25 ANOS DO TETRA - BRASIL 1X0 EUA - QUANDO UMA EXPULSÃO 'BENEFICIA'
Por Rodrigo Coutinho Uma das piores coisas que pode acontecer com um time de futebol é perder um atleta expulso no 1º tempo. O esporte não costuma perdoar equipes em inferioridade durante tanto tempo. Geralmente a parte tática, o lado físico e o emocional são afetados rapidamente. Mas como o futebol é algo imprevisível e, […]
Por Rodrigo Coutinho
Uma das piores coisas que pode acontecer com um time de futebol é perder um atleta expulso no 1º tempo. O esporte não costuma perdoar equipes em inferioridade durante tanto tempo. Geralmente a parte tática, o lado físico e o emocional são afetados rapidamente. Mas como o futebol é algo imprevisível e, por isso, apaixonante, às vezes jogar com dez se pode criar armadilhas traiçoeiras para o adversário. Foi o que aconteceu no dia 04 de julho de 1994.
Há 25 anos o Brasil vencia os Estados Unidos pelas oitavas de final da Copa do Mundo, em pleno dia da independência norte-americano. Quer entender essa dinâmica? Mergulhe nas linhas abaixo e conheça os detalhes do quarto jogo brasileiro na campanha do Tetra.
O adversário
A seleção norte-americana sentia o gosto de ser sede de uma Copa do Mundo pela primeira vez. A aceitação do público com o selecionado local e o engajamento com a competição foram enormes, o que de certa forma impulsionou o time comandado pelo experiente Bora Milutinovic. O iugoslavo estava em seu terceiro Mundial seguido. Havido ido à Copa com o México em 1986, e com a Costa Rica em 1990. Era a quinta edição dos Estados Unidos, a segunda seguida depois de um hiato de 36 anos entre 1950 e 1986. Apesar do terceiro lugar em 1930, o ‘’Soccer’’ tinha pouquíssima tradição por lá em 1994.
Aquele mesmo grupo comandado por Bora havia ganho a Copa Ouro em 1991, e venceu a Colômbia na primeira fase da Copa. Além disso, dentro do Grupo A, perdeu para a Romênia e empatou com a Suíça. Tratava-se de uma equipe puramente defensiva. Tinha dois volantes de imposição e boa técnica, uma linha de defesa basicamente ‘’inquebrável’’, dois jogadores de lado de campo – Tab Ramos e Cob Jones – abnegados na marcação, Hugo Pérez como um talentoso meia central, e Stewart como avançado solitário. Marcava bem e saía no contra-ataque. Quando precisava tomar a iniciativa de atacar, mostrava sua falta de ideias. Foi nesta lacuna que o Brasil venceu a partida.
O Jogo
De volta ao Stanford Stadium dez dias depois, o Brasil enfim fugia do sol forte de meio-dia californiano. Marcado para o final da tarde e com uma temperatura batendo na casa dos 25º C, o jogo pôde ganhar um pouco mais de velocidade. Isso influenciou diretamente a Seleção. A lentidão dos jogos contra Camarões e Suécia havia ficado pra trás. Era um Brasil que trabalhava a bola com mais velocidade e tinha mobilidade para tentar os desmarques.
O time entrou em campo com Mazinho na vaga de Raí. Perdia-se qualidade no último passe, inventividade perto da área, potencial na bola aérea e um exímio finalizador. Ganhava-se um atleta que dava mais dinâmica na movimentação, acrescentava intensidade nas pressões pós-perda e suportava com mais facilidade a parte física da função exigida por Parreira. O treinador era muito criticado àquela altura por manter Raí e Zinho entre os titulares. A ‘’opinião pública’’ pedia mais um atacante. Muller era o mais citado. Até mesmo Viola e o então garoto Ronaldo ganhavam projeções entre os 11.
Por mais que trabalhasse a bola mais rapidez e jogasse de maneira inteligente, abrindo o jogo para os lados do campo, o Brasil sofria mais uma vez com um bom sistema defensivo rival. Assim como a Suécia, os Estados Unidos marcavam por encaixes dentro do setor, mas não se desorganizavam no posicionamento. Conseguiam manter-se compactos, reduzindo o raio de ação brasileiro a uma estreita faixa de campo. De quebra, deram um grande susto aos 11 minutos, quando o bom volante Dooley recebeu em profundidade após jogada ensaiada de falta lateral, e chutou cruzado, tirando ‘’tinta’’ da trave de Taffarel.
Até os 42’ do 1º tempo, o Brasil só produzira três jogadas de perigo. Todas oriundas de escanteios ou faltas laterais. Aldair, Marcio Santos e Bebeto assustaram, mas o time parecia irritado. Já havia levado dois cartões amarelos e, pouco depois da melhor jogada brasileira, finalizada por Leonardo e bem defendida por Meola, o próprio lateral seria expulso. Acertou uma cotovelada no rosto de Tab Ramos e foi mais cedo para o chuveiro. Parreira deslocou Mazinho para a lateral e a Seleção foi para o intervalo exalando pressão. Pouco antes, porém, Romário acertou a trave esquerda em chute da entrada da área.
Quando tudo parecia conspirar contra, uma particularidade da partida favoreceu o time de Parreira. Tab não voltou do intervalo, foi inclusive hospitalizado em virtude da violência do lance protagonizado por Leonardo, e Milutinovic resolveu soltar sua equipe. Colocou o atacante Wynalda, deslocando Stewart para a função do substituído. A torcida se inflamou e os norte-americanos acreditaram que poderiam ser mais agressivos no ataque.
Com o cenário descrito, a Seleção começou a encontrar os espaços logo no início do 2º tempo. Com 13 minutos já tinha criado três boas chances, duas delas com Romário, e a outra novamente com Aldair em escanteio. Os norte-americanos pisaram no freio de novo e o jogo voltou a ficar fechado. O técnico iugolslavo botou mais um atacante. Desta vez Wegerle na vaga de Hugo Pérez. O time tornava a se abrir um pouco mais na segunda metade da etapa final.
O Brasil tinha um 4-3-2 naquele momento. Mauro Silva, Dunga e Mazinho formavam uma trinca no meio. Cafu entrara no lugar de Zinho e passou a fazer a lateral-esquerda, o que revoltou Branco. Especialista na posição, foi preterido pela segunda improvisação no jogo. Cabe ressaltar que o ‘’Canhão do Tetra’’ vinha de uma grave lombalgia, que quase o tirou da Copa. Mas queria entrar e chegou a discutir posteriormente com o coordenador-técnico Zagallo.
Destaque para o trabalho de Dunga na marcação, cobrindo todo o lado direito à frente de Jorginho. Novamente um leão em campo, consciência tática muito acima da média e qualidade na distribuição dos passes. O Brasil não sofria, criava mais que os Estados Unidos e o ponto de desequilíbrio daquele time apareceu aos 28 minutos. Romário recebeu na intermediária e arrancou com a bola grudada no pé, com uma precisão impressionante serviu Bebeto após boa movimentação do camisa 7. O chute seco, de chapa, entrou rente ao poste direito de Tony Meola e soltou o grito da garganta dos brasileiros.
Atônitos com o gol sofrido, os Estados Unidos murcharam de vez e ainda tiveram um jogador expulso aos 40 minutos, Clavijo fez falta por trás em Romário e levou o segundo amarelo. O Baixinho ainda poderia ter ampliado o marcador aos 44’, mas Tony Meola fez um milagre após grande jogada do camisa 11. O Brasil superava a barreira das oitavas, fase que foi eliminado em 1990, e encararia a boa seleção holandesa, tema do próximo capítulo…
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