Salomon Kalou: o que esperar do marfinense no Botafogo
De longa carreira na Europa e pela seleção, Kalou vai jogar no Brasil em 2020. O campeão da Champions League de 2011/12 tem 34 anos e não tem atuado na temporada atual
Especulações envolvendo nomes conhecidos do futebol internacional, sobretudo marfinenses, têm ilustrado o ano de 2020 no Botafogo. Salomon Kalou, ex-Chelsea e Hertha Berlin, foi quem aceitou o convite para compor o hall de contratações alternativas no Alvinegro. Aos 34 anos, o jogador ainda tem lenha para queimar, ainda que a temporada atual possa sinalizar o contrário.
Pouco envolvido em jogos na Alemanha (foram sete desde o meio de 2019), Kalou tem vivido uma realidade atípica para si. Desde que estourou para o futebol, no Feyenoord, há mais de uma década e meia, o jogador sempre teve um papel de relevância em suas equipes — seja como artilheiro ou figura notável saindo do banco.
Na vinda ao Brasil, o atacante parece estar buscando o protagonismo que não teve recentemente. Ele terá sucesso nessa busca?
Quem é Kalou
Nascido em Oumé, o marfinense iniciou sua carreira em um clube local, o Mimosas, de onde se transferiu para o Feyenoord, da Holanda. Foi lá em que ganhou projeção, depois de marcar 27 gols em 40 jogos na sua temporada de estreia, em 2004/05. Ele surgiu como um atacante de bastante movimentação, atuando ao lado de Dirk Kuyt. O drible e a velocidade estiveram presentes em seu jogo desde cedo, e o transformaram no jogador mais promissor da Holanda naquela temporada.
Ao ser transferido para o Chelsea, em 2006/07, Kalou não tardou para se adaptar. Saindo do banco, o jogador garantiu ótimas temporadas na Inglaterra. Ao todo, foram 254 partidas pelos Blues, 147 delas como titular, anotando 60 gols e distribuindo 44 assistências. Caracterizado por José Mourinho como um jogador polivalente, o marfinense fez o seu nome atuando tanto pelo centro do ataque como pelos lados, principalmente na esquerda.
Engana-se quem pensa que, com o tempo, Kalou passou a atuar como um atacante mais fixo na área. É claro que sua velocidade não é mais a mesma, mas a capacidade de movimentação segue presente, até por sua biotipia, permitindo boas temporadas ao jogador caindo pelos lados no ataque. Foi assim que, nos últimos anos, manteve-se como um titular regular no Hertha.
Na temporada passada, quando sua equipe terminou o campeonato na metade da tabela, participou de 30 jogos na Bundesliga, registrando oito gols e duas assistências. O declínio veio em 2019/20, e se confunde com a mudança no comando técnico. O substituto de Pál Dárdai, Ante Covic, escalou o marfinense em alguns jogos no início da temporada, mas a equipe, como um todo, rendeu pouco, e Kalou perdeu espaço.
Já de contrato expirante, e com a chegada (e a posterior saída) de Jürgen Klinsmann, o atacante seguiu sendo deixado de lado. Uma polêmica live realizada pelo jogador em meio à pandemia, demonstrando quebra de regras por sua parte e de companheiros, foi o estopim para a sua saída. Mesmo longe do auge, Kalou chegou a ser sondado por algumas equipes europeias, mas optou pela vinda ao Brasil.
Onde ele entra na equipe de Autuori
Em 2020, o Botafogo está longe de ser uma equipe pronta. Mesmo assim, alguns fatores parecem ter sido consolidados pelo técnico Paulo Autuori, como a formação da equipe — e, consequentemente, o papel de alguns jogadores chaves. O 4-2-3-1 proposto tem, na figura de Honda, o centralizador das jogadas. Com sua qualidade no toque, trabalha na base buscando tanto os extremos em condições de drible, com lançamentos, como para o pivô de Pedro Raúl, através de passes que rompem linhas.
Se, por um lado, Luis Henrique tem se demonstrado um atleta promissor, além de um bom ativo do clube, o ponta da outra extremidade, Luiz Fernando, tem sido irregular. Titular da equipe nas últimas três temporadas, o jogador ainda parece ter a confiança de Autuori, mas, em 2020, não performou dentro do esperado, deixando poucos detalhes positivos em campo. Pelo cenário atual, não é improvável imaginar que Kalou tomaria o seu lugar na extrema direita do 4-2-3-1.
Imaginar que o marfinense será titular, assim que tiver condições plenas de jogo e se demonstrar adaptado, não diz necessariamente sobre a qualidade do jogador — mas, sim, das necessidades do Botafogo. É claro que é possível criar expectativas sobre um atleta que, até pouco, atuava no alto nível da Europa. A questão é que ele não faz bons jogos há praticamente um ano, algo que exige uma atenção especial.
Um dos pontos mais interessantes da contratação, além de sua alternatividade, é a relação que Kalou teve, ao longo de sua carreira, com centroavantes. Seja no Chelsea com Drogba, no Lille com Nolan Roux ou no Hertha com Ibišević, o marfinense sempre soube jogar ao lado (ou atrás) de um centroavante de referência. Pedro Raúl pode não ser um jogador pronto para a Europa, mas tem talento e características para tal, e pode aproveitar a presença de Salomon para elevar o seu jogo, e vice-versa.
Muitos dos gols mais recentes de Kalou saíram em contra-ataques, graças a sua leitura para atacar espaços. Essa é uma vantagem para quem tem um centroavante bom no jogo aéreo, capaz de ganhar bolas longas e deixá-las vivas no campo de ataque, ou um meio-campista conhecido por sua leitura de jogo, como Honda, que já tem alguns bons lançamentos para a conta usando a 4 do Alvinegro.
Todas as questões financeiras e, quem sabe, políticas envolvendo a contratação do marfinense são relevantes, e certamente serão muito discutidas daqui para frente. Entretanto, é fato que sua presença ajuda a elevar a expectativa do torcedor botafoguense para o futebol brasileiro, além de gerar sentimentos positivos, e quase sempre saudosistas, no fã do esporte no país.
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