Surpresa e tradição: os classificados para as quartas do futebol masculino na Olimpíada
Brasil, Espanha, México, Japão, Coréia do Sul, Costa do Marfim, Egito e Nova Zelândia garantiram suas vagas para a fase de mata-mata no futebol olímpico masculino. A rodada de quartas-de-final acontece na madrugada de sábado (31 de julho), com jogos às 5h, às 6h, às 7h e às 8h.
Enquanto Brasil, Espanha e México buscam conquistar pela segunda vez na história a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos no futebol masculino, Costa do Marfim, Egito e Nova Zelândia buscam surpreender e abocanhar uma medalha inédita na competição. Já o Japão e a Coréia do Sul, que conquistaram a medalha de bronze em 1968 (Cidade do México) e 2012 (Londres), respectivamente, querem manter a tradição de boas campanhas e galgar uma posição melhor no pódio na Olimpíada de Tokyo.
Embora Brasil e Espanha mantenham os melhores elencos que ainda estão disputando os jogos, o sonho das outras equipes está vivíssimo, haja vista que Alemanha, França e Argentina, países tradicionais do futebol, caíram na fase de grupos perante a força de seleções cuja popularidade é menor.
Independente da desfiguração sofrida devido as negativas dos clubes, o fraco desempenho das equipes europeias não pode passar batido. Das quatro seleções presentes nos jogos olímpicos, apenas a Espanha conseguiu passar de fase – coincidentemente França, Romênia e Alemanha ficaram em terceiro em seus grupos. Com uma equipe muito próxima da principal, a Roja Sub-23 conseguiu balançar as redes apenas duas vezes, tendo vencido apenas uma partida (1×0 na Austrália) e dois empates (0x0 com o Egito e 1×1 com a Argentina).
Luís de la Fuente, treinador da Espanha, pouco alterou a equipe titular nas três primeiras partidas. Jogadores como Unai Simón, Eric Garcia, Pau Torres, Pedri, Oyarzabal e Dani Olmo começaram como titulares em todas as partidas, além de que eles estiveram no grupo que defendeu a Roja na Eurocopa, que terminou poucos dias antes da Olímpiada começar. O desgaste físico é nítido e a preocupação com Pedri é ainda maior, pois o meio-campista do Barcelona foi titular nos seis jogos da Espanha na Euro e nos três jogos em Tóquio.
A preocupação com relação ao futebol espanhol aumenta por conta do próximo adversário nas quartas-de-final. A Costa do Marfim, que na madrugada de quarta-feira chegou a liderar o Grupo D por alguns minutos, conquistou a vaga no mata-mata com enorme merecimento. Defensivamente segura e com jogadores capazes de resolver problemas no talento individual, a seleção comandada por Soualiho Haidara está invicta no torneio, com uma vitória e dois empates – contra os gigantes Brasil e Alemanha.
Naturalmente, o maior destaque dos Elefantes é Franck Kessié. O meio-campista do Milan consegue aliar sua estonteante qualidade técnica com uma notável liderança sobre seus companheiros, embora o capitão seja o experiente Max Gradel. Kessié é o regista das ações mais agudas da Costa do Marfim, sendo o responsável por cadenciar o jogo com a bola no pé ou encontrar passes em profundidade para os extremas. Além disso, o camisa 8 possui um papel importante sem a bola por pressionar o adversário na transição defensiva.
Haidara costuma alinhar a Costa do Marfim no 4-2-3-1, que é um esquema sustentado por uma linha de quatro defensores de grande regularidade. Bailly e Dabila não são defensores altos, mas são resistentes, velozes e com boa saída de bola. Singo e Diallo são laterais rápidos e com uma imposição física importante para defender, sendo raramente pegos desprevenidos. A qualidade da primeira linha nas duas fases do jogo, para defender e atacar, é o grande charme dessa seleção, que não deve ser tipificada como “apenas forte fisicamente”. O futebol africano, especialmente o da Costa do Marfim, é muito técnico e muito estudado, contando com vários jogadores de equipes grandes da Itália, Inglaterra e França. Vai ser páreo duro para a Espanha.
Atentos ao tipo de jogo que a competição exige, o Egito conquistou a classificação executando exatamente a mesma abordagem que demonstrara na preparação para a Olimpíada. No Guia do futebol masculino alertamos sobre o comprometimento tático dos jovens Faraós contra equipes grandes. Defendendo em linha de cinco e saindo em velocidade com alas que aliam explosão física e qualidade nos cruzamentos e chutes de longa distância, o Egito é mais especulativo do que a Costa do Marfim, para ficar no exemplo de uma seleção sólida na defesa.
A equipe de Shawky Ghabri enfrentará novamente a seleção brasileira nos jogos olímpicos. Em 2012, em Londres, os egípcios perderam por 3×2 numa partida que contou com Neymar e Mohamed Salah marcando gols, porém, em situações diferentes. Enquanto o brasileiro começou a partida, a estrela egípcia saiu do banco para marcar o segundo gol. Recentemente, as seleções se enfrentaram na preparação para a Olimpíada de Tóquio com vitória de virada do Egito por 2×1. Ahmed Rayan, que fizera o segundo gol na ocasião, fez o gol inaugural contra a Australia, na última partida, que selou a classificação para a próxima fase.
Apesar dos apupos da torcida e de alguns setores conservadores na mídia, André Jardine tem demonstrado controle sobre a seleção a cada partida que passa nos jogos olímpicos. Com um estilo de jogo definido há muito tempo, o Brasil possui mecanismos ofensivos que geram muitas oportunidades de gol. Em números, a Seleção tem o terceiro melhor ataque da competição, com sete gols marcados e Richarlison, o artilheiro da competição com cinco gols, está a dois gols de igualar o desempenho de Romário, na Olimpíada de 1988, em Seoul, como maior artilheiro em uma única edição.
A peça-chave, a força motriz que faz a engrenagem montada por Jardine funcionar, é Bruno Guimarães. O camisa 8 vai muito além dos passes longos e saídas limpas na primeira fase do jogo, tendo também um papel vital sem a bola. Antecipações, desarmes e desmarques que facilitam o ritmo de jogo do Brasil. Outra “aposta” de Jardine que está dando muito certo é Daniel Alves. No alto dos seus 38 anos, o lateral-direito exala hierarquia e jogo apoiado pelo setor. O confronto contra o Egito vai exigir muita força mental por parte dos brasileiros, haja vista o comprometimento do adversário na marcação e a debilidade da defesa canarinha no jogo aéreo, um artificio muito explorado pelos homens de Ghabri.
Falando em ataque, os sul-coreanos são os donos da melhor artilharia da fase de grupos, com 10 gols marcados. A goleada por 6×0 sobre Honduras ajudou a impulsionar esse número, especialmente por se tratar de um jogo aberto em que ambas as seleções precisavam de uma vitória para avançar. Lee Kang-in, que estava em baixa no Valencia e encara essa competição como um ressurgimento, começou como titular na derrota para a Nova Zelândia, por 1×0, mas depois virou um reserva goleador. Entrando no segundo tempo nas vitórias por 4×0 contra Romênia e no já mencionado 6×0 sobre Honduras, Kang-in tem três gols na Olimpíada.
Fazendo o caminho reverso do meia-atacante do Valencia, o lateral direito Seol Young-woo (1998) começou como reserva na derrota para os neozelandeses, mas conquistou a titularidade nas partidas subsequentes. Young-woo é a principal arma ofensiva pelo lado direito no 4-4-2 adotado por Kim Hak-Bum devido a velocidade e amplitude imprimida. Além disso, o lateral-direito é muito bom encontrando passes, seja em cruzamentos ou em jogadas associativas.
O rival da Coréia do Sul nas quartas-de-final será o México, que fora campeão olímpico em 2012, vencendo o Brasil na final, e que liderou o Grupo B que contava com os sul-coreanos, que ficaram em segundo lugar. Na época, México e Coréia do Sul empataram em 0x0 no jogo de abertura do grupo, mas que posteriormente se classificaram e chegaram longe na Olimpíada de Londres. É importante ressaltar que a Coréia do Sul pegou o terceiro lugar na ocasião ao derrotar o rival Japão por 2×0 na disputa pelo bronze.
E as coincidências não param por aí. Se o melhor ataque da edição de 2020 é sul-coreano, o segundo melhor é mexicano. Com 8 gols marcados, a Tricolor passou o carro na França por 4×1 e na África do Sul por 3×0, além de ter feito um gol na derrota para o Japão por 2×1. Mesmo ficando com o segundo lugar no Grupo A, os mexicanos mostraram toda a sua tradição em torneios de base e se classificaram sem sustos.
Como previsto, Alexis Vega é a principal referência ofensiva com dois gols e uma assistência, além de ser o desafogo em jogadas individuais e faltas sofridas. O craque do Chivas tem atuado pelo lado esquerdo do ataque, o que facilita na finalização por conta do pé trocado (ele é destro). Outro grande destaque, mas que não é novidade devido ao nível técnico que tem desempenhado nas últimas temporadas, é Luís Romo. O meia-central é, com o perdão do trocadilho, o centro das atenções e ações da equipe de Jimmy Lozano.
Romo desarma, arma, puxa contra-ataque, lança os companheiros em profundidade e marca gols. O ídolo do Cruz Azul vive um momento atlético muito especial, aguentando muitas partidas em sequência e vencendo duelos pela bola em sua grande maioria. Tudo passa pelo camisa 7, que ainda possui a ajuda de Charly Rodríguez, do Monterrey, que por sua vez é outro meio-campista muito dinâmico, com grande participação com e sem a bola.
Assim como Espanha x Costa do Marfim, o confronto entre Coréia do Sul x México é muito parelho, sendo dois dos mais excitantes das quartas-de-final. O primeiro citado abre a fase de mata-mata às 5h da manhã e o segundo fecha a fase às 8h.
Por último, mas não menos importante, teremos o encontro de Japão x Nova Zelândia, o segundo jogo do sábado, que começa às 6h no horário de Brasília. Será o confronto entre a melhor campanha da primeira fase (Japão) com a segunda pior dentre os classificados (Nova Zelândia). Com 9 pontos nos três jogos, além de sete gols marcados e apenas um sofrido, os japoneses superaram o nervosismo da estreia contra a África do Sul, quando venceram por 1×0, para massacrar a França no último jogo por 4×0.
Muito dessa boa campanha japonesa deve-se a dupla formada por Takefusa Kubo e Ritsu Doan, que juntos combinaram diretamente para 4 dos 7 gols marcados pela equipe na fase de grupos – paralelamente, ainda tem uma assistência direta de Doan, o que elevaria para 5 gols dos 7 marcados pelo Japão em que um dos dois esteve envolvido. Além disso, Kubo é o primeiro jogador na história do país que balançou as redes nos três primeiros jogos das Olimpíadas. A preocupação que existia quanto a forma recente da dupla por seus respectivos clubes está sendo sanada aos poucos.
Outro ponto importante na campanha irretocável do Japão na fase grupos é a força defensiva da equipe dirigida por Hajime Moriyasu, que levou apenas um gol (de Roberto Alvarado na partida contra o México) e figura junto com Espanha, Coréia do Sul e Egito como as melhores nesse quesito. A preocupação de Moriyasu em convocar peças experientes para o setor está valendo a pena. A melhor campanha japonesa nos jogos olímpicos aconteceu em 1968, quando conquistou o bronze na Cidade do México. Curiosamente, na Olimpíada de 1964, também em Tóquio, os japoneses passaram para as quartas-de-final, porém, o Japão caiu nas quartas perante os europeus da antiga Tchecoslováquia.
No entanto, o adversário dos japoneses na segunda edição olímpica realizada em Tóquio será a Nova Zelândia, que não é europeia, mas que possui um padrão de jogo que os donos da casa encontrariam caso aparecesse um europeu em seu caminho. Com uma vitória, uma derrota e um empate, que acabou culminando na classificação na última rodada da fase de grupos.
Apesar de uma campanha irregular, a defesa da neozelandesa é o grande destaque do time, tendo sido superada apenas na derrota para Honduras, por 3×2, na segunda rodada. Danny Hay, treinador dos Olywhites, alinhou a equipe titular nas duas primeiras partidas com linha de cinco, alternando entre 5-4-1 sem a bola para o 3-5-2 com a bola. Ofensivamente falando, Joe Bell e Elijah Henry Just são as melhores opções de Hay. Titulares incontestáveis na fase de grupos, o primeiro é um volante de bom passe e saída de bola enquanto o segundo é um extrema-direita muito veloz e responsável por servir o veterano Chris Wood.
Embora tenha vencido as três partidas, o Japão encontrará uma equipe diferente do que enfrentara na fase anterior. A Nova Zelândia não fará questão alguma de ter a bola, algo que favoreceu os japoneses no Grupo A.
O chaveamento do mata-mata é o seguinte: o vencedor de Espanha x Costa do Marfim enfrenta o vencedor de Japão x Nova Zelândia; o ganhador de Brasil x Egito pega o triunfante de Coréia do Sul x México.
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