A hora da base no Bairro Obrero
A retomada da temporada no Paraguai se aproxima e o Cerro Porteño busca a integração do jogadores mais jovens para mudar os rumos de um ano que não teve o melhor dos inícios
Se há um campeonato próximo de seu retorno na América do Sul, este é o Campeonato Paraguaio. Com a pandemia de coronavírus sob aparente controle no país vizinho, os torcedores já contam os dias até chegar 17 de julho, data em que o certame está programado para ter bola rolando conforme a Associação Paraguaia de Futebol.
Paralisado na 8ª rodada, o Torneio Apertura via uma briga forte entre Libertad e Olimpia na busca pelo topo da tabela. Mas se dois dos principais campeões do Paraguai vinham se destacando, outro ainda lutava para encontrar estabilidade diante de um novo trabalho na casamata.
Oscilando demais nas primeiras partidas sob o comando de Francisco Arce, o Cerro Porteño busca uma saída para elevar seu rendimento nesta retomada. A irregularidade no cenário doméstico e a dura eliminação para o Barcelona de Guayaquil ainda nas fases preliminares da Libertadores, com direito a uma goleada sofrida dentro de casa por 4 a 0 no jogo de volta, fizeram soar o sinal de alerta. E para reverter tal quadro, a aposta nos pratas da casa parece ter ganhado força durante essa parada.
Na preparação para a sequência da temporada, atletas de categorias inferiores entraram no radar da comissão técnica de Chiqui. Agora próximos do elenco principal, tentam provar a sua capacidade e aguardam uma chance para abocanhar uma vaga na equipe titular. Foram 13 jogadores chamados para as atividades: José Miers e Antonio González (goleiros); Enzo Benítez (zagueiro); Ignacio Paniagua e Daniel Rivas (laterais); Rodrigo Delvalle, Marcelino Ñamandú, Julio Báez e Damián Bobadilla (meias); Junior Noguera e Alexis Rojas (extremos); e Fernando Ovelar e Héctor Bobadilla (atacante). Alguns deles, com potencial para oferecer impacto positivo já nos próximos compromissos.
Dentre todos, o que mais gera expectativas é Marcelino Ñamandú. Por pouco, o meia de 20 anos de idade não deixou o clube ainda no começo do ano. Buscando oportunidade de somar minutos, esteve perto do Lanús, mas acabou permanecendo em Assunção. Agora, deve enfim ser opção.
A gama de alternativas que pode oferecer taticamente é, sem dúvidas, a sua principal carta para ser levado em conta. Tanto nas seleções sub-17 e sub-20 do Paraguai quanto no Cerro Porteño, já rodou por praticamente todas as posições e funções do meio-campo. Na mesma medida em que exibe um perfil construtor posicionado na base das jogadas, retendo a posse, buscando a associação curta e distribuindo o jogo, mostra um lado incisivo e agressivo a partir de suas conduções quando atua aberto.
Desta forma, Ñamandú pode se apresentar como uma peça-chave no sistema de Francisco Arce, em suas variações entre o 4-1-4-1 e o 4-4-2. Seus aspectos defensivos também não podem ser subestimados, se provando efetivos na pressão em campo adversário e nas recuperações de posse já no setor ofensivo. Vale ainda destacar a sua bola parada, arma com a qual ameaça os rivais através das cobranças diretas de falta.
Outro jogador que tem tudo para pintar mais vezes com a camisa do time do Bairro Obrero em 2020 é Fernando Ovelar. Lá em 2018, ele tomou conta das manchetes por um feito pouco comum: aos 14 anos e 302 dias, em seu segundo jogo como profissional, marcou seu primeiro gol. E o tento não aconteceu em uma partida qualquer. Ele veio em um clássico contra o Olimpia, abrindo o placar no empate em 2 a 2.
Claro que por sua idade, as idas e vindas entre as equipes de base e o elenco principal do Cerro Porteño foram constantes. Agora com 16 anos, tentará se estabelecer de uma vez por todas no nível mais alto. Para isso, precisará demonstrar a mesma personalidade que colocou na ponta da chuteira há dois anos, o que não parece ser problema para ele. Sempre que foi utilizado, se mostrou bastante participativo e deu trabalho aos defensores.
A velocidade que possui pode ser o encaixe perfeito para uma equipe que exige a verticalidade dos atacantes e que costuma explorar os passes nas costas das defesas, além de contribuir para uma pressão mais efetiva na saída de bola. Sua capacidade de mudar rapidamente de direção com a posse e de drible são outros fatores que oferecem possibilidades ao ataque, afinal, acaba chamando a marcação e deixando espaço para seus companheiros através da sua capacidade individual.
Héctor Bobadilla, por sua vez, tem em seu favor o cartaz de ser a perspectiva de renovação em um setor com média de idade alta, que não consegue entregar a regularidade que outrora possuía e que sofreu com perdas. Jorge Benítez rumou para o Monterrey, enquanto Nelson Haedo Valdez e José Ortigoza já passaram a casa dos 30 anos e acrescentam pouco em campo. A alternativa minimamente confiável para o centro do ataque vem sendo Diego Churín, que mesmo assim não consegue repetir as atuações das últimas temporadas.
O terreno para o centroavante de 19 anos se provar está aberto. Extremamente agressivo, demonstra muita intensidade nas disputas de bola por baixo e pelo alto, mesmo não tendo uma estatura que o favoreça para isso contra zagueiros de maior altura. A frieza na finalização e o seu posicionamento dentro da área, como deixou à mostra de todos na Libertadores Sub-20 que participou no começo da temporada, são ferramentas que podem fazer a diferença na briga por uma vaga no elenco.
Exemplos positivos para que sigam e nutram a esperança de se tornarem peças importantes para o Cerro Porteño não faltam. Nos últimos anos, jogadores como Santiago Arzamendía, Mathías Villasanti e Josué Colmán conseguiram se estabelecer e hoje desempenham papéis praticamente indispensáveis ao funcionamento coletivo do Ciclón. Se renderem bem, tudo ficará nas mãos de Arce. Caberá a ele buscar o melhor equilíbrio para abrigá-los e dar novo oxigênio às pretensões azulgranas em 2020.
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