A influência da torcida no futebol brasileiro
Mesmo sem torcida, mandantes seguem vencendo mais no Campeonato Brasileiro. Conversamos com o psicólogo esportivo Maurício Pinto Marques, que explica a mudança de mentalidade dos jogadores neste período
Das equipes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro de 2020 e que estiveram presentes na edição passada da competição, catorze venceram em seus estádios nas cinco primeiras rodadas do Brasileirão de 2019, enquanto nove visitantes conseguiram triunfar longe de seus domínios no mesmo período. Durante a pandemia do novo coronavírus, sem as torcidas inflamando seus clubes, se esperava uma mudança nos resultados. No entanto, no Brasil, os desempenhos nas cinco primeiras rodadas são semelhantes, ao contrário do que se viu no retorno da Bundesliga, quando os visitantes conseguiram quase 50% de vitórias fora de casa.
Apesar do adiamento de algumas partidas da Série A do Campeonato Brasileiro de 2020, em decorrência das finais dos campeonatos estaduais ou de casos de Covid-19 em atletas, o panorama é similar ao da última edição.
No total das cinco primeiras rodadas, em 2019, em 29 partidas houve vitória dos mandantes, enquanto os visitantes conseguiram êxito contra os donos da casa em 11 oportunidades. Quatro equipes não conseguiram sequer uma vitória nas cinco rodadas iniciais: Avaí, CSA, Grêmio e Vasco empataram e perderam em seus estádios ou nos dos seus adversários. O tricolor gaúcho terminou a competição em 4º lugar e o Vasco na 12ª posição; Avaí e CSA foram rebaixados para a segunda divisão.
Já em 2020, o encerramento da quinta rodada apresenta 22 partidas em que os mandantes obtiveram sucesso em seus domínios e 11 vitórias de quem visitou os adversários para disputar as partidas. Oposto ao que foi visto na última temporada, Vasco da Gama e Grêmio estão invictos neste início do Brasileirão, seja como mandantes ou visitantes. Além do Gigante da Colina e do Tricolor Gaúcho, o Botafogo e o Palmeiras são as outras equipes que mantêm invencibilidade nesta arrancada.
Fazendo a comparação direta entre as cinco primeiras rodadas das duas edições, o Brasileirão de 2019 teve média de 58% de vitórias dos mandantes e 22% de vitória dos visitantes, enquanto a atual edição tem índice de 47,83% de sucesso dos mandantes e 23,91% de êxito de quem jogou fora de casa.
Existe, de fato, diferença em jogar dentro ou fora de casa? Buscamos o Dr. Maurício Pinto Marques, psicólogo esportivo, para entender quais aspectos interferem na mentalidade dos jogadores quando jogam em seus estádios, longe deles e sem a presença da torcida nas arquibancadas.
Maurício explica que, em “tempos normais”, a diferença de jogar em casa ou como visitante é enorme. Há muito apoio e pouca pressão contra – excluindo casos em que a equipe mandante passa por momentos ruins e a torcida “joga contra”. Em casa, por exemplo, a equipe conhece o campo, a grama, a velocidade da bola e tem pontos de referência no gramado. A torcida, em geral, é uma segurança psicológica para os atletas, afirma Maurício.
A rotina é um ponto importante para o bom rendimento em casa, pois o atleta, além de estar jogando no campo que conhece, está vivendo o dia a dia na própria cidade e tem poucas mudanças na sua rotina, ao contrário do jogador deve viajar.
A preparação para os visitantes também muda. Quando há torcida presente no estádio, são três os principais momentos em que o público “infla”: no pré-jogo, no início da partida e quando há gols, seja a favor ou contra. Uma das formas de diminuir o impacto, quando a torcida se faz presente no estádio, é não ceder às primeiras pressões, fazer com que a torcida mandante “murche”. Sem a existência da torcida, não existem manifestações de apoio e nem contra. Maurício cita o exemplo de casos como as partidas de Grêmio 0x0 Corinthians (3ª rodada) e Flamengo 1×1 Grêmio (4ª rodada) que, segundo o especialista, “com torcidas, poderiam ter sido dois jogos completamente diferentes em vários aspectos”.
Enquanto muitos pensavam ser primordial o apoio da torcida para o bom rendimento das equipes, a pandemia mostra que, apesar das adversidades encontradas por clubes e jogadores, o desempenho e os resultados dentro de campo não sofrem tanta influência externa.
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