O Valencia busca um rumo na Espanha
As escolhas de Peter Lim parecem cada vez mais sentido e Los Ches começam a sentir os problemas dentro de campo; o treinador Javi Gracia tem um dos elencos mais jovens da Espanha. E agora? O que fazer, Valencia?
Sendo um dos clubes espanhóis mais influentes da história do futebol, o Valencia passa por um momento difícil e com muitas críticas envolvendo o dono do clube, Peter Lim. O magnata tem fortes interferências nas decisões futebolísticas do clube e é alvo de crítica nos últimos anos. Desde que Lim adquiriu 70% das ações do clube em 2014, o time já teve oito técnicos diferentes e, muito por conta disso, não consegue encaixar boas temporadas sem oscilar na grande maioria delas.
A saída de Marcelino em 2019, mesmo após o título da Copa do Rei em cima do Barcelona, abalou totalmente as condições do time e foi a partir desse momento que as críticas aumentaram. Em meio a um campeonato espanhol absurdamente competitivo e com outras equipes florescendo, o Valencia caiu de rendimento e pelos problemas internos e inconsistência terminou em 9º lugar — mesmo com todos os problemas, o time vinha de duas temporadas se classificando para a Champions League.
Saídas e expectativas em jovens jogadores
Nesse verão o time não fez uma contratação sequer, mesmo depois de vender peças importantíssimas de um time que já era super contestado durante todo o último ano. Isso não acontecia desde a temporada 2004-05 – na época o time tinha acabado de ser campeão da liga.
O clima ainda não é dos melhores. Javi Garcia, treinador do clube, ficou bastante decepcionado com o mercado do clube, e mesmo sabendo dos limites financeiros por conta das consequências da pandemia sabia que poderia ter feito escolhas melhores.
A forma como grande parte das saídas nessa janela foram condicionadas mexeu bastante com a torcida e é o ponto principal para a atual temporada. Como perder dois jogadores extremamente importantes, tanto no vestiário quanto dentro de campo, como Dani Parejo e Rodrigo Moreno?
A saída de Ferrán Torres é algo ainda mais complicado, pois se tratava da maior promessa do time e que também conseguia entregar performances no mais alto nível mesmo sendo jovem. A questão da renovação foi o mais comentado, já que o jovem espanhol exigia muitas coisas irreais como ser o capitão do time, entre outras coisas.
Apesar de todas essas perdas custosas e nenhuma contratação para substituir, o time continua com um elenco interessante, mas limitado em relação aos adversários na tabela.
Hoje o Valencia tem a menor média de idade entre os times espanhóis na La Liga, e esse fator com certeza será cobrado em momentos decisivos. Dessa forma, o clube consegue ter na mão grandes promessas que se utilizadas da maneira certa podem oferecer algo a mais em uma equipe completamente desiludida.
Peças e encaixe
O sistema defensivo é um dos grandes problemas, não só pelo ideal tático, mas principalmente pelas peças – nas primeiras cinco rodadas da La Liga a equipe só não tomou gol em uma delas. Gabriel Paulista é ótimo zagueiro e sustenta a defesa por si só, entretanto não consegue aliviar seu jogo em nenhum por momento por essa dependência.
Hugo Guillamón é daqueles zagueiros com um teto altíssimo, mas ainda não tem total confiança do técnico Javi Gárcia. Mesmo sem essa confiança do treinador durante os primeiros jogos, Hugo se firmou de vez nas últimas partidas por conta de lesões dos companheiros. Com um ótimo desempenho individual, acabou por potencializar o companheiro Diakabhy em situações mais especificas como cobertura dos adversários. Com o passar do tempo, o canterano tende a ganhar a vaga e se tornar o titular ao lado do brasileiro Gabriel Paulista.
Um dos jogadores mais interessantes dentro desse elenco tão jovem é Yunus Musah que com apenas 17 anos foi titular em três das cinco partidas do Valencia na liga. Mesmo sem empolgar por completo, mostrou bons atributos ainda jovem. Seu desenvolvimento nos próximos anos é fundamental para que chegue ao nível esperado no futuro, entretanto ser tão forte fisicamente com apenas 17 anos é com certeza algo a ser potencializado nesse sentido, além também do poder de acelerar conduzindo a bola sem dificuldades.
Companheiro de Ferrán Torres na base, Kang-in Lee é outra peça interessante com muito potencial e com bom retorno imediato visando a inconsistência do físico de Carlos Soler. Talvez a maior promessa do time no momento, o sul-coreano de 19 anos tem tudo para se tornar um grande craque no futuro e o Valencia com certeza está apostando todas suas fichas nele.
Atualmente o time lida com dois talentos já prontos e que serão fundamentais para que tudo ocorra bem durante a temporada. Maxi Gomez e Gonçalo Guedes são as duas principais estrelas, mas encontram uma responsabilidade desproporcional ao que já enfrentaram em suas carreiras.
O português teve excelente primeira temporada emprestado pelo PSG, mas atualmente vive de lampejos e a inconsistência pesa no decorrer da sua carreira. Aos 23 anos é maduro o suficiente dentro das quatro linhas e precisa de evoluir em poucos aspectos, mas essa relação entre destruir em um jogo e ser um dos piores em campo no seguinte traz uma discrepância enorme em comparação com jogadores de alto nível da sua idade.
Já Maxi tem um poder de decisão absurdo e com certeza é o melhor jogador do time nesse momento. Foram três gols em cinco rodadas e a tendência é melhorar ainda mais. Se mostrado um excelente finalizador foi o artilheiro do time na La Liga durante a temporada 2019/20, mas, além dos gols, sua movimentação em campo é imprescindível para que os companheiros encontrem espaços para atacar a área. Dessa forma fornece outras formas de ataque, tirando dependência além dos seus gols.
Expectativa e realidade
O calendário é longo e teremos boas partidas pela frente. A ver se Javi Garcia continua no comando depois de tantos conflitos, e se o desenvolvimento da equipe tenha uma melhora ainda maior sem nenhuma competição europeia para jogar. O time titular não é tão ruim como parece, mas o banco ser tão fraco de opções é um desequilíbrio. A inconsistência do ataque precisa ser dominada a partir de bons jogos dos jovens, e talvez aí a equipe sinta maior dificuldade com o passar dos jogos.
A partir disso a expectativa já começa abaixo do que foi durante os anos passados – que já não eram lá essas coisas. A falta de líderes no vestiário é a maior deficiência em relação a temporada passada, mas em vista da toxidade do último capitão esse ponto pode acabar se tornando uma espécie de liberdade para os jovens.
O desempenho na Copa é fundamental para entender aonde a equipe pode entregar a curto prazo. Mas o mais curioso, sem dúvida alguma, será toda a execução e dinamismo na La Liga, campeonato onde coroa quem joga com mais regularidade e estabilidade.
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