A vantagem colchonera

No segundo ano da sua mais recente reformulação, o Atlético de Madrid alcança um ponto de maturação importante na luta pelo título da LaLiga em 2020/21.

A temporada passada representou o início de um novo ciclo dentro da Era Simeone no Atlético de Madrid. Vários jogadores saíram, vários jogadores chegaram. E muitos dos reforços, dos tantos que a equipe contratou durante a janela de verão de 2019, poderiam divergir com o “cholismo” em um primeiro olhar – sendo o caso dos laterais o mais representativo deles. O objetivo passava, sobretudo, pela melhora do Atleti com a bola. Afinal de contas, desde o histórico título nacional em 2013/14, a equipe colchonera sempre buscou a evolução ofensiva dentro do seu sistema. Tanto que diversas contratações foram direcionadas para jogadores de ataque.

Muitos jogadores, apesar de bons nomes, passaram pelo clube e acabaram não se adaptando dentro de um sistema reconhecidamente rígido. São os casos de Jackson Martínez, Mario Mandzukic, Nico Gaitán, Luciano Vietto, Álvaro Morata, Gelson Martins e Thomas Lemar – o último ainda segue no Atlético.

Porém, como dito anteriormente, estamos diante de um novo ciclo rojiblanco. E esta nova etapa já está em seu segundo ano, sendo essa uma vantagem importante do Atlético de Madrid no bom início de temporada em LaLiga na comparação com seus principais adversários, os gigantes Real Madrid e Barcelona.

Sem entrar em tantos detalhes, o caso é que o Real de Zidane segue muito irregular e pouco confiável semanalmente. É uma equipe dependente de tiros curtos – ou do ‘‘mini campeonato’’ como foi na volta da pausa por causa do coronavírus – para alcançar o máximo de competitividade nas partidas. Além disso, o time de Chamartín continua atormentado pela saída de Cristiano Ronaldo (que escondia muito os problemas coletivos da equipe) e ainda sofre pela falta de um companheiro à altura de Karim Benzema. 

Já o Barcelona de Koeman, além de estar cercado pelo conturbado ambiente político vivido pelo clube, é um conjunto claramente mal montado pela direção blaugrana e que apresenta aromas de estar próximo do seu novo ciclo. Recheado de jovens, o Barça busca peças individuais que possam ser determinantes no mais alto nível ao lado de Lionel Messi. 

O bom momento colchonero, no entanto, não é fruto apenas do “Ano II” do novo Atleti. Ele passa, sobretudo, pelas intervenções táticas realizadas por Diego Pablo Simeone, especialmente no aspecto ofensivo.

Um Atlético goleador

Por média até aqui, este é o Atlético que mais anotou gols desde que Cholo assumiu o comando técnico da equipe. O time do Wanda Metropolitano possui o segundo melhor ataque da LaLiga, com 19 anotações, atrás apenas da atual líder Real Sociedad (22). Além disso, dois de seus jogadores (João Félix e Luis Suárez) estão presentes entre os cinco que mais marcaram gols no Campeonato Espanhol até então.

“Ao lado do Barcelona, o Atlético de Madrid possui a maior média de gols marcados (2.1) da LaLiga em 2020/21.”

Os bons números apenas são resultados do grande trabalho realizado por Diego Simeone, que recentemente tem utilizado um interessante desenho com três zagueiros com a bola (varia entre linha de 4 ou de 5 na defesa) e tem apresentado muito conteúdo tático ao seu time. Em 5-3-2 / 3-2-4-1 (que vira 3-1-5-1), o Atlético possui uma estrutura ofensiva que está sendo responsável pelas boas atuações da equipe. Nela, os alas dão amplitude; Koke fica à frente dos zagueiros; Saul se desprende da zona inicial e se projeta; João Félix e Marcos Llorente ficam posicionados entre linhas; o atacante oferece profundidade e movimentos de ruptura. 

O Atlético de Madrid em 3-2-4-1 contra o Cádiz.

O sistema melhora a circulação ofensiva do Atleti, possibilita que o time ataque por diversas direções, exerce influência também no trabalho de pressão pós-perda – considerando que a equipe agora perde melhor a bola – e neutraliza as transições adversárias. 

“O Atlético de Madrid sofreu apenas dois gols em nove jogos nos nove jogos realizados em LaLiga. É a melhor defesa da competição.”

A criatividade do treinador argentino parte da saída do seu melhor passador, o ganês Thomas Partey, que se transferiu para o Arsenal no início da temporada. A adaptação tática impacta diretamente no posicionamento recente de Koke – atuando próximo da base -, para entregar o que Cholo busca em um meio-campista em fase ofensiva: boa relação com a bola em saída à frente dos zagueiros, bons lançamentos para ativar os laterais nas inversões de jogadas, além da capacidade de leitura para romper com o passe e encontrar companheiros entre linhas.

O trio final foi bastante beneficiado pelo atual sistema, tanto que eles são os jogadores com os melhores números da equipe na temporada. João Félix e Marcos Llorente oferecem coisas distintas ao jogo colchonero. Llorente é um jogador que, a partir de recepções por dentro, possui capacidade de acelerar em conduções e ameaçar com desmarques no espaço entre o zagueiro e o lateral adversário – sendo este movimento de ruptura um recurso de profundidade importantíssimo ao Atlético pela facilidade que ele tem em ganhar a linha de fundo.

Marcos Llorente buscando o desmarque de ruptura no espaço entre zagueiro-lateral adversário.

Já o português João Félix representa o plus criativo nos metros finais. Ele, além de receber nas costas dos meio-campistas rivais e marcar gols na área, possui a pausa em momentos necessários e uma relação importante com o centroavante na hora de procurar combinações por dentro e dar assistências – lançando nas costas da defesa. Outro ponto considerável tem sido a formação de triângulos exteriores pela esquerda com Mario Hermoso e Yannick Ferreira Carrasco, formando uma “sociedade” interessante no setor em ataque posicional.

Números do “trio de ataque” rojiblanco em LaLiga:

João Félix: 9 jogos: 5 gols e 3 assistências
Luis Suárez: 6 jogos: 5 gols e 1 assistência
Marcos Llorente: 9 jogos: 3 gols e 2 assistência 

Por fim, a chegada de Luisito Suárez finalmente completou um sistema que necessitava tanto de um atacante que pudesse oferecer garantias na hora de transformar as chances criadas em gols. Sua função basicamente tem sido essa, além de fixar zagueiros e ser uma opção de profundidade para os comandados de Cholo Simeone. O encaixe foi perfeito justamente pela carência do ATM por um goleador ao mesmo tempo que a equipe oferece um contexto tático favorável – repleto de compensações defensivas – ao ex-jogador do Barcelona.

Não sabemos se o Atlético de Madrid será o campeão ao final da temporada, mas o início de temporada é animador por tudo que foi apresentado até agora. Na próxima semana, os rojiblancos enfrentarão o Real Madrid no Alfredo di Stéfano, jogo chave e que servirá como grande parâmetro do teto que este time pode alcançar em 2020/21.

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