A versatilidade das opções ofensivas do Brasil na Copa do Mundo
O Brasil estreia na Copa como um dos favoritos ao título, com uma capacidade ofensiva há tempos não vista.
Favorito ao sexto título de Copa do Mundo, o Brasil chega ao Catar contando com um poder fogo que não se via na seleção canarinha há algum tempo. Uma prova disso fica na convocação (que nessa Copa em específico foi de 26 atletas), onde Tite aproveitou para aumentar seu leque de opções no ataque, levando nove atacantes. O número a primeira vista impressiona, mas ajuda a dar uma amostra da forma que o Brasil joga e serve para refletir sobre alguns pontos.
Ao se avaliar os escolhidos para representar o Brasil, pode-se reparar de início na diferença de estilos entre os atletas. Tendo jogadores disponíveis para diversas situações de jogo, além de vários poderem atuar em mais de uma função. Deixando Tite com opções de sobre para poder testar várias alternativas para momentos chave dos duelos – e que o próprio treinador tem testado nos últimos dias. Indo direto ao ponto, essa versatilidade no ataque pode ser definida em três óticas: Características individuais, multifuncionalidade e formas do Brasil atacar.
CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS
Começando pelos centroavantes, Tite convocou três: Pedro, Richarlison e Gabriel Jesus. Iniciando pelo atleta do Flamengo, nota-se em Pedro um estilo mais aproximado do “camisa 9 clássico”. Tendo um bom jogo de costas para os defensores, protegendo bem a bola. O jogador tem boa técnica e ajuda o jogo a fluir. Para além disso, possui boa mobilidade (mesmo tendo perdido explosão e arranque após a lesão no joelho), conseguindo participar do jogo em áreas mais afastadas do campo.
Gabriel Jesus se destaca principalmente pela sua qualidade em movimentação e criação. O atacante do Arsenal consegue ser influente em várias áreas do campo, principalmente em pequenos espaços se livrando da marcação com extrema habilidade. Seja partindo em diagonal para entrar na área ou já próximo ao gol para ficar em condições de finalizar. Para além disso, usa muito bem o corpo para fazer giros e atacar o espaço. Enquanto Richarlison, que aparentemente larga na frente pela titularidade, tem seu jogo mais voltado em sua força e explosão. O atacante do Tottenham consegue usar bem suas valências físicas para levar vantagem sobre os defensores. Seja em situações de embates mais físicos, ou quando precisa se desmarcar e ganhar dos rivais em situação de mais velocidade – principalmente em curta distância.
Dentre os pontas, os canhotos Raphinha e Antony tem certas semelhanças. A boa capacidade no 1×1, a facilidade em receberem a bola bem abertos. Mas uma diferença entre eles é clara: o jogador do Barcelona ataca mais o espaço e tem uma agressividade maior buscando o gol. Já Antony é mais refinado tecnicamente, tendo um ótimo controle de bola e sendo um ótimo assistente – só na última edição da Champions League, distribuiu 4 passes para gol. Novidade na lista dos 26, Martinelli é um extrema esquerda com uma capacidade muito boa em aproveitar o espaço. O atacante do Arsenal busca sempre o ponto cego dos adversários e tem uma boa importância na construção da equipe. Conseguindo ter grande relevância mesmo em cenários que não seja o jogador mais acionado na fase ofensiva das equipes.
Um dos 8 melhores do mundo na temporada passada, Vinicius Junior está cada vez mais completo. Além do seu poderoso 1×1 – tem a segunda maior média por 90 minutos nas 5 grandes ligas com 9,88- , o jogador do Real Madrid tem uma enorme facilidade para explorar a linha de defesa rival, somado a sua melhora nas finalizações, tornando-o extremamente letal. E nessa temporada Vinicius tem melhorado sua capacidade como criador de jogadas. Neymar e Rodrygo entram como atacantes de enorme poder criativo. Podendo jogar no meio inclusive (será abordado mais na frente). Conseguindo acionar bem seus companheiros em situações favoráveis de gols. Porém, ambos também são letais concluindo a gol. Sendo peças chaves passando ou finalizando.
MULTIFUNCIONALIDADE
Entrando agora nas diversas funções que alguns jogadores podem executar em campo, se faz necessário adicionar um atleta na equação: Lucas Paquetá. Agora no West Ham, o meia consegue desempenhar qualquer função do meio para a frente. Na própria seleção chegou a atuar como segundo volante, meia central e aberto pela esquerda. Essa polivalência de Paquetá é uma das maiores chaves para as mudanças que Tite poderá realizar durante os jogos.
Porém, dois jogadores merecem um destaque maior nesse tópico: Neymar e Rodrygo. Ambos jogadores são pontas de origem, mas tem se desenvolvido — Neymar desde 2019 e Rodrygo nos últimos meses — para atuarem pelo meio. Dando possibilidade para algumas configurações, inclusive testadas por Tite. Principalmente com Neymar atuando como meio campista. O que abre espaço para em alguma oportunidade, a dupla talvez atuar junta. Inclusive vale o destaque para as principais chances criadas por Rodrygo terem sido justamente pelo meio.
Os centroavantes Gabriel Jesus e Richarlison podem – e já atuaram assim pela seleção – como pontas em algumas situações. No caso de Richarlison, seria uma opção interessante para confrontos que necessitem de maior fisicalidade. Ganhando duelos pela força, além do trabalho defensivo. E a dupla também tem naturalidade para atuar também como segundos atacantes. Richarlison inclusive tem vivenciado isso a nível de clubes, como pode ser reparado por seu mapa de calor.
FORMAS DO BRASIL ATACAR
Os últimos anos da seleção foram de mudanças e implementação de características que posteriormente definiram o que os comandados de Tite são atualmente. Podemos ver uma seleção com mais mobilidade, transições ofensivas ainda mais rápidas e um vasto repertório em qualquer faixa do campo.
Pelos lados, jogadores que possuem facilidade na utilização de ambos os pés, com trocas de direções rápidas e muita assertividade para buscar o gol. Atitude e mentalidade vencedora para que, mesmo com a média de idade baixa, suportem o peso de representar a seleção mais vitoriosa de todas.
Já na referência, esta versatilidade também é vista com jogadores de diferentes perfis e que se encaixam no contexto coletivo. Bons no jogo de costas para o gol, na retenção da bola e na dinâmica para abrir espaços com leituras inteligentes.
Em resumo, o Brasil tem em quantidade e variações, um ataque como não se via há muito tempo. Com vários destaques em seus clubes e ligas, além da maturidade adquirida por eles. Tite tem a oportunidade de variar a fase ofensiva de diversas formas, sempre dependendo do contexto estabelecido. Tudo isso somado deixa a seleção brasileira com um poder de fogo que dificilmente será igualado no torneio. Pode não bastar para conquistar o hexa, mas aponta um caminho.
Texto em conjunto com Matheus Soares
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