O VELHO LOBO
Por @BolivarSilveira Maceió, 9 de agosto de 1931. No litoral nordestino nascia, quiçá, o homem mais importante para a tática no futebol brasileiro. Mário Jorge Lobo Zagallo foi campeão do mundo em 1958 e 1962 com a 7 da seleção brasileira. Como treinador foi campeão mundial em 1970 e vice-campeão em 1998. Zagallo jogava como ponta […]
Por @BolivarSilveira
Maceió, 9 de agosto de 1931. No litoral nordestino nascia, quiçá, o homem mais importante para a tática no futebol brasileiro. Mário Jorge Lobo Zagallo foi campeão do mundo em 1958 e 1962 com a 7 da seleção brasileira. Como treinador foi campeão mundial em 1970 e vice-campeão em 1998.
Zagallo jogava como ponta esquerda no famoso 4-2-4 do Vicente Feola, treinador da Seleção de 1958. Naquela época os times se dividiam quase que exclusivamente em ataque e defesa. Cinco atacavam e cinco defendiam em dois blocos normalmente distantes. Então entrou em cena o formiguinha. Mário Zagallo passou a perceber que, quando perdia a bola, a defesa passava apuros. O rival sempre ficava com algum jogador a mais e dificultava o roubo da bola. Além disso, Nilton Santos, lateral esquerdo da seleção, outra referência no quesito entendimento do jogo, já estava com 33 anos de idade e não tinha a mesma condição física de anos atrás. Assim, Zagallo recompor quando seu time perdia a posse. Meio século atrás o número 13 do Botafogo inventou o ponta que voltava para marcar. Mesmo considerado um jogador de limitações técnicas na comparação direta com Garrincha, Pelé, Didi e Nilton Santos, foi de suma importância na gloria da Seleção.
Rio de Janeiro, 1970. João Saldanha fora demitido do cargo de técnico da Seleção após contrariar o pedido do então presidente do Brasil, o ditador Emílio Garrastazu Médici, pela convocação de Dário, o Dadá Maravilha. “O general nunca me ouviu quando escalou o seu Ministério. Por que, diabos teria eu que ouvi-lo agora?”, indagou Saldanha, na frase culminaria com a sua dispensa. Mário Zagallo foi convidado a comandar a Seleção Brasileira. Como treinador, impôs o 4-3-3, uma novidade em uma época ainda dominada pelo 4-2-4 – esquema sucessor dos clássicos 2-3-5 e W-M.
O 4-3-3 surgiu das características dos jogadores que o treinador usufruía. Sabido do poderio ofensivo dos laterais e da qualidade de armar por dentro de Rivellino, o Velho Lobo trouxe para o meio do campo os “antigos” pontas e liberou o corredor para as subidas de Carlos Alberto Torres e Everaldo. No ataque cravou Tostão, o jogador não era nenhum centroavante de força física e altura, possuía bom passe e costumava sair da área para tabelar e abrir brechas para quem vinha de trás. Zagallo viu em Tostão uma espécie de falso 9 para potencializar Pelé. Além de tudo que já foi falado, o Lobo cobrava recomposição defensiva dos jogadores de ataque. Comumente se via Jairzinho e Rivellino voltando para sua posição de origem e marcando jogadores rivais. Mais uma vez desmentindo a cultura popular do “craque não marca”. Outro aspecto da Seleção de Zagallo era o contra-ataque. O time de 70 era especializado em jogadas verticais e rápidas para chegar ao gol do adversário. As partidas contra Peru e Uruguai são bons exemplos.
A tática no futebol vem se desenvolvendo com o advento de novos estudos e tecnologias apresentadas, mas ela sempre existiu e foi fator determinante dentro de campo. Zagallo sabia disso e soube usa-la. É preciso reconhecer e admirar personalidades elementares na fundação e identidade de jogo brasileiro. Algumas pessoas ainda possuem resistência à tática no nosso país, mas, adaptando a célebre frase de Zagallo, elas terão que “engolir” que, como um esporte coletivo que é, o futebol é essencialmente tático.
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