Umberto Louzer: intencionalidades e falhas de execução no Sport
Há dois meses sob novo comando, time rubro-negro tem demonstrado operacionalização de mecanismos e conceitos de jogo. Mas longe de uma naturalidade na execução
A contratação de Umberto Louzer pelo Sport teve como mote central a busca por repertório ofensivo e solidez defensiva. Anseios que eram difíceis de se alcançar com a permanência de Jair Ventura de acordo com a avaliação interna e externa. Por isso, a gestão entendeu que era preciso dar um passo a mais na disputa do Brasileiro 2021. Era necessário realizar um jogo que fosse capaz de criar identificação com o torcedor e fosse fidedigno à história centenária do clube.
Passados 60 dias à frente do comando técnico do Leão, o que pôde ser visto no trabalho desenvolvido por Umberto Louzer? Qual o tipo de marcação? Plataformas utilizadas? Virtudes? Fragilidades? Ao observar os jogos contra Internacional, Atlético-MG, Fortaleza e Grêmio, é nítido que Louzer busca operacionalizar algumas intencionalidades através da interpretação dos jogadores. Algumas com melhor nível de execução do que outras.
Planificação
Neste início de Brasileiro, o Sport tem convivido com alguns desfalques por lesão de atletas do setor ofensivo e defensivo. E o reflexo pode ser visto no campo. A equipe ainda é uma incógnita. Umberto Louzer ainda busca a melhor forma de resolver o quebra-cabeça da complementação de características entre os atletas, para que possa gerar uma unidade sólida. Nos quatro jogos que disputou, utilizou as plataformas e variações 4-4-2/4-2-3-1/4-2-4/5-4-1/5-3-2/3-4-3.
Embora se encontre em meio à dificuldade no que concerne a ter uma equipe base, é possível observar que há intencionalidade nas escolhas dos atletas. Os laterais são dotados de força, velocidade, explosão e resistência para realizarem o jogo que vai de uma área a outra. Os zagueiros são muito bons defendendo a área e apresentam boa capacidade de construção através de passes ou conduções. Mais à frente reside um enigma. O técnico do Sport, opta por um volante agressivo e que busca o contato (Marcão). Porém, ainda não encontrou um jogador capaz de reunir características complementares. Já aturam Júnior Tavares, Ricardinho e Tiago Lopes.
Na criação jogadores com a capacidade inventiva, de associação e de chegada na área para finalizar. Os meia-atacantes Thiago Neves e Gustavo têm cumprido a função. O primeiro tem ao seu favor a experiência e a capacidade de com um toque resolver os problemas do jogo. O outro demonstra maior dinâmica, agressividade e passes para finalização. Os extremos (Moccelin e Marquinhos) apresentam boa capacidade de condução, velocidade e explosão. Ambos são destros e jogam cortando para dentro.
No comando de ataque André e Mikael atuaram como titulares. O A90 é um jogador mais técnico, que busca realizar apoios frontais, fugir do contato, resolver o jogo com um toque, além de ter ótima leitura de jogo. Já Mikael é um centroavante mais de força e imposição física, que gosta de realizar o pivô sustentando o contato.
Organização ofensiva
Na construção ofensiva (saída de bola), observa-se uma intencionalidade muito clara de que o Sport inicie a construção com muitos jogadores para dar segurança ao homem da bola. Dessa forma, é possível identificar no vídeo abaixo que a equipe comandada por Umberto Louzer realiza uma saída de bola sustentada estruturada no 4-1 (zagueiros, laterais e um volante) e 4-2 (zagueiros, laterais e dois volantes).
A estruturação dessa saída possui algumas variações. Por exemplo, o volante ocupar o espaço do lateral, o lateral ficar em amplitude numa zona mais próxima do último terço de campo e o extremo ocupar o espaço por dentro. Outra possibilidade é a do meia-atacante baixar na altura dos volantes para auxiliar na construção. Entretanto, em específico, neste último mecanismo, faltou sincronia de movimentos para que o espaço entre as linhas fosse ocupado por um dos volantes.
Os zagueiros também são peças-chave para romper a primeira linha de pressão do adversário. Seja através de conduções, passes na paralela ou passes pelo corredor central explorando as costas da linha de meio do oponente. E nesses quesitos Rafael Thyere assume protagonismo. O atleta tem demonstrado saber lidar com a pressão e ainda encontrar companheiros em situações de vantagem.
Ao quebrar a pressão inicial do adversário, o objetivo passa a ser superar a linha de meio. Para isso, Umberto Louzer cria mecanismos para que o meia-atacante atraia a marcação do extremo adversário, receba o passe, faça o pivô e toque para o volante que vem de frente para a jogada. Neste instante, o extremo vai vir para dentro atraindo a marcação do lateral adversário e vai abrir o corredor para que o lateral infiltre. Outra dinâmica interessante é a flutuação do extremo para dentro para atrair a marcação do lateral e, assim, mais uma vez abrir o corredor para o lateral atacar.
No entanto, os mecanismos criados por Louzer têm esbarrado numa deficiência que é fruto do não amadurecimento dos conceitos e movimentos ofensivos: a baixa incidência de infiltração no último terço com conclusão das jogadas. O Leão apresenta uma média de 13 entradas nesse setor de campo. Porém, finaliza apenas em 3 oportunidades. Ou seja, apresenta uma taxa de conclusão de jogadas de 23%.
Marcação em Bloco Alto
Em organização defensiva. Mais precisamente em bloco alto, o Sport busca se posicionar no 4-4-2 com variação para o 4-2-3-1. Dessa forma, ao variar, consegue ter maior alcance vertical e mantém a compactação entre as linhas. Na estrutura Thiago Neves e Mikael alternam entre pressionar o homem da bola e fechar o espaço pelo corredor central. Umberto Louzer opta por uma pressão individual no homem da bola e fechar linhas de passe com os demais através de encaixes.
Ao estar compacto, encaixado e com boa pressão na bola, o Sport consegue retomar a posse de bola ainda no último terço ou induzir o lançamento longo e consequentemente o erro do oponente para recuperar em um zona intermediária. A imagem abaixo, elucida bem qual a região do campo que o time de Umberto Louzer mais recupera a posse de bola: o segundo terço do campo. Ao todo, o Leão retoma a posse de bola 45% das vezes. Estando em uma zona intermediária fica mais fácil de aproveitar a desestrutura rival e conseguir concluir a jogada.
Mas nem sempre é possível recuperar a posse de bola no último ou segundo terço. Seja pela qualidade do oponente ao quebrar a pressão ou por meio dos erros de execução. No frame abaixo, nota-se que os erros mais comuns são causados pelos erros de tomada de decisão, encaixes distantes e ausência de pressão na bola. Dessa forma, a recuperação fica muito mais próximo ao próprio gol em cenários de defesa exposta ou organização em bloco baixo.
Marcação em Bloco Médio/Baixo
Em bloco médio/baixo, o Sport demonstrou algumas ideias ao longo dos últimos jogos. Contra Internacional e Atlético-MG atuou no 4-4-2, com uma marcação zonal. Já diante do Fortaleza atuou no 4-4-2 e aderiu a marcação mista. Ou seja, que reúne elementos da marcação zona e individual. Na partida com o Grêmio se posicionou no 5-4-1 com variação para o 5-3-2 e, novamente utilizou uma marcação mista.
No 4-4-2, a primeira linha realiza uma marcação mais posicional com uma alternância de movimentos de encurtar o homem da bola e fechar a linha de passe pelo corredor central. Os extremos avançam para pressionar à medida em que os adversários entram na zona. Contra o Fortaleza teve uma adição de movimentos. O extremo Moccelin tinha a responsabilidade de se dividir entre defender o seu espaço e também às costas de Sander. Pois o Fortaleza buscava criar mecanismos para ter superioridade numérica no setor.
Contra o Grêmio, Louzer jogou com a linha de 5 realizando uma marcação individual no setor (encaixes). Os laterais pegavam nos adversários que estavam na amplitude. E os zagueiros encurtavam nos oponentes que atuavam no meio-espaço (espaço entre lateral e zagueiro). Já a linha de 4 (meio-campo), adotava um comportamento de defender o espaço e fechar linhas de passe. O atacante André era responsável por fechar o passe por dentro e adiantar o bloco.
Em bloco baixo o Sport mantém a organização no 4-4-2 ou 5-4-1. Nesse momento do jogo, o centroavante e o meia-atacante participam menos. Com menos obrigações defensivas, ficam com a responsabilidade de realizar o balanço ofensivo e puxar um contragolpe.
O Sport de Umberto Louzer está em um nível incipiente no que se refere a operacionalização dos conceitos de jogo. Mas tem margem de crescimento e pode elevar a competitividade ao longo da competição. Algo fundamental para a permanência na elite do futebol brasileiro.
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