25 ANOS DO TETRA – BRASIL 3X2 ITÁLIA – A CONSAGRAÇÃO NOS PÊNALTIS E A ‘FINAL DE DUNGA’
Por Rodrigo Coutinho Hoje é dia de comemorar uma das maiores conquistas do futebol brasileiro! Há 25 anos a Seleção sagrava-se tetracampeã mundial ao bater a Itália nos pênaltis, após uma verdadeira batalha em 90 minutos de tempo normal, e mais 30’ de prorrogação. A vitória por 3×2 nas penalidades no Rose Bowl, em Pasadena, […]
Por Rodrigo Coutinho
Hoje é dia de comemorar uma das maiores conquistas do futebol brasileiro! Há 25 anos a Seleção sagrava-se tetracampeã mundial ao bater a Itália nos pênaltis, após uma verdadeira batalha em 90 minutos de tempo normal, e mais 30’ de prorrogação. A vitória por 3×2 nas penalidades no Rose Bowl, em Pasadena, consagrou o time comandado por Carlos Alberto Parreira. Nos últimos 30 dias você acompanhou aqui no FOOTURE, em oito capítulos, cada detalhe deste grande triunfo. Mergulhe nas linhas abaixo e saiba tudo sobre o ato final do time que, durante muito tempo, não recebeu o devido reconhecimento da opinião pública brasileira. Nada mais justo que o grande destaque individual do Brasil naquela partida tenha sido o capitão Dunga. Execrado na eliminação para a Argentina em 1990, deu a volta por cima, e com uma atuação soberba foi o dono do jogo, coroando a sua grande Copa do Mundo.
O adversário
24 anos depois, Itália e Brasil voltavam a se encontrar numa final de Copa do Mundo. Entre 1970 e 1994, o fantasma de 1982, quando os italianos eliminaram o lúdico time brasileiro, rondava o imaginário popular. Era novamente uma seleção forte defensivamente. Pense numa linha de defesa com Paolo Maldini na ‘’flor da idade’’ e Franco Baresi – este já debilitado fisicamente – como zagueiros. Tirando a parte individual de atletas históricos no futebol local, tinha um bom sistema baseado em contra-ataques. Quando precisava tomar a iniciativa de atacar, sofria. Foi assim na estreia daquela Copa, quando perdeu para a Irlanda. Na sequência, uma vitória magra sobre a Noruega e um empate contra o México. Como quase sempre, uma Azzurra claudicante na 1ª fase.
Já no mata-mata, três vitórias por 2×1. Despachou Nigéria, Espanha, e a ótima seleção búlgara. Nas eliminatórias passou em primeiro num grupo com Suíça, Portugal, Escócia, Malta e Estônia. Não havia se classificado para a Euro 1992, o que pesava contra aquela geração de atletas muito bem-sucedidos em seus clubes. O treinador seguia o mesmo padrão. Arrigo Sacchi, então com 48 anos, montou o Milan que encantou o Mundo no final da década de 80, início de 90, assumiu a Azzurra em 1991.
O jogo
Quem acompanhou aquela Copa com atenção já sabia como se desenvolveria o jogo em condições normais. O Brasil com a posse, trocando passes e tentando encontrar espaços na boa defesa italiana. E os europeus buscando as saídas rápidas, as bolas esticadas ou altas para Massaro acionar um Roberto Baggio em frangalhos físicos na final. Pois bem, foi exatamente desta forma a dinâmica do jogo. E o Brasil, como aconteceu em quase 100% da Copa do Mundo, executou as suas ideias melhor que o adversário. Para se ter ideia, o número de finalizações foi maior que o triplo (19×6) dos italianos. As chances reais de gol seguiram a tônica: 7×2 para o Brasil.
Havia pouco espaço para jogar no centro do campo. Por mais que Romário tenha recebido algumas bolas entre as linhas de defesa e meio da Itália, e produzido boas jogadas, os italianos marcavam por zona, eram agressivos na abordagem, e contavam com um quarteto defensivo jogando de forma entrosada, praticamente grudados nos meio-campistas. Até em virtude disso, o Brasil nitidamente tentou surpreender com alguns passes em profundidade, longos, por cima da defesa, mas não conseguiu êxito desta forma.
A saída era trabalhar a bola com paciência, girar o jogo de lado e acionar os flancos em profundidade. Dunga foi o regente nesta estratégia. Escolhendo bem as jogadas, preciso nos passes e implacável nas pressões pós-perda. Foi o melhor jogador em campo e, antes dos 20 minutos, já havia criado duas boas jogadas. Primeiro servindo Romário em cruzamento pelo lado direito; a cabeçada do Baixinho parou nas mãos do ótimo Pagliuca. E depois roubando uma bola para Romário puxar o contra-ataque e servir Bebeto em profundidade. O chute do camisa 7 não teve precisão.
A Itália respondeu com Massaro recebendo ligação direta de Baresi, e contando com uma rara falha de Mauro Silva antes de obrigar Taffarel a fazer boa defesa. O time europeu não atacou mais no 1º tempo. Ficou retraído e era acharcado assim que conseguia roubar a bola. No popular: só deu Brasil! Branco em duas cobranças de falta, Dunga em chute de fora da área, e Romário após passe lindo de Mazinho, fizeram Pagliuca trabalhar forte. A Seleção perderia Jorginho lesionado ainda na 1ª etapa. Cafu entrou em seu lugar. Mussi também deixou o campo para a entrada de Apolloni. Benarrivo foi jogar na lateral-direita, Maldini na esquerda, e o atleta que saiu do banco fez a dupla de zaga com Baresi.
No 2º tempo a ansiedade começou a tomar conta da Seleção Brasileira. A Itália não tomava a iniciativa de atacar, algo que só aconteceria depois dos 30 minutos. Até lá, muita insistência do Brasil pelo meio, pouco jogo pelos lados, e o bloqueio italiano funcionava. Um fator positivo foi o alto número de finalizações da entrada da área. Com pouca penetração, a Seleção chutou bastante. Em um desses chutes, Mauro Silva soltou uma bomba e viu Pagliuca falhar. Para a sorte do arqueiro, a bola bateu caprichosamente no poste direito e não entrou. A trave ganhou um beijo de agradecimento.
Se tinha dificuldades de encaixar contra-ataques no 1º tempo, a Itália acabou tendo essa condição na etapa complementar com o aumento de erros brasileiros. Donadoni era a principal válvula de escape pela direita. Aproveitando o cansaço de Branco, criou duas boas situações. Em uma delas, Roberto Baggio chutou com muito perigo aos 36’. Na outra, Taffarel fez a intervenção.
A prorrogação acabou sendo inevitável. Com as duas equipes já exaustas debaixo do sol escaldante da Califórnia, a partida ganhou mais espaços. A Itália se encorajou ainda mais e chegou com perigo em três ocasiões nos 30 minutos do tempo extra. Na principal chance, Roberto Baggio tabelou com Massaro e chutou fraco para a defesa de Taffarel. O Brasil, porém, foi mais contundente de novo. Romário e Bebeto perderam chances claras para matar o jogo. Cafu e Viola, que haviam saído do banco de reservas, também chegaram perto de marcar. Outro jogador que entrou e se destacou foi o italiano Evani, dando mais criatividade a Azzurra.
Mesmo merecendo a vitória no tempo normal ou na prorrogação, o Brasil foi buscá-la na decisão por pênaltis. Baresi e Marcio Santos iniciaram a série desperdiçando suas cobranças. Albertini, Evani, Romário e Branco converteram suas batidas. Claudio André Taffarel se consagrou ao defender a batida de Massaro e Dunga colocou o Brasil na frente na sequência. A penalidade derradeira foi cobrada pelo astro Roberto Baggio, que isolou a bola e soltou o grito preso há 24 anos na garganta brasileira.
PENSE O JOGO!
Como sempre foi feito e continua acontecendo atualmente, a Seleção Brasileira de 1994 passou por uma insana cobrança, sofreu críticas desproporcionais, e superou tudo isso para vencer. Não era um time ‘’sem graça’’ ou distante do DNA do futebol brasileiro. Pelo contrário, sempre tomava a iniciativa de atacar. Tinha padrão para criar, se defender, contra-atacar e recompor. Viveu uma era de espaços mais raros, adversários mais bem estruturados defensivamente e, por isso, a ilusão do Brasil sempre ter que dar espetáculo não foi saciada.
Conhecer a verdadeira história daquela Seleção é um necessário exercício de reflexão sobre a forma como lidamos com o jogo por aqui. Serve para os torcedores, a Imprensa e para os próprios atletas. Buscar no passado os porquês de comportamentos do presente e projetar um futuro mais saudável na relação ‘’opinião pública – Seleção Brasileira’’ se faz cada vez mais necessário.
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