Sebastián Rodríguez: a certeza em meio à oscilação do Emelec
O uruguaio se coloca como referência absoluta do clube de Guayaquil e garante o mínimo de estabilidade ao time nos momentos de baixa
A temporada 2020 vai chegando ao final no Equador e as sensações que o Emelec deixa em seu torcedor são as mais confusas possíveis. Depois de uma primeira etapa de Campeonato Equatoriano pouco competitiva, com uma modesta 12ª colocação e apenas 16 pontos em 15 jogos, a segunda etapa é de melhor rendimento, com a 2ª posição até o momento. Entretanto, mesmo com um bom posicionamento na tabela, a desconfiança sobre o desempenho do time dentro de campo é grande.
Coletivamente, os Eléctricos possuem ideias e mecanismos bastante visíveis sob a tutela do espanhol Ismael Rescalvo, mas a execução dos conceitos ainda peca nesta lógica predominantemente posicional implementada, muito por conta da ausência de jogadores com características que encaixem naquilo que é pensado. Porém, se há um nome que vem sendo fundamental para fazer as coisas acontecerem dentro de campo mesmo com tantos problemas, este é Sebastián Rodríguez.
O meia uruguaio de 28 anos chegou a Guayaquil no começo do ano e logo se tornou o núcleo do time. A dependência da dinâmica e das ferramentas individuais que ele oferece é gigantesca para o contexto da equipe. Quando toca pouco na bola ao longo das partidas em momentos ofensivos, é sinal de que o Emelec está em dificuldade para produzir qualquer coisa que faça o time chegar até a área adversária.
Por mais que a variação de plataformas táticas seja uma constante no George Capwell, a função de Rodríguez pouco muda. Seu principal papel é auxiliar na saída de bola oferecendo opção de passe aos zagueiros e ocupar os espaços na base da jogada, caindo de maneira predominante pela metade esquerda do gramado. O que muda – e ainda assim sem grande diferença – é o ponto de partida no gramado para executar isto conforme o esquema. No 4-2-3-1, surge como um segundo homem de meio, ao lado de Dixon Arroyo. No 4-4-2, ocupa o centro da segunda linha pela esquerda. No 3-5-2, aparece como interior esquerdo.
A partir disto, exerce uma influência enorme, sobretudo, para levar o time até o campo de ataque. Rodríguez é um dos jogadores que mais consegue fazer a bola progredir verticalmente no Campeonato Equatoriano. Em 27 jogos que esteve em campo na competição, acumula 256 passes progressivos certos, sendo o 3º melhor de sua posição no ranking geral. Na média por 90 minutos, obtém uma boa taxa de 8,73 passes progressivos, o que o coloca em 11º entre os meio-campistas neste quesito. Porém, mais do que o volume, a precisão de seus passes é o que mais chama atenção. Ao soltar a bola para seus companheiros à frente, o percentual de acerto é de 91%.
Vale notar também, a partir do gráfico acima, que seus passes progressivos não se resumem apenas a bolas curtas e de relativa segurança para seus companheiros. Rodríguez busca o passe progressivo e com boa profundidade média para acioná-los o mais próximo da área possível. Aliás, é curioso observar que os passes com menor precisão são justamente os que percorrem entre 0 e 20 metros – talvez por conta da recorrência, já que é a distância mais explorada. Acima disto, a precisão bate a casa dos 90%, mesmo com a maior dificuldade.
Fora a liderança com a bola no pé, Rodríguez vem se destacando cada vez mais como uma liderança de grupo. Sua mentalidade e seu perfil de cobrança geram um efeito positivo dentro de campo e elevam o nível de exigência da própria equipe. Uma dos grandes exemplos disto é a entrevista que deu após o jogo contra o Mushuc Runa, há algumas semanas, quando o Emelec venceu por 3 a 2. Mesmo com o resultado positivo, não se absteve de pontuar a segunda etapa do Bombillo, quando sofreram os dois gols: “Um time que joga como o Emelec jogou no segundo tempo não pode almejar ser finalista do torneio”.
Cada vez mais completo em todas as frentes, Sebastián Rodríguez se coloca como um meio-campista de hierarquia no Equador. Seu crescimento em comparação ao jogador que era no Nacional é notório, mesmo que já fosse uma referência no Tricolor em seus anos por lá. Líder, técnico e efetivo, El Mago ainda tem muito a oferecer pela frente.
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