretas, o problema chega quando ele precisa ser o artilheiro saindo do banco, mas encontra a sombra de um dos centroavantes mais criativos e de maior QI do futebol. Reserva de Benzema, ele tem a tarefa mais difícil do elenco: entrar em campo e manter o nível do francês.
Teoricamente Luka é um jogador completamente diferente, e obviamente não pode ser confundido na mesma função, mas é o que acaba acontecendo. A questão é: como Zidane, usuário de um sistema altamente dependente de Benzema, irá encaixar o jogador sem que ele perca sua melhor qualidade?
O florescer de Hazard pode ajudar isso. Como consequência, o clube desafoga essa submissão de um camisa 9 criador e finalizador, ao mesmo tempo que Hazard, em boa forma um dos melhores playmaker do mundo, resolva essa questão sozinho.
Jogador chave: Karim Benzema
Se nenhum outro companheiro conseguir passar pela defesa pode ter certeza que ele vai. Cria chances, abre espaços, se desmarca, sai da área, fura defesas e finaliza. Karim é, sem dúvida, o melhor jogador do Real Madrid hoje, e as chances do time conquistar novamente essa taça passa por ele (de novo).
Mesmo que atolado de tarefas dentro de campo, a defesa precisa compensar para ele brilhar sozinho lá na frente, e essa junção foi o ponto chave para o título na temporada passada.
Jogadores para ficar de olho: Vinícius Jr., Rodrygo, Martin Odegaard e Ferland Mendy.
E aí? Quem vai levantar a La Liga 2020/21? No próximo fim de semana o campeonato inicia para os três times e a busca por mais um título parece estar cada vez mais desafiadora.
Comente!