A DISPARIDADE DO ESTADUAL EM UM PENSAMENTO A LONGO PRAZO
Por Leo Gomide Falar sobre a excrescência do calendário do futebol brasileiro é discorrer sobre mais do mesmo. Afinal, sabemos que o acúmulo de datas e as competições encavaladas, consequentemente, são os principais entraves para que técnicos tenham menos tempo para o que é cada vez mais importante no futebol de alto nível: recuperação e […]
Por Leo Gomide
Falar sobre a excrescência do calendário do futebol brasileiro é discorrer sobre mais do mesmo. Afinal, sabemos que o acúmulo de datas e as competições encavaladas, consequentemente, são os principais entraves para que técnicos tenham menos tempo para o que é cada vez mais importante no futebol de alto nível: recuperação e treinamento.
No último final de semana tivemos o início dos campeonatos estaduais e retomada a discussão se tais certames deveriam ter continuidade.
Em sua estréia na temporada 2019 o Atlético goleou o Boa Esporte, de Varginha, por 5×0, no Independência, na abertura do Campeonato Mineiro. Após se reapresentar em 3 de janeiro, o time de Levir Culpi foi a campo após 17 dias. Subtraindo os momentos de testes ou trabalhos físicos durante a “pré-temporada”, nem mesmo 15 sessões de treinos táticos devem ter sido realizadas.
Otimizar o tempo e utilizar treinamentos como condicionantes de ações específicas do jogo. Exercícios e ambiente que se aproximem do cenário real de uma partida é cada dia mais necessário.
Mas, apesar da goleada, algumas observações precisam ser feitas: o Boa exigiu do Atlético desempenhar comportamentos que treinou na pré-temporada? Qual foi o grau de dificuldade individual e coletivo imposto pelo Boa aos jogadores do Atlético? O nível técnico do Estadual provoca a evolução necessária visando jogos mais difíceis que virão durante o ano?
Os números da partida praticamente nos trazem a resposta: o grau de dificuldade foi muito baixo.
Para explicitar tal ineficiência, com auxílio do Instat, que fornece as estatísticas dos jogos, é possível traçar um comparativo entre o duelo contra o Boa e a partida diante do Botafogo, o último compromisso do Atlético em 2018.
O jogo de futebol é composto pelas ações individuais e coletivas que jogadores executam em campo e decorrem em um contexto aleatório e imprevisível, ou seja, a frequência, a ordem cronológica e a complexidade das ações não são determinadas previamente. As ações são para solucionar problemas impostos pelo adversário. Porém, o Boa não foi um problema para o Atlético, que solucionou tais problemas de forma muito tranquila.
Sobre estas ações leia-se: passes (incluindo cruzamentos e bolas paradas), desafios, interceptações, rebotes, dribles, controles de bolas ruins, chutes (incluindo gols), chutes salvos, gols sofridos e desarmes.
Contra o Boa o Atlético realizou 903 ações totais durante o jogo e teve sucesso em 770, ou seja, 85,2% de acerto. Já diante Botafogo foram 728 ações totais, sendo 560 certas, um aproveitamento de 76,9%. Portanto, diante do Boa o Atlético realizou 175 ações totais a mais do que contra o Botafogo.
E a explicação para tal número ser bem superior está no comportamento do adversário, nos problemas que o Botafogo causou ao Atlético, ao contrário do rival na estreia do Mineiro. O time carioca ao enfrentar a equipe de Levir somou 767 ações totais na partida, mais do que o próprio Atlético, com sucesso em 596 (77,75%). Já o Boa teve 575 ações totais, foram 425 corretas e sucesso de 73,9%.
Contra o time de Varginha, oito jogadores do Atlético tiveram 90% ou mais de aproveitamento no fundamento passe (Fábio Santos, Rabello, Réver, Patric, Zé Welison, Elias, Adilson e Jair). Já diante do Botafogo apenas dois superaram esta marca (Adilson e Ricardo Oliveira). Dados que evidenciam a fragilidade na marcação do Boa, refletida no baixo número de ações defensivas da equipe na partida (interceptações, desarmes, bloqueios ou até mesmo fechar linhas de passe quando a posse era do Atlético)
Tal ineficiência fica evidente ao observamos os números do Boa ao tentar proteger sua área. Dividimos a grande área em três zonas: as laterais como zonas de assistências e a parte central como zona de ouro (ou região do funil), como na figura 1. No último domingo o Atlético efetuou 31 passes para dentro da grande área do BOA, com assertividade de 55%. Contra o Botafogo foram 24, sendo 50% certos. Se contra o Boa o Atlético teve 71% de aproveitamento nas finalizações na zona de ouro ou bem próximo a ela, diante do Botafogo o número foi de 30%. (figuras 2 e 3).
Ciente dos componentes físico, técnico, tático e emocional que compõem o jogo, a goleada na 1ª rodada do Estadual certamente serviu para o Atlético como uma dose de motivação para a recém iniciada temporada, mas um cenário que diante dos próximos adversários no Estadual possa se repetir, especialmente na Copa Libertadores, será improvável de ser encontrado.
Comente!