Como um lateral-esquerdo foi o artilheiro do San Lorenzo na Superliga Argentina?

Bruno Pittón excedeu as expectativas na temporada 2019/2020 e terminou como o melhor anotador do San Lorenzo na Superliga Argentina

É raro vermos peças de defesa atingirem um número expressivo de gols em uma temporada. O que falar então quando um jogador do setor defensivo acaba um campeonato como o artilheiro do time? Bem, o exemplo está no San Lorenzo.

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Apesar da campanha e do rendimento coletivo instável do Ciclón, individualmente, o lateral-esquerdo Bruno Pittón tem motivos para estar satisfeito com a temporada 2019/2020 da Superliga Argentina. Ele foi o principal marcador da equipe no torneio, com 7 gols. E quando se trata de “laterais artilheiros”, logo vem a ideia de que essa marca foi atingida a partir de lances de bola parada, em gols marcados de falta e de pênalti. Com Pittón, não foi assim. Nenhum de seus tentos foram desta forma.

Mas por quais razões algo tão incomum aconteceu? O que explica esse fenômeno no San Lorenzo?

Liberdade aos laterais

Durante a última Superliga, o San Lorenzo contou com três treinadores: Juan Antônio Pizzi e Diego Monarriz, além do ídolo Leandro Romagnoli, que assumiu o time nos dois últimos confrontos. Entre os principais comandantes azulgranas na temporada, as diferenças conceituais são grandes. Se Pizzi optou por um modelo mais posicional, Monarriz estabeleceu maior aproximação no setor da bola para construir os ataques. Porém, o denominador comum entre eles é o incentivo aos laterais para subir ao campo ofensivo, claro, com orientações distintas.

Sob o comando de Pizzi, a equipe não se prendia a um único esquema tático. A variação entre o 4-2-3-1, o 4-3-3 e o 4-1-4-1 era constante entre partidas. O que variava pouco era a orientação aos laterais. No momento de organizar o ataque, marcavam presença em um posicionamento mais estreito, próximo do corredor central, enquanto os pontas davam a amplitude. Ao chegar no último terço do campo, acontecia a inversão, com os extremas por dentro e os laterais abertos.

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Com Monarriz, os laterais permaneciam na amplitude o tempo todo. No 4-4-2 armado, os extremas transitavam por dentro, liberando o corredor para as subidas. Na verdade, em várias ocasiões, era possível observar os laterais mais altos no campo do que os próprios pontas, que recuavam para construir. Dando o balanço defensivo para possibilitar isso, os dois meias-centrais ficavam na base da jogada, distribuindo a bola e garantindo a cobertura em oportunidades de contra-ataque adversárias.

San Lorenzo
O posicionamento mais recorrente do time com Diego Monarriz: meias-centrais oferecendo apoio na saída de bola e laterais abertos para aproveitar o corredor

Foi a partir destes dois sistemas de alta liberação dos laterais que Pittón se beneficiou para acumular gols. Dos 7 que marcou, 5 foram durante a passagem de Pizzi na casamata. E o modo mais comum de anotá-los foi aproveitando cruzamentos vindos do lado direito. Quando o lateral destro chegava à linha de fundo, Pittón aguardava o levantamento posicionado na entrada da grande área, tirando vantagem do vazio às costas da defesa. Auxiliado pela chegada de um dos meias junto ao centroavante, encontrava a liberdade de espaço assim que a linha adversária se rearranjava para marcar o homem extra dentro da grande área.

E como destacado anteriormente, nenhum dos gols marcados pelo camisa 3 foi de bola parada. Isso não significa que não teve papel fundamental no aproveitamento da equipe em lances deste gênero. Das 7 vezes que balançou a rede, uma veio em levantamento em cobrança de falta para desviar de cabeça. Em outras duas vezes, venceu o goleiro finalizando cruzamentos gerados por rebotes ofensivos após lances de bola parada. Uma evidência de que é capaz de oferecer perigo ao adversário de múltiplas formas.

Eficiência na finalização

Nada resolve ter tempo e espaço para concretizar as ações se, ao final delas, o objetivo do gol não for alcançado. Pois Pittón soube aproveitar isso muito bem, mesmo com poucas oportunidades em seus pés.

Apesar de ter sido o artilheiro do San Lorenzo, não esteve sequer perto de ser um dos maiores finalizadores da Superliga. Ao todo, arriscou apenas 16 finalizações durante o campeonato. E tal dado aumenta ainda mais os méritos do lateral. Isso significa que obteve uma taxa de conversão de gols na faixa dos 43%. Um número bastante alto, ficando acima de grandes atacantes como Sílvio Romero, Rafael Santos Borré e Carlos Tévez neste quesito.

Mais do que isso: das 16 finalizações que teve, 11 delas tiveram a direção do gol rival. Ou seja, um assombroso índice de 68% de precisão na finalização. Outra estatística para ilustrar essa eficiência é a de gols esperados (xG). De acordo com os parâmetros do cálculo, a expectativa era de que Pittón marcasse 2.72 gols nas chances que teve no torneio. Acabou superando o que era previsto com sobras com os 7 marcados.

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Curioso notar que em seus tempos de Unión Santa Fé, Pittón jamais conseguiu apresentar com tamanha constância a vertente ofensiva e finalizadora de seu jogo. Nos 4 anos e meio em que esteve com os Tatengues, marcou apenas 3 gols. O último deles aconteceu em um lance bizarro contra o Independiente, onde o lateral-direito Fabrício Bustos tentou afastar o perigo de dentro da área e acertou uma bolada em sua cabeça. Nesta partida, inclusive, atuou como extrema pela esquerda no 4-4-2 do técnico Leonardo Madelón.

A proposta direta do Unión, por óbvio, não o permitia chegar ao terço final do campo tantas vezes. Inserido em uma equipe que abria mão da posse para apostar em bolas longas aos atacantes após recuperá-la, não tinha tempo de aparecer em zonas altas e era orientado a guardar mais sua posição.

Dentro de outra proposta, irrompeu para uma diferente realidade. A nova versão de Bruno Pittón já deu provas de ser uma arma valiosa para o San Lorenzo. E a expectativa é de que Mariano Soso, técnico recém-contratado, consiga mantê-lo envolvido na parte ofensiva do time.

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