Os caminhos para a consolidação de Diniz no São Paulo
Técnico de melhor aproveitamento na "Era Leco", Fernando Diniz tem corrigido erros e potencializado jogadores, em 2020, no São Paulo.
O estilo de jogo proposto por Fernando Diniz sempre dividiu opiniões. Desde o tão falado Audax até os trabalhos mais recentes, a ideia de trabalhar com a posse o maior tempo possível, e não medir a cautela para isso, foi dominante em suas equipes. A maior contestação sempre foi pela ausência de resultados práticos — algo que o São Paulo tem obtido, ainda que vagamente, em 2020.
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A efetivação do “Dinizismo” no Tricolor Paulista passou por turbulências. Há poucas semanas, o time perdeu para o Binacional, do Peru, em uma partida que foi o resumo do que a equipe tinha de pior até o momento: além de muitos gols perdidos, apresentou transições defensivas problemáticas e dificuldade para pressionar a bola ao ter sua área atacada. Nas últimas partidas, em especial o jogo contra o Santos, essas questões evoluíram, o que é um excelente indicativo para o treinador.
Ataque mais letal
Muitas das críticas ao trabalho de Diniz no São Paulo eram rebatidas com números que provavam que o time finalizava bastante, mas mal. Nesse caso, conota-se uma “culpa” dos jogadores de ataque, que não estavam com o pé na forma. A questão, por lógico, é muito mais complexa — bem como sua solução. A organização ofensiva do Tricolor tem se consolidado a cada jogo, e, com ela, o aproveitamento nas finalizações.
Na última série sem vitórias da equipe, contra Novorizontino, Santo André e Corinthians, a taxa de finalizações corretas não ultrapassou 40%. E, analisando cada arremate separadamente, somente seis deles foram chances claras de gol (dois convertidos), num universo de 64 finalizações. A perspectiva mudou, e as oportunidades no ataque têm sido mais evidentes. Só nos últimos três jogos com o time titular, são seis gols. Contra o Santos, por exemplo, foram 25 chutes, sendo 16 deles dentro da área e 12 a gol.
No jogo contra o Binacional, o São Paulo perdeu gols claros, principalmente com Pablo e Antony, quase comprovando aquela tese da deficiência na finalização. No entanto, o padrão de criação de oportunidades foi mantido nos últimos dois jogos, e, aí sim, a equipe se aproveitou disso para marcar e vencer. Em mais situações de ataque posicional, por conta da postura dos adversários, o time de Diniz apresentou mecanismos para quebrar as defesas.
Partindo de um 4-2-3-1, o Tricolor ataca com amplitude, seja com laterais ou extremos, e sempre busca povoar a área com algum dos meio-campistas em situações de cruzamento. Cinco jogadores se juntam à linha de ataque, mas sem posições pré-determinadas: se um lateral está mais por dentro, quem abre é o extremo, e vice-versa.
Tchê Tchê e Daniel Alves, lado a lado na volância, têm papeis diferentes. O primeiro se aproxima pouco do ataque, sustentando a defesa para transições defensivas e sendo a base para girar o jogo no ataque. Ainda assim, tem liberdade para lançar os atacantes nas costas da última linha de defesa.
Tema de texto aqui no site por conta de seu posicionamento, Dani Alves alterna entre a aproximação com os lados, para triangulações, e a ocupação da entrelinha, de onde cria chances para seus companheiros. Contra o Santos, foram dez passes para finalização, mais uma vez comprovando sua capacidade inventiva também por dentro.
Saída de 4?
Os dois meio-campistas destacados anteriormente também são protagonistas na saída de bola. Normalmente, Tchê Tchê se juntava à dupla de zagueiros para liberar os laterais e ajudar na saída de bola. No jogo diante do Santos, porém, Diniz foi além: agregou Dani Alves à primeira linha, deixando Bruno Alves e Arboleda abertos. Assim, o rival, que não costuma pressionar a saída de bola, se viu obrigado a aumentar o número de jogadores na primeira linha de marcação, o que sinalizou um controle do meio-campo por parte do Tricolor.
Ao iniciar a jogada dessa forma, é provável que o técnico do São Paulo tenha pensado nas costas dos seus laterais, que eram bastante resguardadas pelos zagueiros em amplitude, evitando qualquer prejuízo em caso de concessões durante a saída. Além disso, quando Dani Alves se desprendia da linha de quatro para receber em uma segunda altura, os laterais estavam ainda mais próximos do ataque, deixando o Tricolor em situações até de superioridade nos lados. Pode ter sido algo circunstancial, mas é bom ficar de olho nessa saída, no mínimo, curiosa.
Saldo positivo
Com o modelo de Diniz no São Paulo em processo de consolidação, algumas individualidades têm chamado a atenção. Pato, por exemplo, está com seu melhor rendimento em anos. Além de marcar gols (quatro nos últimos seis jogos), ele tem sido importante ao se desmarcar para receber bolas nas costas dos zagueiros, empurrando a linha de defesa para sua própria área. As movimentações por dentro de Vitor Bueno, que ganhou a vaga de Pablo na extrema esquerda, têm potencializado não só ele, como o lateral Reinaldo, de excelente chegada pelo corredor.
Nenhum deles, porém, parece ter ganhado tanta confiança do técnico quanto Igor Gomes. Mesmo com Dani Alves se aproximando para a construção das jogadas na entrelinha, é o jovem de 21 anos quem mais se movimenta pelo setor, tendo liberdade para ocupar o corredor entre o meio e o lado (ou o meio-espaço). O meia tem ditado o ritmo dos ataques do Tricolor, apresentando um ótimo senso de posicionamento tanto dentro da área quanto fora dela, além de demonstrar evolução técnica ao trabalhar em espaços curtos.
Com um elenco que apresenta ferramentas interessantes, entre jovens e experientes, Diniz tem demonstrado soluções para corrigir problemas do seu time. Consolidar um trabalho é uma das principais lacunas do técnico ao longo de sua carreira. No entanto, agora, o caminho para isso parece mais curto.
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