A inventividade que difere Jean Pyerre dos demais
Joia de 22 anos realizou dez jogos em 2020, boa parte deles no mais alto nível. O que faz dele tão especial?
Os talentos revelados pela base do Grêmio tendem a ser inseridos na equipe titular aos poucos pelo técnico Renato Portaluppi. A ideia, claro, é não pôr o jovem na fogueira e, eventualmente, acabar queimando-o. Everton, por exemplo, estreou em 2014 — e virou titular em meados de 2017, quando Pedro Rocha foi vendido. Com Jean Pyerre, a história não foi diferente.
Desde a sua primeira partida pelo profissional, em 2017, o meia tricolor passou por altos e baixos até se firmar como titular. Aos 22 anos, ele já é a referência técnica no meio-campo da equipe, mesmo tendo perdido a pré-temporada em decorrência de uma lesão contraída ainda em setembro de 2019.
O que faz o camisa 21, inclusive em meio a críticas do próprio técnico da equipe, ser diferente da maioria dos meias no Brasil?
Busca pelo protagonismo
Jean Pyerre é o tipo de meia que procura ao máximo estar próximo do centro de jogo. No Grêmio, ter alguém com essa característica é chave: a equipe atua há um bom tempo de maneira apoiada, necessitando de aproximações entre os jogadores para que a equipe progrida ao ataque com rápidas trocas de passe.
A inteligência para se movimentar torna-o um protagonista em diferentes cenários. Em contra-ataques, Jean, que não é um jogador veloz, dá a linha de passe para colaborar com o andamento da jogada com toques curtos ou longos. Quando o time está postado no campo rival, ele circula em frente aos zagueiros, às vezes mais recuado que os volantes, operando em poucos toques e buscando passes de ruptura ou diagonais longas.
A capacidade técnica de reter a bola em curtos espaços surgiu da necessidade de ser veloz em suas ações, compensando a falta de rapidez em arrancadas com a posse. Assim, Jean Pyerre é útil à equipe em diferentes alturas do meio-campo, pressionado ou não, de frente ou não. E faz isso tudo demonstrando sua personalidade, sem medo de errar.
O seu trabalho distante da área, ressaltado no relatório do Footure Pro, em que Jean é dado como capaz de substituir Gerson no Flamengo, permite a Renato que substitua algum dos volantes por um homem mais de frente, recuando o camisa 21 de modo definitivo, caso necessite buscar o ataque a qualquer custo. Maicon, um desses meio-campistas mais recuados, chegou a comentar que acredita no futuro do jovem gremista como um volante.
Se a bola está próxima da área adversária, lá também estará Jean Pyerre, que, além de ter um bom arremate de fora, apresenta capacidade de posicionar o corpo de modo que permita tabelas rápidas com ele. Caso não participe ativamente, se movimentará para criar vantagens aos companheiros, como no gol contra o Flamengo, em que fixou Rodrigo Caio e abriu espaço para a ótima infiltração de Pepê na área.
Acima da média
Graças a sua inventividade com a bola, lidera o Campeonato Brasileiro em passes chaves (ou passes para finalização), com uma média de 3,7 por jogo. Sua participação na construção, não somente na finalização das jogadas, aparece em sua alta porcentagem de passes certos, 91%, e de bolas longas corretas, exatamente três por jogo.
Em comparação aos outros que aparecem no topo do ranking de passes chaves no Brasileirão 2020, somente Dani Alves tem uma porcentagem de acerto de passes similar à do meia gremista (quase 91%), contra os 85% de Claudinho, os 75% de Hyoran e os 77% de Arrascaeta. Diferentemente dos últimos dois, Dani e Jean não estão relacionados apenas ao terço final, tendo liberdade para flutuar próximo à primeira linha (ou até frequentá-la, como o camisa 10 são-paulino faz).
O protagonismo não vai até o meia. É ele quem o procura, aparecendo em diferentes estágios do ataque e entregando soluções diversas ao time. E é isso que o difere dos outros jovens meio-campistas no Brasil: a capacidade criativa aliada à busca por estar sempre presente nas ações ofensivas da equipe.
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