A disparidade entre Atlético de Madrid e Barcelona
Em campo o Atleti dominou e mostrou que está firme na busca pelo bicampeonato. Enquanto isso, o Barcelona encara mais uma derrota em um jogo que competir em alto nível é fundamental.
Após vencer o grande jogo contra o Barcelona, o Atleti se mantém firme na briga pelo título da La Liga. O jogo foi marcado pela disparidade entre as duas equipes, as diferenças de pressão, transição defensiva e como o time da capital se manteve confortável no seu campo de defesa.
As escalações
O Atleti chegou com a formação padrão envolvendo três zagueiros e com Marcos Llorente como ala no lugar de Trippier. De cara é compreensível essa mexida, primeiro para acomodar Rodrigo de Paul e Lemar no meio e abrir o campo com Llorente pelo lado direito que é aonde o espanhol tem o costume de atuar, mas com maior responsabilidade defensiva desta vez. Koke atrás dos dois meias e sem a bola de Paul recua para fazer a cobertura pelo lado direito. Lemar e João Félix caem pelo lado esquerdo como sempre.
No Barcelona temos algumas novidades. Sem Pedri e com Ansu Fati recuperando o ritmo aos poucos, era imaginável que Koeman colocaria Gavi ou Nicolás González na equipe titular: colocou os dois, como foi contra o Levante. Gavi como um ponta mais avançado, Frenkie de Jong na direita e Coutinho como um ‘10’ caindo pelo lado esquerdo. Sem Luuk de Jong, Depay ficou mais centralizado no ataque, e na linha de defesa Dest fez a lateral-esquerda.
Ideias inicias e o decorrer do primeiro tempo
Nos primeiros 15 minutos o Atleti avança no campo com uma marcação em bloco alto, dificultando a saída e pressionando Busquets – principal responsável desde a base. Nesse princípio, João Félix volta para ajudar a marcação e se movimenta bastante pelo lado esquerdo, incomodando Mingueza nos avanços.
Os jogadores do meio (menos Busquets) e os atacantes pelos lados (nesse caso Gavi e Frenkie que não são da posição) se movimentam bastante para tentar dificultar a marcação do Atleti. Nessa formação Gavi e Coutinho permanecem como foco no lado esquerdo – Barcelona cai por lá quase sempre – enquanto Nicolas dá o suporte para Busquets mais alinhado. Com a bola, Gavi recua um pouco mais para receber o passe, na ideia principal de emular o que Pedri faz quando está em campo.
A intenção de ter Frenkie mais solto é interessante de primeiro momento, mas acabou que ele ficou muito isolado pelo lado direito o tempo todo. As infiltrações na grande área não aconteceram, poucas ações tornaram esse avanço difícil – apenas 15 toques na bola e 10 passes do holandês nos 45 minutos iniciais. O Atleti buscou atacar esse espaço no lado direito a todo momento e de cara o time perdia um jogador na saída (Frenkie) já que Busquets ficou sobrecarregado.
A disparidade competitiva foi nítida o tempo todo, principalmente se tratando do físico e tática dos dois lados. Entendendo a movimentação do Barcelona – que até primeiro momento estava atuando para conseguir progredir no campo de ataque, o Atleti recua para o bloco médio de acordo com os avanços dos blaugranas. E aí tudo começa a acontecer de fato.
O 2-0
Em movimentação absurda saindo da esquerda para o meio, o português João Félix arrastou Mingueza para o centro e assim deixou espaço de sobra para Lemar avançar. O lance progride em um toque do português para Suárez que, nas costas de Busquets, deu a assistência para o francês.
Em seguida a mesma jogada é feita. Dessa vez com Suárez atacando o espaço deixado novamente por Mingueza, e Araújo fica em uma posição difícil mais uma vez, mas Suárez finaliza mal.
No segundo gol temos o melhor exemplo do que é um time de Simeone. Contra-ataque que já estava cantado desde o começo do jogo, muito pelo treinador buscar o erro do Barcelona a todo momento. Após recuperação de Koke no campo de defesa e um passe de João Félix – limpando quatro jogadores mal posicionados na transição defensiva – para Lemar sair sozinho restando um zagueiro contra dois jogadores. O francês consegue o passe perfeito para Suárez que marca seu primeiro gol contra seu ex-clube.
Os últimos 45 minutos
Koeman volta com Sergi Roberto no lugar de Nico e o coloca alinhado com Busquets. Retomar ao esquema que fez o time competir minimamente na última temporada era o ideal, Sergi como ala e Mingueza como um central pelo lado direito, e até poderia se encaixar nessa ideia, puxando Busquets para o volante centralizado e Gavi com Frenkie a frente. Mas o principal objetivo de Koeman no segundo tempo é não oferecer espaços e segurar o avanço do Atleti pelo lado direito.
Coutinho é uma incógnita até ali, cai pelo lado esquerdo, mas não tem uma posição definida, é quase como uma nuvem flutuando pelo campo, enquanto não consegue alcançar grandes ações com seus companheiros. Num erro de Hermoso, o Barcelona até conseguiu criar a única grande chance da partida, mas o brasileiro desperdiça numa finalização fraca em cima de Oblak.
A entrada de Trippier no lugar de Rodrigo de Paul é bem explicada pensando nesse pouco incômodo de Coutinho pelo lado direito da defesa do Atleti. Llorente permanece por ali, porém agora com menos responsabilidade na primeira linha defensiva e com mais liberdade avançado – se destacou assim. Pensando no objetivo dos colchoneros no jogo a substituição é perfeita. O controle sem a bola é fácil já que o Barcelona não incomoda, e com a bola o time precisa de velocidade. E a característica de Marcos Llorente é fundamental neste conceito, são ataques rápidos que o Atleti busca, o contra-ataque para matar de vez o jogo.
A pouca produção ofensiva blaugrana pede Ansu Fati, e ele entra. Alinhado com Memphis oferece uma profundidade que o Barcelona não teve em nenhum momento do jogo. A partir daí o time consegue se manter por mais tempo no último terço. Gavi e Frenkie trocam de lado de vez e Ansu busca o jogo na entrelinha, sofrendo faltas e avançando para finalizar.
Novamente pensando no cansaço, Simeone renova o ataque com Griezmann e Angel Correa nos lugares de Suárez e João Félix. Apesar da troca pelos atacantes, Correa fecha a linha no meio, para ajudar Marcos Llorente enquanto Trippier recua um pouco mais na linha dos zagueiros – os três centrais continuam, mas Carrasco (substituído por Lodi no final) e Trippier não sobem com tanta frequência mais.
As alterações de Simeone são pontuais, expondo a desorganização ofensiva do Barcelona que mesmo com quase 70% de posse não consegue criar chances de fato. Até melhora com Fati em campo, Memphis consegue buscar o jogo, mas nada que assuste o Atleti.
Como dito, a disparidade é gigantesca, o placar de 2 a 0 não é nem de perto uma ilustração do que foi o jogo em si. Um domínio claro e absoluto do Atleti, e mais uma vez demonstração de fraqueza do Barcelona em um jogo de alto nível.
Reflexões, mudanças e perspectivas na temporada
Os problemas do Barcelona vão além de Ronald Koeman, isso nem deveria ser discutido. O técnico fez o que tinha que fazer na última temporada e foi bem naquilo que o time precisava de primeiro momento – alta minutagem e evolução dos jovens. Por outro lado, tudo indica que a equipe não vá a lugar nenhum mais. A demissão do holandês mudaria muita coisa em campo ou seria apenas uma forma de abafar as críticas da torcida?
Já o Atleti segue firma na busca pelo título. O clube evoluiu de maneira espetacular na última década com Simeone e vem buscando grandes coisas. Mesmo com um começo abaixo na temporada, o elenco conta com peças interessantíssimas em todos os setores do campo. Cholo está cada vez mais convicto das suas ideias e a tendência é que o desempenho cresça conforme a temporada se desenrola. O sonho do bicampeonato espanhol pode se tornar realidade, tudo depende da briga com o Real Madrid, já que o Barcelona parece fora de disputa, mas tudo indica que será mais uma vez um grande campeonato da equipe colchonera.
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