25 ANOS DO TETRA - BRASIL 3X0 CAMARÕES - INDIVIDUALIDADE DESAMARRA CAMARÕES
Por Rodrigo Coutinho Depois da vitória por 2×0 sobre a Rússia, na estreia do Mundial de 1994, o Brasil entrava em campo no dia 24 de junho, há 25 anos, para pegar Camarões. A vitória por 3×0, válida pela 2ª rodada do Grupo B, é um pouco ilusória. Menos pelo que a Seleção fez para […]
Por Rodrigo Coutinho
Depois da vitória por 2×0 sobre a Rússia, na estreia do Mundial de 1994, o Brasil entrava em campo no dia 24 de junho, há 25 anos, para pegar Camarões. A vitória por 3×0, válida pela 2ª rodada do Grupo B, é um pouco ilusória. Menos pelo que a Seleção fez para merecer o triunfo, mais pela margem de gols, que não reflete exatamente a dureza do duelo. Novamente sob o sol escaldante das 11h da manhã no Stanford Stadium, foi a vez de Dunga auxiliar Romário e Bebeto na tarefa de destaques da partida.
O adversário
Estreante em 1982, a seleção camaronesa chegou em 1994 mais habituada a disputar uma Copa do Mundo e respaldada pela boa campanha de 1990. Metade dos 22 convocados para jogar nos Estados Unidos estiveram na Itália quatro anos antes. O time tinha rodagem e experiência, além de alguns atletas atuando no futebol europeu. Num comparativo com a Rússia, adversária da estreia, por mais que tenha sido goleado na última rodada da fase de grupos, era superior. Nas Eliminatórias, os ‘’Leões Indomáveis’’ não tiveram problemas para ficar em primeiro em um grupo com Zimbabwe e Guiné.
O grande problema daquela equipe era a média de idade. Ao mesmo tempo que tinha o lendário zagueiro Rigobert Song com apenas 17 anos, possuía suas referências no final da carreira. Bell (39), Tataw (31), Mfedé (33) e Roger Milla (42) são os melhores exemplos. O técnico era o francês Henri Michel, então com 46 anos, e que começaria ali a sua sequência de trabalhos em seleções africanas. Camarões jogava no 4-3-1-2 e tentava se impor fisicamente. Era um time direto, forte na marcação, rápido e que tinha organização defensiva. Não dava muitos espaços.
O Jogo
As características de Camarões citadas acima indicam os motivos da dificuldade da seleção brasileira na partida, sobretudo no 1º tempo. Para se ter noção exata, a primeira finalização da Seleção ocorreu apenas aos 39 minutos, justamente o gol marcado por Romário, finalizando após um domínio genial entre três camaroneses, a arrancada fulminante, precedida por passe preciso e inteligente de Dunga.
Antes disso, o Brasil tentava impor o seu jogo de troca de passes e o padrão de movimentação já mostrado no texto anterior, mas esbarrava em um adversário que se defendia de forma mais inteligente que a Rússia. Ao invés da marcação praticamente individual dos europeus, Camarões promovia encaixes no setor e perseguições médias. Os atletas não se afastavam tanto das suas regiões de origem, o que preservava um bom posicionamento. Havia também muita intensidade, e às vezes até violência, na abordagem de marcação. O cenário travou o Brasil, que passou a errar muito. Se tornou um time ansioso, impreciso tecnicamente e com pouca mobilidade.
Foram poucas as vezes que a Seleção conseguiu encaixar uma sequência de bons passes no 1º tempo. Em contrapartida, não corria riscos atrás. Aldair, que havia entrado nervoso na estreia, iniciou a partida e foi muito bem desde o primeiro minuto. Ao lado de Marcio Santos neutralizava as ligações diretas para os atacantes camaroneses, ganhando todos os duelos por baixo e por cima. Mauro Silva mais uma vez dava o auxílio necessário para que houvesse a ‘’sobra’’. Pegava um dos atacantes e acompanhava com intensidade.
Relembre o segundo capítulo da série: “25 anos do Tetra – Agressividade e controle”
O jogo ficou nesse marasmo truncado até a bola roubada por Dunga dos pés de Foé na origem do gol de Romário. Curioso como a tentativa de ligar Romário ou Bebeto mais diretamente em contra-ataques foi vista várias vezes no 1º tempo. E na primeira vez que o passe entrou saiu o gol. Camarões não só se defendia, tentava agredir o Brasil, e isso abria essa possibilidade. No 2º tempo, porém, as coisas ficariam mais tranquilas.
Antes dos dez minutos o Brasil já havia chegado bem em duas ocasiões, ambas com Bebeto como protagonista. A intensidade da marcação africana tinha naturalmente sofrido uma queda e os atacantes brasileiros começavam a levar vantagem. O próprio Bebeto recebeu um carrinho criminoso de Song por trás. O árbitro mexicano Arturo Brizio não hesitou em dar o cartão vermelho direto. Caminho aberto para a vitória brasileira!
Três minutos depois da expulsão, Marcio Santos aproveitou cruzamento perfeito de Jorginho e marcou de cabeça. Detalhe para o passe de Dunga na origem da jogada, que começou com uma cobrança curta de escanteio. Romário e Bebeto quase fizeram o terceiro na sequência. Um prenúncio do que viria. O Baixinho recebeu em profundidade aos 28’, deixou Kalla pra trás e foi abafado pelo goleiro Bell na hora de finalizar. A bola se ofereceu para Bebeto enfim marcar no rebote. O camisa 7 foi o melhor em campo e já vinha chegando perto de marcar desde a estreia.
Nos últimos 15 minutos, Parreira ainda deu chance a Paulo Sérgio e Muller nos lugares de Zinho e Raí. Roger Milla obrigou Taffarel a fazer uma boa defesa, mas o Brasil quase fez o quarto com Romário e o próprio Paulo Sérgio. Segunda vitória na competição e classificação matematicamente garantida. Não foi a melhor das atuações, mas a parte individual de Dunga, Romário, Bebeto e dos zagueiros foi determinante para o triunfo.
Naquele mesmo dia a Suécia venceria a Rússia por 3×1 e se colocaria como principal desafiante da Seleção Brasileira no Grupo B. O encontro entre ambos estava marcado para o dia 28 de junho, e na próxima sexta-feira você confere aqui.
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